Por Henrique Acker –Com a mediação do Egito, do Qatar e da administração Biden, o governo de Israel e o Hamas finalmente fecharam acordo de cessar-fogo a partir de 19 de janeiro no território palestino de Gaza. Por trás da decisão esteve a pressão de Donald Trump sobre Benjamin Netanyahu.
No entanto, na dúvida se conseguirá manter-se no cargo sem apoio de partidos ultranacionalistas de direita que ameaçam romper com o governo caso o acordo seja aprovado, o primeiro-ministro de Israel ameaça não reunir seu gabinete para dar o aval ao que foi acertado nas negociações.
Netanyahu acusa o Hamas de criar uma “crise” e tentar “extorquir concessões de última hora”. No entanto, segundo informação da Agência Reuters, o Hamas assegurou que “está comprometido com o acordo de cessar-fogo anunciado pelos mediadores” e recusou as acusações israelenses.
As três fases do acordo
Os termos do acordo são exatamente os mesmos que haviam sido propostos em maio de 2024 e aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU, aceitos pelo Hamas e rejeitados por Netanyahu naquela ocasião.
Fase 1 – Cessar-fogo inicial de seis semanas (42 dias). Durante esse período, o Hamas libertaria 33 dos reféns capturados no ataque de 7 de outubro. Entre o grupo libertado, estariam crianças, mulheres, homens acima de 50 anos, além de pessoas feridas ou doentes. Em troca, serão libertados 30 presos palestinos por cada refém civil e 50 por cada soldado israelita.
Israel retiraria seus soldados das áreas mais densamente povoadas da Faixa de Gaza, movendo-os para uma zona de segurança ao leste do território. A entrada de ajuda humanitária e de combustível seria permitida imediatamente, além do retorno organizado dos dois milhões de deslocados de Gaza para suas casas ou o que restou delas.
Fase 2 – As negociações para a segunda fase começariam 16 dias após o início do cessar-fogo. Os reféns vivos restantes — soldados homens e homens civis mais jovens — seriam libertados e os restos mortais de reféns que perderam a vida seriam enviados a Israel.
Em troca, Israel retiraria todos os seus soldados de Gaza e libertaria prisioneiros e detidos palestinos, incluindo condenados a longas penas por ataques mortais.
A fase dois envolve negociar “um fim permanente da guerra”. Se as negociações durarem mais de seis semanas (prazo da fase um), o cessar-fogo continuará.
Fase 3 – Envolve a reconstrução de Gaza, que também iniciaria no 16º dia do cessar-fogo preliminar. A reconstrução deve começar por hospitais, centros de saúde e padarias.
Ainda há um impasse sobre quem vai administrar Gaza. O governo de Israel não quer a participação do Hamas e nem da Autoridade Nacional Palestina. Aventa-se a possibilidade de uma administração formada por representações estrangeiras.
Comemorações em Gaza e Israel
Tanto em Israel quanto na Faixa de Gaza o anúncio de que o cessar-fogo passaria a vigorar no domingo, 19 de janeiro, levou à concentrações espontâneas de populares.
“Antes de mais nada, este é um momento muito intenso na história do país, depois de uma jornada muito longa, difícil e exaustiva de quase 16 meses. Este não é apenas um evento particular para nossa família. É uma celebração para todo o povo israelense”, declarou Sharon Sharabi, parente de um dos reféns israelenses, à Rádio França Internacional.
“Vamos voltar à vida. Não consigo acreditar que por fim vou ver novamente minha esposa e meus filhos, que partiram para o sul há mais de um ano”, disse Abdelrakim, morador de Gaza de 27 anos, garantindo esperar “que os deslocados sejam em breve autorizados a voltar” para suas casas.
Governantes saudaram o acordo
O emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, saudou o anúncio do acordo. “Esperamos que o anúncio de um acordo de cessar-fogo em Gaza contribua para acabar com a agressão, a destruição e a matança na Faixa de Gaza e nos territórios palestinos ocupados”, disse Tamim num post no X.
“Com este acordo, sublinho a importância de acelerar a entrada de ajuda humanitária urgente para o povo de Gaza, para enfrentar a atual situação humanitária catastrófica, sem quaisquer obstáculos, até que a paz sustentável seja alcançada através da solução de dois Estados”, disse o presidente egípcio Abdelfattah El-Sisi num post no X.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, congratulou-se com o acordo de cessar-fogo. Este acordo é crucial para a estabilidade regional. Representa um passo indispensável no caminho para a solução de dois Estados (Palestina e Israel) e uma paz justa e respeitosa com base no direito internacional.
ONU felicita sucesso das negociações
“Felicito os mediadores – Egito, Qatar e EUA – pelos seus esforços dedicados na mediação deste acordo”, saudou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em suas redes sociais. “Só através de uma solução viável que preveja a coexistência de dois Estados será possível satisfazer as aspirações de ambos os povos”, finalizou.
Por sua vez, a Anistia Internacional diz em comunicado que Israel tem de desmantelar os sistemas brutais de apartheid que impõe para dominar e oprimir os palestinos e pôr fim à ocupação ilegal dos territórios ocupados. “Só então os palestinos terão verdadeiramente motivos para celebrar”.
“Milhares de palestinos foram ilegalmente detidos e torturados sem um processo justo. Estas ações não devem ficar sem resposta – o direito e as normas internacionais devem ser aplicados universalmente, incluindo Israel, que deve ser responsabilizado pelos seus crimes de guerra, para garantir justiça às vítimas e impedir futuras violações”, acrescentou o Diretor Regional da Oxfam para o Oriente Médio. (Fotos: Reuters)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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