Cúpula da PM do DF é presa por ação e omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro

A cúpula da Polícia Militar é acusada de negligenciar a repressão ao vandalismo contra as sedes dos Três Poderes, devido à afinidade ideológica com os terroristas bolsonaristas

 

A Polícia Federal (PF) cumpriu na manhã desta sexta-feira (18) sete mandados de prisão preventiva (sem prazo definido) e cinco de busca e apreensão direcionados a atuais e ex-membros da alta hierarquia da Polícia Militar do Distrito Federal pela omissão na atuação nos atos golpistas de 8 de janeiro. As prisões foram determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Na denúncia apresentada, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos alega que os policiais deixaram de agir para impedir as invasões e os ataques às sedes dos Três Poderes em decorrência de alinhamento ideológico com os golpistas. A denúncia mostra o desejo dos comandantes da corporação em barrar a atuação da Força Nacional, convocada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Em mensagens obtidas pelos investigadores, dois oficiais responsáveis pelo efetivo no dia da invasão aos prédios públicos admitem que vão barrar a atuação das forças federais.

Designado pelo coronel Marcelo Casimiro para comandar as tropas em campo, o Major Flávio de Alencar comenta uma matéria publicada no O Globo indicando que o Ministério da Justiça teria autorizado o emprego da Força Nacional. Alencar, por áudio, comunica a Casimiro que não irá autorizar a ajuda da Força Nacional. “Comando, vou falar logo pro senhor, viu? Se eu estiver amanhã de comandante de… Da, da manifestação, como estarei, eu não vou permitir a atuação da Força Nacional na nossa Esplanada, viu? Não vou autorizar”, disse.

Segundo o Ministério Público Federal, Casimiro responde que teria ficado acertado que a atuação da Força Nacional seria em apenas pontos distantes da Esplanada e da Praça dos Três Poderes, como a sede da Polícia Federal e no Ministério da Justiça. O major, responsável pelas tropas no dia seguinte, novamente comunicou a Marcelo Casimiro que não aceitaria a presença da Força Nacional. “Coronel, vou falar uma coisa pro senhor, Coronel. Eu não tenho medo de ninguém, não, Coronel. Se eu sou o comandante aqui da área, a área é minha. Eu não vou autorizar, não. Já vou deixar o senhor já ciente”, afirmou.

Teoria da conspiração

Em outro trecho das investigações, os coronéis Fábio Augusto Vieira e Marcelo Casimiro Vasconcelos trocaram mensagens “contendo teorias conspiratórias e golpistas”, principalmente após as eleições. Vieira era comandante-geral da PM-DF e Vasconcelos liderava o 1º Comando de Policiamento Regional da corporação, responsável pelo policiamento da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.

Dois dias antes do segundo turno, em 28 de outubro, o então número 2 da PM, atual comandante Klepter Rosa, encaminhou uma mensagem a Fábio Vieira com conteúdos falsos sobre supostas fraudes eleitorais. As mensagens encaminhadas contêm áudios atribuídos a um político, que disputou a presidência da República no pleito de 2022, “e veiculam gravações de voz editadas, não contínuas, nas quais o alegado autor teria chamado o Ministro Alexandre de Moraes de ‘advogado de facção'”, conforme a PGR.

“Nas mensagens, expressa-se que o pleito eleitoral já estaria ‘armado’ e que ‘as Forças Armadas saberiam disso’, fomentando teorias conspiratórias e antidemocráticas” sobre uma intervenção militar no país, depois do fim das eleições.

Em 1º de novembro, Casimiro envia a Fábio Vieira um quadro “explicativo” com “três alternativas à regular sucessão presidencial”. Os tópicos trazem propostas de um suposto uso das Forças Armadas para garantias dos poderes constitucionais e da lei e da ordem (tese golpista que interpreta equivocadamente o artigo 142 da Constituição), de intervenção militar e de “intervenção federal” por iniciativa militar.

“Os três conceitos foram acompanhados por explicações equivocadas e incompatíveis com a ordem constitucional”, prossegue a PGR. “Ainda em perspectiva golpista, a mensagem asseverava: ‘precisamos de uma intervenção federal, com a manutenção de Bolsonaro no poder!'”. Na sequência das mensagens encaminhadas, Casimiro escreve: “Não se procede esse entendimento, mas é interessante a explicação”.

Prisões

Entre os presos está o atual comandante-geral da PMDF, coronel Klepter Rosa Gonçalves, que era o subcomandante da corporação no início do ano e foi alçado ao novo posto durante a intervenção federal na segurança pública do DF. Além do coronel Klepter, também foram alvos da operação: Coronel Fábio Augusto Vieira, que era o comandante-geral da PMDF no dia 8 de janeiro; Coronel Paulo José Ferreira de Souza Bezerra, que comandava interinamente o Departamento de Operações no dia 8 de janeiro; Coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, que era chefe do 1º Comando de Policiamento Regional da PMDF; Tenente Rafael Pereira Martins, que trabalhou no dia 8 de janeiro; Coronel Jorge Naime, que era comandante do Departamento de Operações em 8 de janeiro, mas tirou licença do cargo em 3 de janeiro (já estava preso); Tenente Flávio Silvestre Alencar, que trabalhou no dia 8 de janeiro (já estava preso).

(Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)

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