Demissão atinge 56% das mulheres após licença-maternidade, aponta levantamento

O Dia das Mães, data criada para aquecer o comércio, cada vez mais se torna um domingo de reivindicações entre as mulheres que já têm filhos ou se preparam para adentrar à maternidade.

Razões não faltam.

Conforme informa o Valor Econômico, as  mulheres, que já ganham menos do que os homens, tendem a ser mais penalizadas pelos desafios do mercado de trabalho quando se tornam mães. Prova disso é um levantamento que aponta que 56% das profissionais já foram desligadas ou conhecem outra mulher que foi demitida após a licença-maternidade.

Segundo dados do portal Empregos.com.br, que ouviu 273 mães entre 18 e 45 anos, de acordo com o Valor Econômico,   o julgamento e o constrangimento começam antes mesmo de conseguir a vaga de emprego. Quatro em cada dez mulheres relataram que já se sentiram discriminadas em um processo seletivo ao contarem sobre a maternidade.

Tais entraves, diz a publicação, fazem muitas profissionais se questionarem se devem informar a maternidade em currículos ou no LinkedIn.

 

Novas habilidades

Na matéria, a economista Michelle Terni, da consultoria Filhos no Currículo, é enfática ao afirmar que “é importante a gente continuar mostrando os filhos no nosso currículo por que eles existem na nossa vida, e nós somos um ser integral. Pra gente trazer o nosso melhor precisamos ser reconhecidas pela nossa identidade no mercado de trabalho”, sustenta.

“Existe uma importância muito grande de mostrar para o mercado que é nesse exercício diário da criação de uma criança aprendemos muitas novas habilidades. Quando essa potência é reconhecida, conseguimos devolver todo o nosso valor para a nossa carreira”, complementa a executiva da plataforma focada em atender empresas a se para se tornarem ambientes de trabalho pró-família.

Ainda conforme Valor Econômico, se passar da fase da contratação é um desafio, conseguir o emprego não significa menos barreiras.

No levantamento, 94,5% das participantes disseram que nunca tiveram a mesma oportunidade de promoção estando grávidas ou após a licença-maternidade.

A pesquisa mostra ainda 77 dos empregadores oferecem licença-maternidade de 4 meses, previstos na CLT; 18,3% oferecem licença de 6 meses e apenas 2% oferecem mais tempo de afastamento das atividades, conforme a necessidade da mãe.

Para Tábata Silva, gerente do portal Empregos.com.br, os dados demonstram a urgência das empresas adotarem métricas para identificar quais desigualdades estão sendo acentuadas e quais são os meios de equiparar as condições de trabalho entre homens e mulheres no ambiente profissional. Programas de suporte específicos para mulheres que já são mães ou têm esse desejo, e o aumento do tempo de licença-paternidade são algumas das medidas que precisam entrar na agenda das empresas, segundo a especialista.

 

Empresas estão preparadas para receber mulheres que são mães?

Na outra ponta, a pesquisa ouviu 388 empresas de médio e pequeno, sendo 37% com mais de 100 funcionários e 12,9% de 51 até a 100 profissionais. Em termos de infraestrutura, 7% fornecem fraldário e sala de recreação, enquanto 93% não possuem nenhum tipo de ambiente.

Outros dados que chamam atenção no levantamento do portal Empregos.com.br é que, ao mesmo tempo que 62% das empresas oferecem flexibilidade de horário e formato de trabalho (híbrido ou remoto), só 16% dos empregadores dão assistência para puérperas, realizando acompanhamento médico e psicológico no retorno ao trabalho.

À frente da empresa de saúde ocupacional 4Life Prime, Alex Araujo observa que o baixo percentual de oferta de acompanhamento psicológico está relacionado a estrutura das pequenas e médias empresas, que em muitos casos nem área de Recursos Humanos têm. Além disso, a maioria dos gestores não reconhece o impacto do bem-estar mental na vida pessoal e profissional, especialmente para quem está voltando da licença-maternidade e vivendo uma grande mudança de rotina.

 

Clima organizacional

Os dados gerais da pesquisa mostram, na avaliação de Tábata Silva, que a maioria das empresas está oferecendo o mínimo necessário por lei. “Os desafios para se criar uma criança são grandes e, muitas vezes, um ato solitário. No entanto, essa responsabilidade precisa ser compartilhada entre familiares, sociedade, governo e negócios. As empresas precisam entender quais são os aspectos relevantes para a realidade de cada mãe e adotar medidas que tragam melhorias, tanto para o clima organizacional, quanto para a retenção dessas profissionais importantes desenvolvimento da empresa”.

Ambientes mais acolhedores, é claro, existem. Alguns deles, com vagas “amigas da família” e feitas para mães, estão reunidos pelo movimento Filhos no Currículo e B2mamy na plataforma Ser mãe dá trabalho, que conta com o apoio do LinkedIn Brasil. Mas, pelo menos neste Dia das Mães, essas empresas ainda são a minoria. (Foto: Reprodução)

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