COP-30 : Assentamentos rurais de Belém passam a integrar comitê  do Fórum de Mudanças Climática

Belém –  Os assentamentos rurais Mártires de Abril, Paulo Fonteles e Elisabete Teixeira, vinculados ao Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), passaram a integrar o comitê do Fórum Municipal de Mudanças Climáticas no distrito de Mosqueiro.

O comitê tem a missão de coordenar as ações do processo de escuta das comunidades da bucólica na junção de propostas ao Plano Municipal e à Conferência Municipal de Adaptações às Mudanças Climáticas, eventos marcados para os meses de abril e junho, em Belém do Pará, em preparação à COP-30.

A adesão da representação dos assentamentos foi anunciada, após plenária realizada no último final de semana na área do assentamento Mártires de Abril, localizado na estrada BL 13- de acesso a Baia do Sol, que reuniu dezenas de participantes.

O coordenador do assentamento Mártires de Abril, Antônio Agnor, descreveu a ação como um momento histórico. “Esse diálogo é histórico e nós estamos muito felizes em participar do comitê do distrito de Mosqueiro na etapa de construção do Plano Municipal de Mudanças Climáticas”, disse o coordenador.

 

Produção sustentável

Os três assentamentos rurais de Mosqueiro têm mais de dez anos de atividades. Juntos, representam grande percentual do território da ilha com preservação de área verde e produção de alimentos da agricultura familiar.

No assentamento Paulo Fonteles, por exemplo, existem duas reservas florestais legalizadas e preservadas.

Além dos alimentos, os assentamentos produzem anualmente sessenta mil mudas de espécies alimentícias, da medicina popular e ornamentação. A produção é doada a quem se interessa em manter viva a cultura da preservação ambiental, de áreas verdes que ajudam na alimentação e também no clima.

Durante o evento, foram comercializados produtos da agricultura familiar como cupuaçu, mandioca, tucupi, limão, abóbora, maniva (produto da base da maniçoba que é prato típico amazônico) e o ingá-cipó, fruta nativa da ilha. O café servido aos visitantes foi à base de macaxeira cozida e a tradicional tapioquinha de Mosqueiro.

 

Mística

A plenária dos assentamentos foi aberta com ritual místico de canto, poesia e oferendas de produtos à “mãe terra”, em momento de forte emoção para quem vive no local e preserva o ideal de defender e transformar os territórios de pouco uso em grandes áreas de produção de alimentos e vida mais saudável.

 

O assentamento Mártires de Abril foi instalado em área acima de 800 hectares da antiga Fazenda da Taba, que cultivava a monocultura do coco e, hoje, abriga quase mil famílias que cultivam variadas espécies de açaí, banana, mandioca, abóbora entre outros produtos da cadeia alimentar “in natura”. “Também já estamos contando com a Associação de Mulheres Agricultoras dos Assentamentos, um grande avanço para nossa comunidade”, destacou Antônio Agnor, coordenador do assentamento.

No Mártires de Abril, que irá completar 25 anos no próximo dia 3 de maio, o evento contou com participação do presidente da Comissão de Defesa Civil Municipal, Claudionor Corrêa, que destacou a importância do Fórum, considerando a urgência das medidas que visam reduzir os impactos do aquecimento global gerado pelo uso excessivo do combustível fóssil, responsável pela emissão dos gases de efeito estufa.

“A mudança climática é real, por isso, a Prefeitura de Belém tomou essa iniciativa de elaborar o plano de adaptação e a Defesa Civil é parceira e está aberta ao diálogo, pois, também estamos construindo um plano de ações preventivas contra desastres naturais e deixamos o convite para participação dos assentamentos”, disse Claudionor Corrêa.

O professor Marco Carrera, da Universidade Livre da Amazônia, vinculada à Secretaria Municipal de Administração (Ulam/Semad), também destacou a importância da participação da comunidade na elaboração das propostas do Plano Municipal e da Conferência de Adaptações às Mudanças Climáticas. “Estamos aqui para ouvi-los sobre suas realidades e necessidades”, disse Carrera, que considerou bastante produtiva a plenária. “Foi um evento exitoso e muito participativo”, completou.

O professor Waldomiro Chaves Machado fez a palestra de abertura destacando os contextos da legislação ambiental, histórico e sociais. Já Deuziane Duarte, do assentamento Paulo Fonteles, destacou a necessidade de investimentos para educação de jovens. Segundo ela, os jovens estão prontos e com formação em nível superior, mas precisam de apoio para aplicar seus conhecimentos acadêmicos em prol da melhoria dos assentamentos. (Texto: Selma Amaral  /  Foto: Comus)

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