Conheça o ex-comandante da Marinha  que teria aceitado dar golpe militar

Em sua delação premiada à Polícia Federal (PF), o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid relatou que, em uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições do ano passado, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, demonstrou disposição em participar de um golpe de Estado.

A reunião em que Bolsonaro teria discutido um plano de golpe para não deixar o poder com a cúpula das Forças Armadas foi revelada primeiramente por O Globo e UOL e confirmada pela CNN.

Segundo fontes com acesso à investigação, Cid detalhou duas situações. Em uma delas, cita que Bolsonaro recebeu em mãos uma minuta golpista. Em outro momento, o ex-ajudante de ordens detalha a reunião com a cúpula militar.

No encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar.

A resposta da cúpula da Marinha, ainda segundo Mauro Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.

 

Quem é Almir Garnier

O almirante da reserva Almir Garnier Santos foi o segundo comandante da Marinha durante o governo de Bolsonaro.

Ele assumiu o posto, em abril de 2021, no lugar de Ilques Barbosa Júnior, demitido em março daquele ano após uma troca no comando do Ministério da Defesa, que passou às mãos do general Walter Braga Netto.

O carioca Almir Garnier, que completa 63 anos nesta sexta-feira (22), ingressou na Escola Naval em 1978, iniciando sua carreira na Marinha. Nos anos 1980, serviu a bordo de navios da Esquadra brasileira. A partir de 1991, fez mestrado em uma escola da Marinha dos EUA e, ao retornar, serviu em funções técnicas por cerca de dez anos.

“Em 31 de março de 2010 foi promovido ao posto de Contra-Almirante, em 31 de março de 2014 ao posto de Vice-Almirante e em 25 de novembro de 2018 ao posto de Almirante de Esquadra”, afirma sua biografia que constava no site da Marinha.

Garnier trabalhou por mais de dois anos e meio como “assessor especial militar” no Ministério da Defesa durante os governos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Michel Temer (MDB), tendo servido aos ministros Celso Amorim (jun./2014 – dez./2014), Jaques Wagner (jan./2015 – out./2015), Aldo Rebelo (out./2015 – mai./2016) e Raul Jungmann (mai./2016 – nov./2018).

Com a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, o almirante Almir Garnier assumiu o cargo de secretário-geral do Ministério da Defesa, órgão do Ministério considerado “o principal ponto de interlocução com os demais órgãos públicos”.

Em 31 de março de 2021, foi indicado por Bolsonaro para assumir o cargo de comandante da Marinha.

Em maio de 2022, cinco meses antes das eleições, Garnier questionou a segurança das urnas eletrônicas e defendeu uma auditoria privada, em entrevista ao jornal O Povo.

“Como comandante da Marinha, eu quero que os brasileiros tenham certeza de que o voto deles vai valer, de que quem eles colocarem na urna vai ser contado e quem eles escolherem de uma forma limpa, transparente, como demanda a Constituição Federal e as leis nacionais, serão validados”, disse o então comandante da Marinha.

“Não quero ver o meu povo brigando entre si por dúvidas. Então, mais transparência, quanto mais auditoria, melhor para o Brasil, porque nós teremos muito mais certeza do resultado e toda a vida nacional seguirá com mais calma”, acrescentou.

“O presidente tem feito críticas [às urnas eletrônicas], mas não é só o presidente que faz crítica, muita gente faz críticas às urnas há muito tempo. O presidente da República é o meu chefe, é o meu comandante, ele tem o direito de dizer o que quiser”, concluiu.

No dia anterior e no dia do segundo turno das eleições, 29 e 30 de outubro do ano passado, Garnier fez publicações em suas redes sociais com a seguinte legenda: “Parafraseando o grande Almirante Barroso, comandante em chefe da esquadra brasileira no momento mais crítico da guerra da tríplice aliança, digo-lhes: nunca parem de lutar!”

Ao ser substituído no cargo com o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Garnier não participou da cerimônia de posse de seu sucessor, o almirante Marcos Sampaio Olsen. Foi a primeira vez na história que uma troca de comando acontece na Marinha sem a presença do antecessor. (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

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