Delação de Mauro Cid diz que Braga Netto era o elo entre Bolsonaro e golpistas

Ex-ajudante disse que general atualizava Bolsonaro sobre o andamento dos atos golpistas e fazia uma ligação entre o ex-presidente e integrantes dos acampamentos antidemocráticos; Ex-ministro da Defesa não se manifestou; antes, afirmou que suas idas ao Palácio da Alvorada após derrota no segundo turno se deram devido à infecção na perna do ex-presidente

 

 

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante ordens de Bolsonaro, delatou que o ex-ministro e candidato a vice na chapa do ex-presidente, o general da reserva Walter Braga Netto, atuou como a ligação entre o capitão e os golpistas que estavam acampados em frente ao Quartel General (QG), em Brasília. Mauro Cid, que assinou um acordo de delação homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que o ex-ministro da Defesa “costumava atualizar Bolsonaro sobre o andamento das manifestações golpistas e fazia um elo entre o ex-presidente e integrantes dos acampamentos antidemocráticos”.

O papel desempenhado pelo general foi descrito pelo jornal O Globo na segunda-feira 9. Ao jornal, Braga Netto disse desconhecer o teor da delação e optou por não comentar o caso. Ele havia sido convocado para um depoimento na CPMI do 8 de Janeiro, mas não será ouvido por decisão do presidente do colegiado, o deputado Arthur Maia (União). A CPMI que só se reúne no próximo dia 17 quando será apresentado e votado o relatório final.

A publicação lembra, ainda, que fotos publicadas pelo site Metrópoles mostram pessoas que estavam no acampamento de Brasília frequentado a casa onde funcionava o comitê de campanha de sua chapa com Bolsonaro. Braga Netto era quem dava expediente no local. As imagens, portanto, reforçariam a delação.A declaração de Braga Netto a golpistas em 18 de novembro também pesa contra o general. Naquele dia, ele pediu que acampados não perdessem a fé na posse de Bolsonaro, mesmo diante da derrota nas urnas.

“Presidente está bem, está recebendo gente. Vocês não percam a fé, tá bom?! É só o que eu posso falar agora”, declarou Braga Netto naquela ocasião. Ainda segundo o jornal, há registros de Braga Netto em ao menos quatro reuniões com Bolsonaro, o comando das Forças Armadas e outros ministros de confiança do ex-capitão, como Anderson Torres (Justiça) e Paulo Nogueira (Defesa).

Com base nessa delação, a Polícia Federal (PF) está levantando todas as reuniões realizadas entre Bolsonaro, Braga Netto e integrantes das Forças Armadas no fim de 2022. “Uma das informações analisadas são os registros confidenciais da agenda do ex-presidente, administrados pela Ajudância de Ordens da Presidência. A maioria desses encontros ocorreu no Palácio da Alvorada, onde o ex-chefe do Poder Executivo ficou recluso depois da derrota para Lula nas urnas”, diz o jornal.

O vice-líder do governo no Congresso, deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), defendeu a punição dos responsáveis pelos atos. “SOB SUSPEITA! A Polícia Federal está investigando se o general Braga Netto teria envolvimento e atuação nos atos golpistas do 08 de Janeiro, após delação de Mauro Cid. Seguimos acompanhando e exigindo as devidas punições aos envolvidos nos atos antidemocráticos”, escreveu o deputado na rede social X [antigo Twitter].

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP), diz que as digitais bolsonarista nos atos golpistas vão aparecendo. “Delação de Mauro Cid descreve papel de Braga Netto na trama golpista. Vale lembrar que ele pediu que acampados não perdessem a fé na posse de Bolsonaro. A cúpula bolsonarista envolvida no golpe até o pescoço. Não tem como negar”, disse o parlamentar.

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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