Crise econômica, insatisfação e instabilidade devem marcar eleição na Alemanha

Por Henrique Acker    –   Não é por acaso que as enquetes sobre a popularidade do governo do atual primeiro-ministro alemão, Olaf Scholtz, registram apenas 14% de aprovação. A economia alemã vai mal e isso se faz sentir na queda da produção industrial. Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,3% e a previsão para este ano é de um PIB negativo em 0,2%.

As diferenças internas sobre os rumos da economia foram determinantes para a queda do governo “semáforo”, uma coalizão dos social-democratas, ecologistas e liberais. A demissão do ministro das finanças , o liberal Christian Lindner, foi o estopim da crise que implodiu o governo e levou à antecipação das eleições gerais para fevereiro de 2025.

A divergência se deu em torno da proposta de orçamento para 2025. Scholtz acusou Lindner de querer preservar seu partido e a si mesmo, em detrimento das necessidades do país. Mesmo com taxas de inflação e desemprego dentro das expectativas, os alemães reclamam muito da alta do custo de vida.

 

Concorrência e guerra da Ucrânia

A Alemanha, terceira maior economia do mundo, vem enfrentando crises desde antes da pandemia. São cinco anos de uma estagnação econômica que se arrasta, aprofundada pelas consequências da guerra da Ucrânia.

Os três principais fatores para a crise são: 1) Elevado custo dos combustíveis para a indústria, sobretudo o gás, que era muito mais barato quando comprado à Rússia; 2) Altas taxas de juros do BCE, que permaneceram em 4,5% por nove meses consecutivos; 3) A concorrência com produtos chineses, sobretudo automóveis e na indústria química.

Apesar da crise, a Alemanha é o segundo país do mundo no apoio ao esforço de guerra da Ucrânia. Até novembro deste ano, a Alemanha contribuiu com 37 bilhões de euros em armas, equipamentos militares, ajuda humanitária e reconstrução daquele país.

 

Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursando no Parlamento nesta 2ª feira (16.dez) antes da votação de confiança. (Foto: AP)

 

Gás mais caro, juros altos e inflação

Dois anos se passaram da explosão dos gasodutos Nordstream 1 e 2 (que ligavam a Rússia à Alemanha) nas águas do Mar Báltico, em 26 de setembro de 2022, mas a investigação permanece emperrada.

O fato é que, em entrevista coletiva na Casa Branca, na presença de Scholtz, o presidente dos EUA, Joe Biden, declarou em janeiro de 2022 que “se a Rússia invadir (a Ucrânia), não haverá Nord Stream 2″. E concluiu dizendo: ” Vamos acabar com ele”.

A consequência do ato de sabotagem foi um aumento brutal dos preços dos combustíveis na Alemanha, sobretudo o gás, fundamental para a indústria e o aquecimento residencial, que passou a ser comprado dos EUA e outros produtores. Resultado: o impacto sobre a produção industrial se fez sentir nos preços dos produtos e na inflação.

De acordo com o portal Mobiauto, especializado no mercado automobilístico, enquanto a China vendeu 15,77 milhões de automóveis até agosto deste ano, a Alemanha negociou apenas 1,97 milhão de unidades no mesmo período. O país está em quinto lugar na venda de automóveis em todo o mundo, perdendo ainda para os EUA, Índia e Japão.

Soma-se a esses dois fatores a alta da taxa de juros (4,5%) imposta pelo Banco Central Europeu por nove meses consecutivos, sob o argumento de combater a inflação na União Europeia. As principais empresas de automóveis da indústria química alemãs já anunciaram o fechamento de fábricas no país e na Europa.

 

Governo sem maioria

Com a queda do governo, as eleições parlamentares devem ser antecipadas para 23 de fevereiro. O panorama político do país se assemelha ao quadro geral de instabilidade política da Europa: partidos políticos tradicionais enfraquecidos, uma esquerda dividida que pena para sobreviver e o crescimento da extrema-direita.

Segundo a pesquisa da ARD-Deutschlandtrend, realizada no final de outubro deste ano, 54% dos alemães concordavam com a antecipação das eleições. Mas as preferências do eleitorado indicam que todos os partidos estão longe da maioria, o que forçará uma negociação para a formação de um novo governo de coalizão.

A pesquisa aponta o favoritismo da aliança conservadora CDU/CSU, que governou o país por 16 anos antes de Scholz, com 34% das intenções de voto. A AfD (extrema-direita) tem 17% e o SPD (social-democratas) 16%. Logo atrás vêm os verdes, com 11%, e a BSW (um dos partidos de esquerda), com 6%. Os liberais do FDP, com 4%, não superariam a cláusula de barreira. Outras siglas menores somam 12%.

Na imagem destacada, funcionários entram em greve na principal fábrica da Volkswagen, em Wolfsburg ( Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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