Por Henrique Acker (Correspondente Internacional) – Milhares de pessoas cruzaram a pé as estradas da Espanha na sexta-feira, 1 de novembro, rumo à Comunidade de Valência. O objetivo é trabalhar voluntariamente na limpeza das cidades da região e ajudar as vítimas das chuvas torrenciais. Levam ferramentas, baldes, alimentos e água.
O equivalente a um ano de chuva caiu em algumas áreas em apenas oito horas, causando grandes inundações que devastaram cidades e bairros inteiros. A previsão da meteorologia é que as chuvas torrenciais caiam também em outras regiões (Catalunha, Andaluzia e Ilhas Baleares) até 5 de novembro.
A região Leste do país concentra o maior número de vítimas da Depressão Dana. Já são mais de 200 mortos e centenas de desaparecidos. Em muitos pontos da Comunidade Valenciana falta água potável, energia, gás e alimentos.
Devastação
Mais de 1.000 automóveis de passageiros e 175 caminhões enlameados foram retirados das estradas. Milhares de carros amontoados, mobília e eletrodomésticos obstruem as ruas das cidades.
Em algumas localidades de Valência (Paiporta, Picanya, Massanassa, Cheva e La Torre), as vias continuam alagadas e obstruídas por lama. Várias casas desabaram ou ficaram comprometidas.
Ruas e estradas foram seriamente afetadas. Muita água ficou acumulada em garagens e no subsolo de edifícios. O Ministério dos Transportes avalia que a ligação ferroviária entre Valência e a capital espanhola só deve ser restabelecida em duas semanas.
As autoridades de clima e meteorologia alertam para riscos de novas chuvas torrenciais em Valência e Catalunha. Cerca de 1000 soldados estão na região desde a terça-feira, quando a Depressão Dana causou uma precipitação calculada de 120 e 180 litros de água por metro quadrado.
Houve críticas de políticos e técnicos ao governo regional de Valência por ter eliminado a Unidade de Emergência de Valência (UVE) ao assumir em 2023. Carros frigoríficos são usados no transporte de cadáveres para um pavilhão na Feira de Valência, onde foram improvisados um depósito de corpos e uma sala de autópsias.
Chuvas torrenciais de curta duração
O fenômeno meteorológico que provoca o temporal é chamado de DANA (depressão isolada em níveis altos), também conhecida por “gota fria”. Trata-se de uma depressão isolada em níveis elevados, que resulta da colisão de uma massa de ar frio em altitude com o ar quente junto ao solo, dando origem a aguaceiros e tempestades.
Em termos simples, uma massa de ar frio que se desliga de outra maior em altitude, forma uma espécie de bolsa, descendo e chocando com ar mais quente, o que desencadeia perturbações meteorológicas.
A relação entre este episódio e o aquecimento global ainda não está clara. A Agência Meteorológica do Estado (AEMET) afirmou que “a resposta objetiva neste momento é que não sabemos”, sublinhando a necessidade de estudos detalhados que podem levar meses a serem concluídos.
“Vários estudos indicam que as chuvas estão tornando-se mais torrenciais e de curta duração. É possível que a quantidade total de chuva anual se mantenha ou até aumente um pouco, mas a distribuição ocorra em menos dias”, informa a AEMET.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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