Crime organizado já alcança mais da metade da Amazônia Legal

Relatório mostra que 59% da população da região vive em cidades com presença de facções; taxa de mortes violentas foi 45% mais alta que no resto do país

 

A Amazônia Legal é hoje um dos principais desafios de segurança pública do país. É o que revela a pesquisa inédita “Cartografias da Violência na Amazônia”, divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O documento traz dados que escancaram a alta da violência na região. Segundo o levantamento um terço dos moradores da Amazônia vivem em áreas conflagradas e em disputa por facções criminosas. São pelo menos 8,3 milhões de pessoas (31,12%) que, em suas rotinas, estão sujeitas às dinâmicas de violência extrema, como troca de tiros entre criminosos e assassinatos à luz do dia.

Mais da metade da população da região, ou 15,4 milhões de pessoas (59%), vive sob o domínio de pelo menos um desses grupos. A Amazônia Legal é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. “Na prática, temos quase 60% da população da Amazônia vivendo, de certa forma, com medo do crime organizado. É ao menos isso, né? Pode ser muito mais”, ressaltou Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os pesquisadores entrevistaram policiais, líderes comunitários, validaram e fizeram conferências desses números em campo. De acordo com o levantamento, dos 772 municípios da região, 178 têm a presença dos grupos ligados ao narcotráfico como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital(PCC) – cerca de 23%. Em 80 deles, ou 10,4%, há mais de uma organização criminosa, com disputas territoriais. O relatório mostra que pelo menos 22 facções dividem hoje o território dos nove estados da Amazônia Legal. Cada um dos 60 mil policiais militares na região seria responsável por 83 km², quase quatro vezes a média nacional, e a estrutura escassa das polícias civis dificulta a responsabilização de criminosos na Justiça.

Enquanto o desmatamento aumentou 85,3% entre 2018 e 2022 na região formada por nove estados, o comércio de madeira de lei cresceu 37,6% no mesmo período. A apreensão de cocaína por polícias estaduais saltou 194% de 2019 a 2022, com 20 toneladas apreendidas no último ano. As apreensões de armas aumentaram 91% no período. Já a movimentação de ouro indica forte atividade para legalizar quantidades extraídas ilegalmente de terras indígenas, por exemplo. O aumento no recolhimento da compensação financeira pela exploração mineral, a CEFM, foi de 294,7% na Amazônia Legal, contra 153,4% no país entre 2018 e 2022.

O material será apresentado na COP28, a conferência da ONU sobre clima, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A alta da violência, que ficou acima da média nacional, foi um dos principais reflexos da mudança na criminalidade na Amazônia Legal. São 772 municípios e cerca de 26,6 milhões de habitantes. Em 2022, a taxa de mortes violentas intencionais na região chegou a 33,8 mortes por 100 mil habitantes, 45% superior ao índice de 23,3 vítimas da média nacional. O indicador reúne os crimes de homicídios dolosos, latrocínios, lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção policial (em serviço ou não).

O combate à criminalidade também acompanhou a expansão dos crimes. Os autos de infração aplicados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) cresceram 40% entre 2018 e 2022, No ano passado, as autuações se concentraram em Pará, Rondônia e Amazonas. Já as operações da Polícia Federal para o combate a crimes de mineração na região passaram de 42 em 2018 a 221 em 2022.

(Foto: Reprodução / Comando Militar do Norte)

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