Por Henrique Acker – Um conflito atravessado por massacres, que já provocou duas guerras e é marcado pela disputa de um território, a Caxemira. Essa é a herança do colonialismo britânico na Índia, que durou até 1947, quando a Grã-Bretanha foi forçada a recuar de seu Império colonial, deixando para trás um território dividido entre hindus (Índia) e muçulmanos (Paquistão).
Recentemente, no final de abril, 28 turistas indianos foram mortos numa localidade da Caxemira indiana por grupos muçulmanos radicalizados, reacendendo o conflito de décadas. O governo da Índia acusou o Paquistão de apoiar o ataque, o que foi negado por Islamabad.
Risco de um novo conflito
O massacre contra os turistas indianos foi reivindicado por um grupo militante muçulmano – chamado Resistência de Caxemira – que a Índia diz ser também conhecido como A Frente de Resistência.
Em resposta, o exército indiano lançou ataques em alguns pontos do território paquistanês na madrugada de quarta-feira, 7 de maio.
O governo do Paquistão classificou a iniciativa indiana como um “ato de guerra”, afirmando que 26 pessoas foram mortas e 46 ficaram feridas nos ataques aéreos indianos e nos disparos ao longo da fronteira.
Pouco depois dos ataques indianos, três aldeias na Caxemira controlada pela Índia foram bombardeadas por aviões. O receio do governo paquistanês é que a Índia corte o fornecimento de água dos rios que desaguam no território do Paquistão.
Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, confirmou a suspensão da participação de seu país no tratado de 1960, que determina a partilha da água de três rios com o Paquistão. Além de atingir o abastecimento da população do Punjab, região de fronteira com a Índia, se a decisão indiana for confirmada, pode afetar seriamente a produção agrícola do país.
Alarme global
Em resposta ao ataque aos turistas indianos, o governo da Índia anunciou ter destruído infraestruturas que seriam utilizadas por militantes do grupo responsável pelo massacre. Em resposta, o Paquistão afirmou ter abatido aviões da força aérea indiana, tendo três aviões caído sobre aldeias na Caxemira controlada pela Índia.
O exército indiano informou que, pelo menos, 15 civis morreram e 43 ficaram feridos nos disparos cruzados do seu lado da fronteira. Do lado paquistanês, além das vítimas fatais, duas mesquitas foram atingidas por mísseis, em Bahawalpur e Muridke, localidades em que operavam dois grupos muçulmanos já proibidos no país.
A Índia e o Paquistão são nações que possuem armas nucleares, um fator que aumenta o alarme global sempre que há uma escalada na disputa pela Caxemira. O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) estima que o Paquistão e a Índia possuem, cada um, cerca de 170 ogivas nucleares.
Além do secretário-geral da ONU, que pediu cautela aos dois lados, os governos da Rússia, China e dos EUA também manifestaram preocupação com o avanço do conflito entre Índia e Paquistão.
Resultado de decisões arbitrárias
Ao final da II Guerra Mundial, a Grã-Bretanha já não tinha mais condições econômicas e políticas para se sustentar como um império colonial, que chegou a fincar raízes nos cinco continentes. Assim como se retirou do Oriente Médio, deixando para trás a disputa pela Palestina entre judeus sionistas e palestinos, o governo britânico anunciou sua saída da Índia em 1947.
A devolução do território acabou por atender a pressões e disputas entre hindus e muçulmanos, que representavam 25% da população. A solução encontrada foi a formação de dois países: Índia e Paquistão, a noroeste do território. Entre os dois, um território em disputa até hoje, a Caxemira.
A formação de dois estados levou ao acirramento de disputas sectárias, entre milícias nacionalistas indianas e grupos armados muçulmanos. A divisão obrigou ao deslocamento de milhões de pessoas parte a parte, tanto de hindus em direção à Índia, quanto de muçulmanos para o Paquistão. Agravaram-se os conflitos entre os dois lados, com centenas de milhares de vítimas (admite-se o total de 1 milhão de mortos).
Índia e Paquistão travaram duas guerras (1947-1948 e 1965) e também entraram em confronto na crise de 1999, na Caxemira. Além da disputa pela Caxemira, os dois países também se enfrentaram em 1971, quando a Índia interveio para apoiar o Paquistão Oriental (agora Bangladesh) na guerra de independência contra o Paquistão.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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