Congresso derruba vetos de Lula e volta a restringir ‘saidinha’ de presos

Presidente tinha sancionado a maior parte do projeto, mas vetou trecho sobre visita a familiares. Governo trabalhou por duas semanas para reverter cenário mas não conseguiu impedir derrota

 

O Congresso Nacional, em sessão conjunta com deputados federais e senadores, derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um trecho do projeto que acaba com as saídas temporárias de presos em feriados, as chamadas “saidinhas”. A decisão de Lula de barrar o ponto central da proposta provocou insatisfação entre os líderes partidários. Até mesmo o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegou a sinalizar que o Congresso não concordaria com um veto, assim como outros congressistas.

Esta foi mais uma derrota do governo federal na sessão desta terça-feira (28). Na votação anterior, o governo foi derrotado ao tentar derrubar veto de Jair Bolsonaro que dificulta punição à disseminação de fake news. Na semana, temendo uma nova derrota, o governo aumentou a ofensiva na tentativa de manter a decisão do chefe do Executivo. O movimento incluiu um aceno à oposição sobre punição à disseminação de fake news, conversas corpo a corpo com a bancada evangélica e a atuação de ministros.

Na votação da Câmara, os partidos União Brasil, PP, PSDB, Cidadania, PDT, Avante, Solidariedade, PRD, PL foram contra o veto. O Republicanos, MDB, PSD, Podemos liberaram suas bancadas e PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL e Rede foram favoráveis. O placar dos deputados foi de 314 votos pela derrubada do veto e 126 pela manutenção.

Os ministros da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, procuraram líderes partidários para convencê-los a não derrubar o veto. Um dos argumentos usados por articuladores de Lula é que esse segmento tem papel fundamental na ressocialização de presos, processo que inclui as visitas a familiares em datas comemorativas.

A aprovação do projeto teve protagonismo de personagens ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No Senado, o texto foi relatado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, e na Câmara por Guilherme Derrite (PL-SP), que é secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo. Derrite é auxiliar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro.

Mesmo sendo uma demanda da oposição, a bancada do PT no Senado votou em peso a favor do projeto, com exceção do senador Rogério Carvalho (PT-SE). Apesar de a Câmara não ter registrado nominalmente os votos, deputados do PT também tinham se comprometido a votar a favor. Ao vetar, Lula faz um aceno à base de esquerda, historicamente contrária ao endurecimento penal, e um gesto de apoio ao ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.

Mesmo com a tendência de derrubada do veto, Lula defendeu a manutenção do veto em algumas ocasiões, como durante um encontro com jornalistas em abril deste ano. “A família quer ver o cara que tá preso. Então, eu segui a orientação do Ministério da Justiça e vetei. Vamos ver o que que vai acontecer se o Senado derrubar, ou melhor, se o Congresso derrubar. É um problema do Congresso. Eu posso lamentar, mas eu tenho que acatar, tá?”, afirmou Lula no dia.

Policiais civis

Parlamentares também decidiram manter o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um dispositivo da Lei Orgânica Nacional das Polícias Civil que previa a aposentadoria integral de profissionais da área. O texto, que tramitava no Congresso Nacional há 16 anos, foi aprovado em outubro do ano passado. O projeto concederia aos policiais civis o direito a se aposentar com a totalidade da remuneração recebida no seu último cargo e de receber reajustes em paridade com os policiais da ativa. O trecho também foi vetado por Lula, sob o argumento de inconstitucionalidade por atribuir ao Estado a definição do valor inicial dos proventos e a sua revisão periódica.

(Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

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