Henrique Acker (correspondente internacional) – Um conflito entre Israel e o Irã teria o poder de incendiar o Oriente Médio? Até que ponto uma nova guerra naquela parte do Planeta pode representar um risco para a humanidade? Difícil responder a essas questões, mas o fato é que tanto Israel quanto o Irã – as duas maiores potências militares da região – têm estruturas que permitem a fabricação e uso de armas nucleares.
O bombardeio e destruição da embaixada iraniana em Damasco (Síria) por Israel, respondido com a chuva de drones e mísseis iranianos sobre o território israelense, em 13 de abril, é uma evidência da escalada perigosa do conflito entre os dois países.
O governo Netanyahu, que está sob pressão em seu país e só tem a ganhar com a generalização do confronto, já advertiu que vai retaliar o bombardeio iraniano. Teerã, por sua vez, alerta que, caso isso aconteça, um novo ataque de proporções muito maiores deverá ser lançado sobre Israel.
Programas pouco transparentes
O programa nuclear iraniano foi desenvolvido com apoio dos EUA a partir do final dos anos 50, quando o governo do país ainda estava nas mãos da monarquia do Xá Reza Pahlevi, aliada a Washington.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), desde o fracasso do acordo nuclear de 2015 – que regulava o programa nuclear de Teerã em troca do levantamento das sanções internacionais ao país -, após mudanças no governo dos Estados Unidos em 2019 (governo Trump), o Irã aumenta a produção de urânio enriquecido para níveis próximos daqueles necessários para uma arma nuclear.
Já o programa nuclear isralense, sobre o qual pouco se sabe, é menos transparente ainda. O país sequer aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, em vigor desde 1968. Um ex-técnico israelense que delatou o programa nuclear e foi preso por 18 anos, acusado de traição, afirma que o país possui entre 100 e 200 ogivas nucleares. Analistas do setor acreditam que Israel teria cerca de 90 armamentos nucleares.
Instrumento de dissuasão
O recurso aos arsenais nucleares – que são usados como instrumento de dissuasão na política internacional – depende exclusivamente dos governantes de países que os detêm. No caso do Oriente Médio, a julgar pelos dirigentes e forças políticas envolvidas direta ou indiretamente no conflito, o risco não é desprezível.
O governo de extrema-direita de Netanyahu e fanáticos sionistas já deu provas de que não se submete sequer aos pedidos de prudência por parte da Casa Branca. Ao contrário, segue massacrando o povo palestino em Gaza, diante da indignação da comunidade internacional e dos apelos de cessar-fogo da ONU.
A ofensiva do Hamas, em 7 de outubro, não contou com o apoio do Irã, demonstrando que os grupos jihadistas não tomam a benção de Teerã para fazerem sua política. Hamas, Jihad Islâmica, Hezbollah e Houtis estão diretamente envolvidos no conflito com Israel, desde a invasão à Faixa de Gaza.
Riscos na Ucrânia
Por sorte ou precaução, os acordos que incluíram o fim da URSS e a independência da Ucrânia resultaram na entrega do arsenal atômico ucraniano aos russos. Caso contrário, a ameaça nuclear também estaria em causa, a partir da invasão russa, em 2022.
Ainda assim, a usina nuclear de Zaporija (a maior do país) tem sido alvo de ataques, antes dos russos, agora dos próprios ucranianos. Mas a Ucrânia ainda detêm outras quatro centrais nucleares para produção de energia. A AIEA vem alertando os dois lados para os riscos de um bombardeio das instalações das usinas nucleares, e seus efeitos dramáticos para a população civil em tempo de guerra.
É evidente que a decisão de recorrer ao uso de armas nucleares requer uma situação extremada, de elevado risco. Mas isso também depende da interpretação de quem detém o poder econômico e político de decisão das nações mais ricas.
Cenário internacional preocupante
Com raras exceções, as grandes potências nucleares (Rússia, EUA, França, China e Reino Unido) vem sendo governadas nos últimos tempos por grupos políticos cada vez mais radicalizados, comprometidos com o grande capital.
As engrenagens do sistema financeiro e do capital especulativo, que marginalizam o grosso da humanidade e privilegiam a concentração da riqueza nas mãos de grandes acionistas, levam a humanidade para uma crise global sem precedentes. Não há mais qualquer respeito aos organismos de mediação de conflitos. As recomendações da ONU são ignoradas.
O crescimento de partidos e grupos de extrema-direita, o uso indiscriminado de redes de divulgação de notícias falsas, espalhando mentiras e pânico, o apelo ao discurso ultranacionalista e discriminatório, criam um cenário para o avanço do neofascismo.
Não se pode descartar um cenário internacional que evolua de guerras locais e regionais para um
confronto generalizado nos próximos anos. Nessas condições, o risco do uso de artefatos nucleares seria eminente, e com ele a ameaça à existência da própria humanidade.
Países com maior número de armas nucleares
As informações a seguir são da Iniciativa de Ameaça Nuclear e listam os países com o maior número de armas nucleares confirmadas.
1° – Rússia
A Rússia possui 1.822 ogivas implantadas e 521 mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis balísticos lançados por submarinos (SLBMs) e ogivas destinadas a bombardeiros pesados. Se também forem contabilizadas as ogivas não implantadas, armazenadas ou aguardando desmantelamento, o arsenal total chegaria a 5.580 armas.
2° – Estados Unidos
Os EUA possuem 1.679 ogivas implantadas. Se também forem contabilizadas as ogivas não implantadas, armazenadas ou aguardando desmantelamento, o arsenal total chegaria a 5.328 armas.
3° – China
A China possui 500 ogivas e aproximadamente 134 mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) com capacidade nuclear.
4° – França
A França possui aproximadamente 290 ogivas nucleares.
5° – Reino Unido
O Reino Unido possui aproximadamente 225 ogivas nucleares.
6° – Paquistão
O Paquistão possui cerca de 170 ogivas nucleares.
7° – Índia
A Índia possui aproximadamente 160 ogivas nucleares.
Países com armas nucleares não confirmadas
Israel
Especialistas suspeitam que Israel tenha cerca de 90 armas nucleares.
Coreia do Norte
Calcula-se que o país tenha entre 35 e 65 ogivas nucleares. Em 2022, a Coreia do Norte aprovou uma nova lei em que se declara um Estado com armas nucleares.
Irã
Após 20 meses de negociações, em 2015 os negociadores finalizaram um acordo nuclear histórico entre o Irã, os Estados Unidos e cinco outros países. A medida é válida por 15 anos, e exige que o país reduza as suas centrifugadoras em dois terços. Também proíbe o enriquecimento em instalações importantes.
Assim, o Irã teria alívio das sanções econômicas e permissão para continuar o seu programa nuclear pacífico. No entanto, em 2018, o então presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos se retirariam oficialmente do acordo nuclear com o Irã.
País que tem capacidade para fabricar armas nucleares
Japão
Em 2006, o ministro das Relações Exteriores do Japão afirmou que o país tinha capacidade para produzir armas nucleares, mas não tinha planos para fazê-lo. (Foto: REUTERS)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
https://www.iaea.org/resources/databases/nuclear-data-services (Relatório 2022)
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59491973
https://ensina.rtp.pt/artigo/o-tratado-de-nao-proliferacao-de-armas-nucleares/