O requerimento de convocação, de autoria dos deputados Rogério Correia (PT-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), foi aprovado na sessão desta quinta-feira (3). Convocação irrita a oposição, que revida com requerimento para comparecimento do fotógrafo que registrou depredações.
A Comissão Parlamentar Mista que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro aprovou, na quinta-feira (3), a convocação do hacker Walter Delgatti Neto, preso na terça-feira (1), suspeito de invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro de ter interesse sobre a eventual invasão das urnas eletrônicas. A solicitação foi feita pela relatora do colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e pelos deputados Duarte Junior (PSB-MA), Rogério Correia (PT-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). A convocação de Delgatti fez com que a oposição tumultuasse a sessão.
A senadora justificou que o depoimento é “fundamental para a investigação” e poderá ajudar a esclarecer suas “ligações perigosas” com a deputada Carla Zambelli e o ex-presidente Bolsonaro. Por intermediação de Zambelli, ele contou à PF que se reuniu com Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, para tratar do sistema das urnas eletrônicas nas eleições de 2022. A parlamentar nega a acusação e diz que Delgatti foi contratado por ela para cuidar do site e das redes sociais que mantêm.
A CPI também convocou o fotógrafo Adriano Machado, da agência de notícias Reuters, que registrou o vandalismo bolsonarista em 8 de janeiro. Dessa vez, foi a base governista que se irritou e disse que chamá-lo fere a liberdade de imprensa. “O que o jornalista estava fazendo era tirando fotos. Não quebrou nada, não fez absolutamente nada — tirou fotos. O ângulo que ele queria para as fotos. Se tinha gente, terrorista, lá dentro, querendo quebrar as coisas e ser fotografado, é um problema dessas pessoas. Esses deviam ser chamados, e não o fotógrafo”, disse a relatora.
A aprovação do requerimento foi criticada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Adriano é acusado pelos parlamentares bolsonaristas de agir de forma combinada com os extremistas que depredaram as sedes dos Três Poderes. Também foram convocadas Marcela Pinno e Cintia Queiroz de Castro, integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal, além de Luiz Marcos dos Reis, que trabalhava diretamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A CPMI ainda aprovou a quebra de sigilo telefônico e telemático de Anderson Torres, ex-ministro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, além da quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de mensagens do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mensagens encontradas pela Polícia Federal (PF) no celular do militar mostraram conversas com o coronel Jean Lawand Júnior sobre um golpe de Estado depois das eleições de 2022. A CPI quer saber, ainda, sobre a identificação, feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, de uma movimentação de R$ 3,2 milhões nas contas de Cid em seis meses, considerada “atípica” e “incompatível” pelo Coaf.
Anderson Torres deverá prestar depoimento à CPMI na próxima terça-feira. Os parlamentares pediram acesso à íntegra da minuta golpista encontrada na residência dele durante uma operação da PF. Ao Correio, a defesa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública afirmou que ele atenderá com “respeito e consideração” ao colegiado e comparecerá ao depoimento.
(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)