Coisas da Política – João Salame

POLÍTICA

O anúncio de Cássio Andrade (PSB) como candidato a vice na chapa de Igor Normando (MDB) para disputar a prefeitura de Belém produziu as mais diversas versões. Ao longo do dia procuramos investigar a fundo os bastidores que culminaram com esse desfecho, para proporcionar aos nossos leitores um panorama mais próximo das verdadeiras motivações que moveram os agentes políticos.

 

RITO

Não houve reunião entre Igor Normando, Úrsula Vidal e Cássio Andrade (foto acima) num idílico encontro onde, depois de muita conversa entre eles, os mais altos interesses do povo de Belém teriam falado mais alto na escolha do vice. Na realidade, na quarta-feira (31), Helder Barbalho reuniu a sós com Úrsula e comunicou a decisão. Ainda tentaram, depois, convencer Úrsula a estar presente no anúncio do nome de Cássio, como demonstração de união. Ela teria achado exagerado comparecer depois da pernada que levou.

 

DIÁLOGO

Na conversa com o governador, Úrsula ainda teria ponderado que seria um contrassenso, numa capital onde a maioria do eleitorado é feminino, montar uma chapa com dois homens. Não adiantou. Sequer a famosa pesquisa que seria realizada para escolher o melhor nome saiu do forno. Ainda lhe foi assegurado que retornará à secretaria de Cultura e terá apoio para se eleger deputada em 2026. A decisão já estava tomada. E atendia a outros interesses políticos.

 

DESPERDÍCIO

Úrsula tem afirmado que ser vice nunca foi um projeto seu. Que preferia continuar na secretaria de Cultura. Sua filiação ao União Brasil, contrariando todo seu histórico político de esquerda, e o anúncio de sua possível candidatura, atendeu a uma orientação do governador. O episódio acabou expondo sua imagem de forma desnecessária.

 

ROTEIRO

Em todas as pesquisas para prefeito antes da escolha de Igor Normando, o nome de Úrsula Vidal aparecia à frente de seus parceiros de governo. Esta Coluna, no entanto, sempre afirmou que ela era considerada uma outsider, que não obteria a aprovação das raposas políticas do MDB, por ser considerada muito independente. Recentemente, demos a notícia que seu nome também não teria a simpatia da vice-governadora Hana Ghassan (MDB) para ocupar o cargo de vice-prefeita.

 

VETO

Uma decisão importante como essa não se dá por apenas um motivo. Muito menos por um suposto veto das Igrejas Quadrangular e Assembleia de Deus ao nome de Úrsula, como tem sido propagado. É frágil essa versão. Primeiro porque Helder Barbalho chegou a um ponto de popularidade, sobretudo em Belém, que não admite vetos. Ele encontraria uma forma de contornar esse problema.

 

 

ALTERNATIVA

É certo que as igrejas evangélicas citadas não desejavam a presença de Úrsula Vidal (foto acima)  na chapa e comunicaram isso ao governador, inclusive apresentando um nome feminino alternativo, no caso a nora do pastor Josué Bengtson, a pedagoga Karla Bengtson. E que aceitariam o nome de Cássio Andrade. Mas daí a dizer que foi um veto das igrejas a Úrsula vai uma enorme distância.

 

ALVO

Na realidade, Helder mirou um outro alvo ao escolher Cássio Andrade. Além de atender ao apelo conservador das igrejas, ele está obstinado em criar dificuldades para o prefeito Daniel Santos, recém filiado ao PSB. Turbinando Cássio, HB ainda espera impedir que o controle do partido caia nas mãos do prefeito de Ananindeua, que pretende iniciar sua caminhada rumo a 2026 no partido de Geraldo Alckmin.

 

DIREITA

Exímio enxadrista político, Hélder procurou cooptar a grande maioria dos partidos e esperava que Daniel se abrigasse no PL. Isolando o prefeito à direita, avaliava que ele não passaria dos 35% a 40% dos votos numa disputa pelo governo do Estado em 2026. Sobretudo porque Lula ganhou com mais de 400 mil votos de frente no Pará e, pelo andar da carruagem, nada tem indicado uma mudança drástica no cenário para as próximas eleições. As forças de centro, esquerda e centro-esquerda continuarão fortes aqui no Estado.

 

SURPRESA

A filiação de Daniel ao PSB causou surpresa ao governador. Mais ainda a desenvoltura com que o prefeito tem se movimentado junto ao presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, e ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que o tem prestigiado. A possível união, num eventual segundo turno, entre um bloco liderado pelo PSB, com Daniel à frente, e as forças de direita, que possuem cerca de 35% do eleitorado, causa preocupação. Daí o objetivo central de impedir o controle do PSB pelo gestor de Ananindeua.

