Comitê palestino pede que Brasil revogue acordos com Israel assinados por Bolsonaro

No último dia 18, enquanto o exército israelense intensificava os bombardeios contra o povo palestino em Gaza, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de 2021, que aprova acordos assinados por Bolsonaro em 2019

 

O Comitê Nacional Palestino do Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que reúne organizações do mundo favoráveis à causa palestina, reivindica ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a revogação de acordos de cooperação firmados com Israel, assinados durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL). Em nota, o movimento disse estar “profundamente chocado” com a aprovação pela Câmara dos Deputados no último dia 18, mesmo dia que o exército israelense intensificava os bombardeios contra o povo palestino em Gaza, com as bênçãos dos Estados Unidos, que vetaram resolução por cessar-fogo, de acordos de cooperação do Brasil com Israel na última gestão.

“Esta votação ocorreu apenas um dia depois de Israel ter bombardeado o Hospital Baptista Al-Ahli em Gaza, matando centenas de pessoas, como parte do seu ataque genocida a Gaza. Mais de 5.000 pessoas palestinas, mais de um terço delas crianças, já foram mortas pelos bombardeios indiscriminados, enquanto Israel impôs um cerco completo à população de Gaza, de 2,3 milhões, proibindo a entrada de água, alimentos, remédios e eletricidade, causando assim condições de fome e desidratação grave”, diz trecho de declaração do comitê contra a aprovação dos acordos com o que chama de regime de apartheid de Israel”.

Para o movimento BDS, trata-se de uma demonstração de “cumplicidade flagrante” por parte das instituições estatais do Brasil “naquilo que especialistas em direito internacional descrevem como um genocídio israelense em curso contra o povo palestino”.

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 554, de 2021, que segue para o Senado. O projeto anacrônico, assinado pelo deputado Aécio Neves (PSDB-MG), então presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa, aprova o acordo entre o governo brasileiro, chefiado na época por Jair Bolsonaro (PL), e o israelense. Acordo esse de cooperação em segurança pública, prevenção e combate ao crime organizado firmado em Jerusalém, em 31 de março de 2019.

O comitê diz ser “particularmente vergonhoso” o fato de que um dos acordos aprovados seja na área de segurança pública. “Muitas pessoas no Brasil, especialmente a comunidade negra, sabem que estes acordos militares, de cooperação para tecnologia, armamentos e treinamento não irão apenas exacerbar a matança na Palestina, mas também no Brasil”, diz o texto do BDS. Em viagem a Israel no final de março de 2019, Bolsonaro e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assinaram vários instrumentos bilaterais de cooperação nos campos: da ciência e tecnologia; defesa; segurança pública; aviação civil; segurança cibernética; e saúde.

Conforme lembraram os autores da declaração, a votação no parlamento brasileiro ocorreu “apenas um dia depois de Israel ter bombardeado o Hospital Baptista Al-Ahli em Gaza, matando centenas de pessoas, como parte do seu ataque genocida a Gaza”. E lembraram também as mais de 5.000 pessoas palestinas, mais de um terço delas crianças, que já foram mortas pelos bombardeios indiscriminados. E ainda o cerco completo imposto aos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, proibindo a entrada de água, alimentos, remédios e eletricidade, causando assim condições de fome e desidratação grave.

“Este é o momento para o governo do Brasil assumir responsabilidade, revogar estes acordos vergonhosos, pedir um cessar-fogo imediato, acesso imediato de ajuda a Gaza, para ajudar a acabar com a guerra genocida de Israel e o crime de apartheid que perpetua. O Brasil deveria se juntar à maior parte do mundo no apelo à responsabilização daqueles que cometem crimes contra a humanidade e contra o povo palestino e daqueles que os permitem. É o momento de retirar a assinatura presidencial dos acordos de cooperação, como primeiro passo para um embargo militar contra Israel, tal como foi imposto ao apartheid na África do Sul”, diz outro trecho da declaração.

O BDS pede, na nota, que o governo brasileiro desfaça os acordos, solicite um cessar-fogo imediato na guerra e articule o acesso imediato de ajuda humanitária a Gaza. O BDS é apoiado por personalidades como o músico inglês Roger Waters, ex-integrante da banda Pink Floyd, e a escritora irlandesa Sally Rooney, que chegou a ter obras retiradas de livrarias israelenses após se recusar a traduzir um de seus títulos para o hebraico.

(Foto: Zanone Fraissat)

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