Confira quem são os 11 aliados de Bolsonaro indiciados pela PF e o papel deles no caso das joias

Inquérito da Polícia Federal enquadrou figuras próximas ao ex-titular do Palácio do Planalto. Lista inclui advogados, ex-chefe da Receita e ex-ministro

 

A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (4) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 11 pessoas no inquérito por desvio de joias do acervo presidencial. Além do ex-presidente Jair Bolsonaro, a lista inclui nomes como o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cesar Barbosa Cid, e outros militares e ex-assessores próximos a ele.

A operação investiga se Bolsonaro e ex-assessores se apropriaram indevidamente de joias milionárias entregues como presente quando era presidente do Brasil. O ex-presidente foi indiciado por peculato (apropriação de bens públicos), associação criminosa e lavagem de dinheiro. Todos os demais são indiciados por associação criminosa, além de outros crimes.

 

Confira a seguir os demais indiciados:

Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, indiciado por peculato e associação criminosa. A apuração da PF teve início com a notícia de que um ex-assessor do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou entrar no país com um conjunto de joias sauditas dado como presente à então primeira-dama Michelle Bolsonaro sem declará-los à Receita. O kit da marca Chopard era composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes, e foi avaliado por peritos da PF em R$ 5 milhões.

Além disso, Albuquerque manteve por mais de um ano, em um cofre do ministério, uma segunda caixa de joias entregue pelo governo da Arábia Saudita e destinada a Bolsonaro em um cofre do ministério. O material entrou no Brasil em 2021, pelas mãos do ex-ministro, sem ser declarado, e só foi registrado no acervo da Presidência da República em novembro de 2022, após as eleições presidenciais.

 

José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia, indiciado por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Ele foi um dos primeiros servidores a se empenhar na mobilização para reaver as joias que haviam sido retidas pela Receita. Segundo a investigação, Bueno enviou um ofício à Receita para reaver joias.

 

Julio César Vieira Gomes, auditor-fiscal e ex-secretário da Receita indiciado por peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia administrativa. Gomes assinou um ofício para autorizar os auditores a liberar os itens de luxo que estavam retidos no aeroporto.

 

Marcelo da Silva Vieira, chefe do gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República no mandato de Bolsonaro, indiciado por peculato e associação criminosa. Ele foi alvo de buscas da polícia em maio do ano passado, ocasião em que o seu celular foi apreendido. Na investigação, a PF entendeu que Vieira atuou com Bolsonaro, Cid e Crivelatti para ocultar a origem, localização e propriedades dos recursos decorrentes da venda dos bens desviados do acervo da União; ou agiu junto com o grupo para desviar, em proveito do ex-presidente, presentes “por ele recebidos em razão de seu cargo, ou por autoridades brasileiras em seu nome, entregues por autoridades estrangeiras”.

Em depoimento no ano passado, Vieira contou que Bolsonaro participou de um telefonema sobre um ofício de Cid para tentar recuperar as joias sauditas apreendidas pela Receita Federal.

 

Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, indiciado por lavagem de dinheiro. A PF identificou mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o coronel Marcelo Costa Câmara, outro assessor do então presidente Jair Bolsonaro, na qual eles debatiam restrições à comercialização das joias. Segundo as mensagens, Câmara observou a Cid que seria “o problema é explicar depois para onde foi”, referindo-se às joias, que deveriam ser destinadas ao acervo da Presidência.

 

Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque, indiciado por peculato e associação criminosa. Soeiro carregou na mochila o kit da marca Chopard, que seria destinado a Michelle Bolsonaro, e foi retido no aeroporto na chegada ao Brasil, ao retornar da Arábia Saudita.

 

Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, indiciado por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O militar foi preso em maio do ano passado durante operação que apurava fraude em cartões de vacina. Meses depois, firmou um acordo de delação premiada homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e foi solto.

Conforme as investigações, Mauro Cid foi o responsável por levar aos Estados Unidos e vender parte das joias presenteadas a Bolsonaro. Os objetos deveriam ter sido incorporados ao patrimônio da União, mas Mauro Cid, na condição de ajudante de ordens, tentou reavê-los até os últimos dias do governo. O advogado de Cid, Cezar Bitencourt, já deu algumas versões do cliente sobre a venda de joias. Em uma das últimas, afirmou que o militar vendeu o Rolex a pedido de Bolsonaro e que o pagamento do relógio foi entregue ao ex-presidente ou à primeira-dama.

 

Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva do Exército, indiciado por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Pai do ex-ajudante de ordens, Mauro Cesar Lourena Cid foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), escola de formação dos oficiais do Exército. No governo Bolsonaro, ele foi chefe da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami. No inquérito, a polícia identificou que o general tentou vender esculturas recebidas por Bolsonaro como presente em lojas nos Estados Unidos. Os objetos foram transportados em uma mala no avião presidencial no fim de 2022, quando o ex-presidente deixou o Brasil.

No país, o general encaminhou, de acordo com a PF, os itens para estabelecimentos especializados em avaliação para a cotação para venda. Segundo o inquérito, o general ajudou na venda de um relógio Rolex, produzido em ouro branco e diamantes, avaliado em US$ 60 mil.

 

Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-secretário de Comunicação, indiciado por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Segundo o inquérito, ele também atuou na tentativa de reaver as joias após o caso vir à tona, no início de 2023. Hoje advogado de Bolsonaro, ele foi chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo do ex-presidente e secretário-executivo do Ministério das Comunicações.

 

Frederick Wassef, advogado do ex-presidente, indiciado por lavagem de dinheiro e associação criminosa. O advogado foi amplamente citado no noticiário nacional depois que escondeu o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, em sua casa em Atibaia (SP). Queiroz foi preso no local em 2020 no âmbito de uma investigação do Ministério Público do RJ sobre um suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do estado na época em que Flávio era deputado estadual.

No caso das joias, segundo a investigação da PF, o advogado atuou na tentativa de recomprar o material que havia sido enviado aos EUA. A movimentação ocorreu no início de 2023, após o caso vir a público. A PF apontou que, além de ajudar a vender, o general Mauro Cesar Lourena Cid ajudou Wassef a recomprar o objeto depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que Bolsonaro devolvesse. O Rolex foi recuperado em março do ano passado por Wassef, que retornou ao Brasil e entregou o bem ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid, filho do general.

 

Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, indiciado por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante o governo e depois foi nomeado como assessor pessoal do ex-presidente. Após o fim do mandato, ex-presidentes têm direito a uma estrutura de seguranças e assessores. O militar é figura próxima do general Villas-Bôas, tendo sido adjunto do comando do Exército no período em que o general esteve à frente da tropa.

Conforme a polícia, Crivelatti atuou para recuperar e devolver o kit de joias produzidas em ouro branco e diamantes avaliado em R$ 500 mil que foi destinada ao acervo privado de Bolsonaro. A investigação da PF mostrou que o militar assinou, em junho de 2022, a retirada de um Rolex do “acervo privado” para o gabinete dele. O relógio, avaliado em R$ 300 mil, foi doado pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdul-aziz em uma viagem oficial e teria sido negociado por Mauro Cid.

 

O relatório final com as conclusões da investigação e os detalhes sobre os indiciamentos será enviado para o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, relator do caso.

(Foto: Andre Borges/EPA-EFE)

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