 

O CARA

Cássio Andrade, apesar de jovem, é conhecido por sua habilidade e facilidade em trafegar entre diferentes forças políticas. Nas eleições de 2006, o PSB indicou o vice da governadora Ana Júlia Carepa. Como deputado estadual, Cássio era fiel seguidor da base de apoio do governo petista na Alepa. Já em 2010, depois de ter apoiado Ana Júlia no primeiro turno, pulou para o barco do vitorioso Simão Jatene (PSDB) no segundo turno.

 

FIEL

Durante os 8 anos de governo do PSDB, Cássio Andrade foi um fiel aliado dos tucanos. Seu partido ocupou posições importantes no governo. Quando Helder Barbalho assumiu o governo em 2019, o convidou para mudar de lado. Ele aceitou e o PSB passou a ocupar uma secretaria no governo.  Não se reelegeu em 2022 e HB o convidou para assumir a secretaria de Esportes. De onde saiu para ser o vice de Igor Normando.

 

 

ANANINDEUA

Cássio Andrade sempre teve boa relação com a chamada República de Ananindeua, tanto que seu partido, apesar de ocupar a vice de Lula, não apoiou a candidatura de Beto Faro (PT) ao Senado, mas sim a do ex-prefeito Manoel Pioneiro (PSDB) – foto acima. Além disso, o partido mantinha 3 secretarias na gestão do prefeito Daniel Santos, com quem cultivava excelente relação. Em Belém, depois de relutar em apoiar Edmilson Rodrigues (Psol) no segundo turno, foi contemplado com três secretarias na administração psolista.

 

ARTICULAÇÃO

O espaço do PSB começou a se estreitar quando Daniel Santos decidiu se filiar ao PSB. Ao contrário do Cássio que agora cumpre todas as determinações do governador no enfrentamento ao prefeito, no início Cássio viu com bons olhos a filiação. Tanto que, uma semana antes de se filiar, Daniel se reuniu com Cássio na casa do presidente do partido de Ananindeua, Alexandre Gomes, para lhe comunicar da decisão.

 

TAPETE

Na reunião, depois de lamentar a falta de apoio para sua reeleição, Cássio disse que via com bons olhos a filiação do prefeito, inclusive para fortalecer a chapa de federal em 2026. Mas que já previa a reação do governador. Por isso aconselhou Daniel a fazer a filiação através da Direção Nacional do partido. Assim ele evitaria o desgaste. De nada adiantou. HB ficou furioso e exigiu ações concretas de Cássio contra a filiação.

 

LEALDADE

A primeira exigência foi que o PSB deixasse a administração do prefeito Edmilson Rodrigues e se engajasse na campanha de Igor Normando. Centenas de DAS ficaram para trás. O mesmo aconteceu em Ananindeua. A mesma lealdade dedicada a Ana Júlia, Jatene e Márcio Miranda agora está sendo entregue ao atual governador. Jovem, habilidoso e ambicioso, ele pode colher os frutos e se tornar uma das grandes lideranças do Estado a partir de 2026. A conferir.

 

FALECIMENTO

Faleceu em Marabá na madrugada de quarta-feira, o médico veterinário Lúcio Fernandes de Miranda. Aos 73 anos, ele foi vítima de uma pneumonia. Lúcio foi um dos principais responsáveis pela criação da Adepará e articulador das campanhas para controle da febre aftosa no Estado. A Coluna externa votos de profundo pesar aos seus familiares e amigos.

 

TUCUMÃ

Em Tucumã, o prefeito Celso Lopes (União Brasil) vai a reeleição com musculatura política reforçada. Ele tirou das fileiras da oposição o seu vice, conhecido como Rafael da Saúde (PP). Na Convenção que homologou seu nome estiveram presentes o ministro Celso Sabino e a deputada Cilene Couto (PSDB).

 

CONFIRMADO

Como antecipou esta Coluna, o prefeito Tião Miranda (PSD) confirmou seu apoio à candidatura do deputado Chamonzinho (MDB) na disputa pela prefeitura de Marabá. O acordo foi costurado pelo próprio governador e coube a TM indicar o vice na chapa, que será o ex-secretário de Obras Fábio Moreira (PSD).

 

 

INDEPENDENTE

Nesta quinta-feira (1), deputado Thiago Araújo (Republicanos) – foto acima -, tem sua candidatura lançada prefeito de Belém, no Espaço Náutico Marine Clube. Com o apoio dos partidos Agir, Avante, Democracia Cristã, PMB e Solidariedade, ele lançou o Plano Mudança de Verdade e se apresenta como candidato independente, com condições de dialogar com todos os poderes e forças políticas do Estado.

 

Frase

Magalhães Pinto (líder mineiro): “Política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

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