Crise política expõe governo de direita em Israel

Henrique Acker –   A retomada da campanha militar em Gaza e o descontentamento de parte da sociedade israelense com a forma como o governo de Benjamin Netanyahu conduz as negociações para a libertação dos reféns do 7 de outubro de 2023 são alvos de manifestações de protesto nas ruas das grandes cidades de Israel nos últimos dias.

A crise política se avolumou com a demissão anunciada do chefe do Shin Bet, serviço de segurança interna do país, Ronen Bar. O gabinete ministerial de Netanyahu aprovou a medida na quinta-feira, 20 de março (leia, em anexo, a íntegra da carta de Bar ao governo).

O Shin Bet é responsável pela investigação das falhas de segurança cometidas pelo governo de Netanyahu, que ofereceram as condições para a incursão do Hamas em território controlado por Israel, com as mortes de cerca de 1.200 pessoas e o sequestro de reféns em 7 de outubro de 2023.

O mesmo Shin Bet apura responsabilidades do caso que está sendo chamado em Israel de “Qatargate”, em que assessores diretos de Netanyahu são acusados de receber grandes somas de dinheiro do Qatar para influenciar a imagem do país em Israel.

 

Dinheiro do Qatar

Eli Feldstein — ex-porta-voz do gabinete de Netanyahu — teria trabalhado para uma empresa internacional contratada pelo Qatar para melhorar a sua imagem pública. Feldstein é acusado de manter contatos com jornalistas, passando informações estrategicamente escolhidas para retratar o Qatar de forma favorável.

De acordo com o jornal Haaretz, Jonatan Urich e Yisrael Einhorn, conselheiros do chamado “núcleo duro” do gabinete do primeiro-ministro, aceitaram participar numa campanha de marketing para melhorar a reputação do Qatar antes da realização do Campeonato do Mundo de Futebol no país, em 2022.

O trabalho foi realizado pela empresa de consultoria de Einhorn, a Perception, quando já eram homens de confiança de Netanyahu e tinham trabalhado em campanhas suas.

A sucessão destas notícias gerou escândalo não só porque Israel e o Qatar não têm relações diplomáticas entre si, como o país do Golfo Pérsico é tido como um dos principais financiadores e apoiantes do Hamas.

 

Oposição quer investigação

A TV Channel 13 lançou novas suspeitas sobre o caso, ao avançar que o gabinete de Netanyahu recebeu centenas de milhares de euros provenientes do Qatar. Essas verbas teriam sido transferidas para os assessores indiretamente, através de várias empresas intermediárias, incluindo uma pertencente a Jonatan Urich.

O ex-ministro da Economia, Yair Golan, presidente do partido Os Democratas e líder da oposição, pediu publicamente a abertura de uma investigação a Benjamin Netanyahu e à sua cúpula, afirmando haver “uma suspeita de traição no gabinete do primeiro-ministro que deve ser examinada”.

“O país está em guerra e os conselheiros mais próximos do primeiro-ministro receberam ou estão a receber dinheiro de um país inimigo que financiou o Hamas. Trata-se de uma infração de segurança muito grave”, declarou Golan numa conferência de imprensa convocada devido ao escândalo.

“A questão não é apenas saber quem recebeu dinheiro, mas se até Netanyahu o recebeu. Quanto? Para quê? O que é que ele deu ou prometeu em troca? Só há dois cenários possíveis: ou Netanyahu controlava tudo o que se passava no seu gabinete, e então é responsável. Ou então não controla e não está apto a exercer o seu cargo”, concluiu Golan.

 

Suborno, fraude e quebra de confiança

Correm na Justiça israelense três processos contra Benjamin Netanyahu, envolvendo suborno, fraude e quebra de confiança.

No caso 4000, os promotores alegam que Netanyahu concedeu favores regulatórios no valor de cerca de US$ 500 milhões à empresa Bezeq Telecom Israel. Em troca, ele assegurou uma cobertura positiva de si mesmo e de sua esposa num portal de notícias controlado pelo ex-presidente da empresa.

Netanyahu também foi acusado de fraude e quebra de confiança (Caso 1000) por ele e sua esposa receberem indevidamente cerca de US$ 210 mil em presentes de Arnon Milchan, um produtor de Hollywood e cidadão israelense, e do empresário australiano James Packer. Em troca, Netanyahu teria ajudado Milchan com seus interesses comerciais.

Em outro processo, o primeiro-ministro é acusado de negociar um acordo com Arnon Mozes, dono do jornal israelense Yedioth Ahronoth, para uma cobertura mais simpática a ele e seu governo em troca de uma legislação para conter o crescimento de um jornal rival (Caso 2000).

Para tentar escapar das acusações, Netanyahu pretende avançar com uma ampla reforma do Poder Judiciário, de forma a limitar os poderes da Justiça contra membros do governo. Com este objetivo, o gabinete israelense deve votar no domingo (23/3) uma moção de desconfiança contra a procuradora-geral Gali Baharav-Miara.

A oposição israelense acusa Netanyahu de usar a crise dos reféns para se perpetuar no governo. O primeiro-ministro de direita responde a três processos na Justiça, mas o fato de o país estar em “guerra” impede a queda do governo e a realização de novas eleições.

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

………………………………….

Fontes:

AQUI     AQUI     AQUI     AQUI

Relacionados

plugins premium WordPress