Como se formaram gerações de soldados israelenses

 

Henrique Acker (correspondente internacional) –  Soldados israelenses têm filmado e publicado nas redes sociais situações em que zombam dos palestinos de Gaza. Cenas de danças e comemorações em meio a bombardeios, chacota com brinquedos deixados por crianças obrigadas a fugir, desfiles com peças íntimas de mulheres palestinas, versões de músicas israelenses sobre os palestinos são exemplos de má-conduta e total desrespeito aos civis de Gaza.

Isso sem contar nas inúmeras denúncias de abusos e disparos injustificáveis contra civis — incluindo crianças palestinas — , além de violência contra prisioneiros em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia.

De onde vem esse desprezo e desrespeito completo pelos palestinos? Os soldados israelenses não surgem do acaso, são produto de uma sociedade, de uma educação e de uma formação que determinam seu comportamento.

 

Tik tokers israelenses debocham de palestinos em vídeos virais (Foto: Reprodução)

 

Soldados israelenses divulgam fotos de suas atitudes perversas ( Foto: Reprodução)

 

Livros didáticos com discurso racista

A pesquisadora acadêmica da Universidade Hebraica de Jerusalém Nurit Pelet-Elhanan, publicou em 2011 o estudo “A Palestina nos livros didáticos israelenses”. O livro talvez sirva de pista para quem queira compreender o comportamento de grande parte dos jovens que servem o exército israelense.

Peled-Elhanan concentrou-se no estudo de dezesseis livros didáticos israelenses sobre história, geografia e estudos cívicos. Segundo ela, em entrevista concedida e filmada em 2011, os livros didáticos oficiais de Israel ensinam um “discurso racista”, que varre a Palestina do mapa. “Os mapas presentes nos livros didáticos somente exibem a Terra de Israel, do rio ao mar”.

Nenhum desses livros apresentou “qualquer aspecto cultural ou social positivo sobre a existência palestina: sequer literatura ou poesia, tampouco história ou agricultura, arte ou arquitetura, costumes ou tradições, nada ali é sequer mencionado”, observa Peled-Elhanan.

 

“O Estado está se aproximando do fascismo”

“Temos três gerações de estudantes que sequer conhecem onde estão as fronteiras,” entre a Cisjordânia e o resto da Palestina história, ela reitera na entrevista.

Em Israel, as escolas convidam militares para darem palestras, os estudantes são incentivados a participar de acampamentos militares. “O objetivo é formar soldados, de preferência, combatentes”.

As editoras apresentam os livros para serem autorizados pelo Estado. Livros didáticos que insinuam versões diferentes das fontes oficiais, nomes e até que chamam os árabes-israelenses de “palestinos” são recusados e destruídos.

“O Estado está se aproximando do fascismo numa velocidade inimaginável”, dizia Nurit Pelet-Elhanan há oito anos.

 

“A Palestina nos livros didáticos israelenses” – (Foto: Divulgação)

 

Jovens formam comunidade que recusa combater 

Um grupo de jovens que se recusam a combater, denominado de Mesarvot, se opõe abertamente à ocupação israelense da Palestina. A organização foi fundada no final de 2015 por ativistas que formam uma “Comunidade da Objeção”. Nos últimos dois anos, eles apoiaram uma grande quantidade de recusadores presos.

Essas campanhas geralmente incluem apoio pessoal antes da prisão por recusadores presos anteriormente que conhecem a prisão militar por dentro, assistência jurídica, trabalho de cobertura da mídia, assistência na redação de uma declaração, demonstrações de solidariedade e solidariedade internacional.

 

Grupo de soldados quer cessar-fogo e anuncia que não vai lutar

Recentemente um grupo de 130 soldados e recrutas publicou carta dirigida ao governo de Benjamin Netanyahu, anunciando sua recusa em retornar e atuar ao campo de batalha. Querem que o governo israelense mude sua política e passe a trabalhar por um cessar-fogo e o retorno dos reféns.

“Nós, que servimos e continuamos a servir com dedicação, arriscando as nossas vidas, anunciamos que, se o governo não mudar imediatamente de rumo e não trabalhar no sentido de um acordo para trazer os reféns para casa, deixaremos de poder servir”, dizem no documento.

E concluem: “…continuar a guerra em Gaza não só atrasa o regresso dos reféns, como também coloca as suas vidas em risco. Muitos reféns foram mortos na sequência de ataques das IDF [Forças da Defesa de Israel], muitos mais do que aqueles que foram resgatados em operações militares para os salvar.”

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Obs.: Os livros impressos pela Autoridade Palestina desde a década de 1990 são frequentemente demonizados por uma leitura antipalestina, na qual se supõe que representam as piores calúnias antissemitas sobre o povo judeu. Trata-se de fabricação grosseira instigada por grupos de propaganda antipalestina, como o chamado “Palestinian Media Watch” (Observatório de Imprensa Palestina), liderado pelo colono israelense Itamar Marcus.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

Monitor do Oriente

Monitor do Oriente

Íntegra da entrevista de Nurit Pelet-Elhanan no Youtube (legendas em Português)

Mesarvot

Carta Capital

CNN Portugal

 

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