Cresce o repúdio mundial à Riviera de Trump em Gaza

A ideia dos EUA se apossarem de Gaza e construírem uma espécie de Riviera no território palestino vem sendo rechaçada por líderes de todo o Oriente Médio e de diversos outros países do mundo. O plano de Donald Trump ameaça até mesmo a possibilidade de retomada de um acordo entre países árabes de maioria sunita e Israel.

“Condenamos as declarações de Trump sobre comprar e possuir Gaza, que refletem uma profunda ignorância sobre a Palestina e a região. Gaza não é uma propriedade que possa ser comprada e vendida, é parte integrante da nossa terra Palestina ocupada”, declarou Izat al-Rishq, dirigente da ala política do Hamas.

“Tratar a questão Palestina com a mentalidade de um agente imobiliário é uma receita para o fracasso, e o nosso povo vai frustrar todos os planos de deslocamento e deportação”, acrescentou Al-Rishq.

 

Adversários e aliados contra

Líderes sunitas e xiitas, aliados e adversários dos EUA de países como o Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Irã, rejeitaram a proposta de Trump. Diversos governantes da União Europeia, o Brasil e a Austrália também condenaram a ideia. O governo egípcio convocou uma reunião de cúpula de urgência com líderes dos países árabes para 27 de fevereiro, depois de todos na região criticarem o plano americano.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito, que atua como moderador do conflito ao lado do Catar e Estados Unidos, considerou em comunicado que a ideia de Trump “enfraquece e destrói as negociações de um cessar-fogo e incita a retomada dos combates”.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Albulgueit, publicou comunicado em que condena as declarações de Benjamin Netanyahu sugerindo a criação de um Estado palestino em território da Arábia Saudita. O líder árabe afirmou que a ideia reflete “uma total desconexão com a realidade”.

“Ninguém tem o poder de expulsar o povo de Gaza da sua terra natal eterna, que existe há milhares de anos”, reagiu Recep Erdogan, presidente da Turquia, em conferência de imprensa. “Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental pertencem aos palestinos”, insistiu Erdogan.

 

Palestinos insistem em defender suas terras em Gaza

 

Só Israel apoia plano

Somente o governo de Israel vê com bons olhos a proposta de Trump para Gaza. Benjamin Netanyahu saudou o plano como “a primeira boa ideia” que ouviu sobre o pós-guerra no território devastado.

O governo de Tel Aviv ordenou na quinta-feira (6 de fevereiro) que o Exército comece a preparar um projeto para a saída dos moradores da Faixa de Gaza, alinhado com a ideia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de deslocar a população do território palestino.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou “o direito dos palestinos a viver em sua própria terra” e fez um alerta contra “qualquer forma de limpeza étnica”. Atualmente, os quase 2,4 milhões de habitantes de Gaza não podem deixar o território cercado por Israel.

 

Trump reafirma proposta

Após uma avalanche de críticas internacionais, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarou na quarta-feira (5 de fevereiro) que qualquer transferência de moradores de Gaza seria temporária.

No entanto, desmentindo a versão de seu secretário de Estado, o próprio Trump foi taxativo em entrevista a um repórter da Fox News que o perguntou se os palestinos teriam o “direito de retorno” às suas terras. Trump respondeu: “Não, não teriam, porque terão alojamentos muito melhores”. “Por outras palavras, estou falando de construir um lugar permanente para eles”, acrescentou.

“Estou empenhado em comprar e ser proprietário de Gaza. No que diz respeito à nossa reconstrução, podemos dar a outros Estados do Médio Oriente a possibilidade de construírem partes do enclave”.

 

Tudo em família

A família do presidente dos EUA, representada por seu filho e seu genro, tem negócios na região e o jornal New York Times anunciou o interesse da marca Trump em se expandir. A Casa Branca negou que vá assumir os custos desse empreendimento, que seria dividido entre parceiros dos EUA.

Segundo reportagem assinada por Eric Lipton em 5 de fevereiro, o Oriente Médio se tornou nos últimos três anos o ponto mais quente para a família Trump em termos de novos negócios imobiliários internacionais.

“A maioria deles são os chamados negócios de branding, que coletivamente rendem à família dezenas de milhões de dólares em taxas em troca do direito de usar o nome para ajudar a impulsionar as vendas de condomínios de luxo, golfe ou hotéis”, informou Lipton.

 

Relações abaladas

Marco Rubio está procura contornar a repercussão negativa que as declarações de Trump causaram ao governo dos EUA, sobretudo com os países do Oriente Médio, em especial com a Arábia Saudita, seu principal aliado entre os árabes.

A diplomacia saudita reagiu com veemência, dizendo que descarta qualquer normalização sem a criação de um Estado palestino e descrevendo sua posição como “inabalável”. Ela também reafirmou “sua rejeição categórica” ​​a qualquer “deslocamento forçado de palestinos”.

“Se fizer disso sua política, ele fechará a porta para o reconhecimento saudita de Israel”, disse à AFP James Dorsey, pesquisador do Instituto do Oriente Médio da Universidade Nacional de Cingapura.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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