Marcha das Margaridas deve reunir 150 mil mulheres em Brasília

Sétima edição do evento ocupará o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade e vai mobilizar mulheres do campo, políticos e sociedade civil

 

Brasília será palco nesta terça (15) e quarta-feira (16) da sétima edição da Marcha das Margaridas sob os temas de reconstrução do Brasil e bem viver, em um esforço coletivo de pedir mais diálogo para temáticas que envolvem os trabalhadores rurais. Trata-se da maior ação política de mulheres da América Latina com protagonismo das mulheres do campo, da floresta e das águas, coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e com o apoio de outras 16 entidades sindicais.

A expectativa do movimento, que acontece a cada quatro anos, é reunir na capital federal cerca de 150 mil mulheres, dentre camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas de todo o Brasil, que tomarão a Esplanada dos Ministérios pela retomada das conquistas e dos espaços institucionais perdidos nos últimos anos. A marcha deste ano tem como objetivo central a luta pela “Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”.

A Marcha das Margaridas homenageia, no nome, a trabalhadora rural e líder sindical paraibana Margarida Maria Alves, assassinada em 1983. Margarida é um dos maiores símbolos da luta das mulheres por reconhecimento social e político, igualdade e melhores condições de trabalho e de vida no campo e na floresta. “Margaridas de todos os estados brasileiros e de outros países já estão se organizando e se preparando para esse grande momento. São quatro anos de construção coletiva, de formação, de caravanas, de audiências públicas e de construção de propostas para coroar com a nossa grande marcha em Brasília”, destacou ao Opinião em Pauta a secretária nacional de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais.

“A nossa expectativa é muito grande. Até porque, em 2019, a gente não tinha nenhuma expectativa em relação ao governo. A gente não entregou nenhuma pauta naquele ano, porque não tinha sentido nenhum negociar com um governo que não queria tratar de nenhuma política e de qualquer questão relacionada a palavra ‘gênero’. Em 2019, a gente disse foi uma marcha da resistência, para demarcar e dizer que as Margaridas resistiam. Diferente desse ano, de 2023, que há uma expectativa muito grande. A gente está em um governo do campo democrático e popular. As Margaridas construíram uma pauta e a entregamos com a expectativa de que a gente vai ter um retorno, da retomada das políticas públicas, dos programas e dos espaços que a gente havia conquistado e que foram extintos, excluídos ou sucateados. Então, vamos marchar esse ano com a expectativa de retomada dessas políticas públicas e de criação de outras que a gente está propondo”, completou Mazé.

Para o presidente da Contag, Aristides Veras dos Santos, a marcha é das mulheres, mas a luta por direitos e igualdade envolve a todos, no combate ao machismo e aos preconceitos. “Nós, os homens, temos que acabar com essa pecha de superioridade, que de superioridade nós não temos nada”, disse.

“Nós temos que entender que esse mundo é pela igualdade, esse mundo é de respeito e o respeito tem que ser tratado com muita força. A marcha traz todo esse processo. Nós não fazemos uma marcha apenas para reivindicar, mas também para mudar a alma e o coração das pessoas e seus comportamentos. O Brasil precisa enfrentar esse debate, nós vivemos em uma sociedade dividida, uma sociedade muito violenta”, frisou Santos.

 

Coordenadora geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais. (Foto: Júlia Seabra)

Negociação

Há aproximadamente dois meses, o Governo Federal reuniu 13 integrantes do primeiro escalão federal, sendo a maior quantidade de ministras e ministros já registrada na história da Marcha das Margaridas, para receber a pauta de reivindicações das mulheres camponesas, entregue por Mazé Morais. No mesmo dia, 21 de junho, foi entregue a Pauta voltada ao Legislativo para o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira. A pauta entregue pela coordenadora é orientada por 13 eixos, entre os quais destacam-se o fortalecimento das trabalhadoras rurais; o protagonismo (e visibilidade) à contribuição econômica, política e social das mulheres do campo; a crítica ao modelo de desenvolvimento hegemônico a partir de uma perspectiva feminista; e a luta pelo aperfeiçoamento e consolidação das políticas públicas voltadas às mulheres do campo, da floresta e das águas, nas esferas municipal, estadual e federal.

“São temas grandiosos e que, agora, estamos em um processo de negociação. A ideia é que o governo possa apresentar o retorno dessa pauta.  A gente traz, também, essa questão da proteção da natureza com justiça ambiental e climática. São pautas que não são específicas das mulheres, mas que impactam, se respondidas, de forma muito positiva na vida da sociedade”, enfatizou Mazé.

Antes da caminhada está prevista, ainda, às 9h, uma cerimônia especial, no plenário do senado Federal, em homenagem a Marcha das Margaridas. O requerimento foi apresentado pelo senador Beto Faro (PT-PA), que destacou a mobilização das mulheres como uma marcha mundial das mulheres.

“Elas trarão a esta Casa uma ampla pauta de reivindicações que é fruto de diálogos, proposições para o enfrentamento das principais questões que desafiam o Brasil: a fome, a violência a necessidade de regularização fundiária e a reforma agrária”, defendeu o senador.

 

Confira os 13 eixos das pautas levantadas pelas entidades da Marcha:

 

  • Democracia participativa e soberania popular;
  • Poder e participação política das mulheres;
  • Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo;
  • Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade;
  • Proteção da natureza com justiça ambiental e climática;
  • Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética;
  • Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios (territórios costeiros, influenciados pela maré);
  • Direito de acesso e uso social da biodiversidade e defesa dos bens comuns;
  • Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional;
  • Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda;
  • Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária;
  • Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo, e
  • Universalização do acesso à internet e inclusão digital.

(Foto: Reprodução)

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