Degradação de rios e lagos deve comprometer 60% do PIB global, revela estudo

US$ 58 trilhões estão em risco devido à degradação desses ecossistemas. ONG mostra que, atualmente, 10% da soma de todos os bens e serviços do mundo vêm de áreas que sofrem com crise da água

 

A seca extrema e histórica que assola a Amazônia pode representar um preço muito caro para a economia global. De acordo com um relatório divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) a degradação da água e dos ecossistemas de água doce, como rios, lagos e aquíferos, já ameaça US$ 58 trilhões, o equivalente a 60% do Produto Interno Bruto (PIB) global. O relatório “O Alto Custo da Água Barata: o Verdadeiro Valor da Água e dos Ecossistemas de Água Doce para as Pessoas e para o Planeta” chama a atenção para os riscos e o alto custo que uma crise hídrica no mundo pode representar – e a seca que afeta quase o estado do Amazonas  é o exemplo mais recente.

A organização aponta que, até 2050, quase metade do PIB global pode ser produzido em áreas com alto risco hídrico. Atualmente, 10% da soma de todos os bens e serviços já vêm dessas áreas que sofrem com a crise da água. As informações foram baseadas nos benefícios econômicos diretos trazidos pela água, como o consumo por residências, agricultura e indústrias, além do transporte e da geração de energia. O valor, equivalente a 60% do PIB global, foi calculado com base em perdas diretas e indiretas provocadas pela destruição desse recurso. As diretas, como uso na industrias, nas residências, nas hidrelétricas e na agricultura somam 7,5 trilhões. Os outros 50 trilhões são compostos por prejuízos indiretos, como saúde do solo, biodiversidade e eventos extremos como secas e inundações.

Dos US$ 7,5 trilhões de benefícios diretos, US$ 5,1 trilhões são utilizados pela indústria; residências usam US$ 1,5 trilhão; a agricultura usa US$ 380 bilhões, e transporte terrestre, energia hidrelétrica e recreação, outros US$ 460 bilhões. Dos benefícios indiretos, US$ 27 bilhões são dos “serviços” da natureza, como a melhoria da qualidade da água e da saúde do solo, o fornecimento de sedimentos e nutrientes, e o armazenamento de carbono. A mitigação de eventos extremos, como secas e inundações, responde por US$ 12 trilhões, e a manutenção da biodiversidade, em terra, no mar e em água doce, US$ 11 trilhões.

A degradação de rios, lagos, zonas úmidas e aquíferos subterrâneos impacta esses valores e prejudica as ações contra as mudanças climáticas e pela preservação da natureza e o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, destaca o WWF. “Precisamos lembrar que a água não vem de uma torneira, ela vem da natureza. A água para todos depende de ecossistemas de água doce saudáveis, que também são a base da segurança alimentar, pontos críticos de biodiversidade e o melhor amortecedor e seguro contra a intensificação dos impactos climáticos”, destacou a líder do WWF para Água Doce, Stuart Orr.

Seca histórica que atinge o Estado do Amazonas diminuiu drasticamente o volume de água do Rio Negro. Foto aérea, na comunidade de Tumbira, num igarapé próximo à entrada do famoso arquipélago de Anavilhanas, mostra o leito do rio praticamente seco em dezenas de quilômetros floresta adentro, isolando os ribeirinhos. (Foto: Divulgação/MapBiomas)

 

O estado da Amazonas é o epicentro da seca severa que atinge a Amazônia. Populações ribeirinhas, indígenas, extrativistas, quilombolas e urbanas relatam dificuldades de pescar e obter água e medicamentos. O governo estadual declarou emergência e, com apoio do governo federal, envia ajuda humanitária. Dados divulgados pelo MapBiomas mostram que a Amazônia registrou em setembro deste ano a menor cobertura de água desde 2018.

Na última segunda-feira (16), data que o WWF revelou o estudo, o Rio Negro, por exemplo, registrou o nível mais baixo de toda a sua história contabilizada. Segundo dados do Porto de Manaus, o rio, que é o sétimo maior do mundo em volume de água, estava com uma vazante de somente 13,59 metros. Essa é o menor registro desde 1902, quando as medições começaram a ser realizadas. O menor registro desde então tinha sido captado em 24 de outubro de 2010.

(Foto: Reprodução)

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