Cidadania decide tirar Roberto Freire da presidência para se aproximar do governo Lula

Reunião on-line da executiva do Cidadania no último sábado (19) termina em caos e com a vitória de um grupo que busca substituir comando da sigla para ficar mais  alinhado com o governo Lula

 

No último sábado (19), uma reunião on-line da Executiva Nacional do Cidadania (anteriormente conhecido como Partido Popular Socialista, PPS) terminou em um cenário caótico, marcado por xingamentos, acusações e gritos. O encontro culminou na vitória de um grupo de 13 dirigentes que busca substituir o comando da sigla pela primeira vez desde 1992. O atual líder do partido é o ex-deputado federal Roberto Freire, que ocupa o posto desde então.

Ao fim da reunião foi aprovada uma resolução de parte dos integrantes da sigla, para convocar o diretório nacional do Cidadania e reestruturar a executiva nacional do partido através de eleições. A proposta venceu por 13 votos a 11. Freire falou que a antecipação da eleição da nova Executiva visava sua expulsão da sigla. Em entrevista ao Estadão, ele disse que a movimentação tem o intuito de afastá-lo para que o partido possa aderir ao governo de Lula.

“O que pretendem é me expulsar do partido. Querem me tirar, porque querem aderir ao governo Lula. Não vou reconhecer essa reunião do dia 9 de setembro como legítima”, declarou Freire.

Já o secretário-geral do Cidadania, Regis Cavalcante, disse que o partido está parado devido a postura de Freire. “O partido está praticamente paralisado, porque as decisões da Executiva e do Diretório Nacional não são colocadas em prática, principalmente por conta das dificuldades com o presidente. Não queremos expulsá-lo, mas o partido deixou de ter vida coletiva”, afirmou.

A situação no Cidadania é delicada e pode gerar impactos no cenário político nacional. A sigla é considerada uma das principais forças de centro-esquerda do país e tem representantes em diversos estados. A possível adesão ao governo Lula pode fortalecer a base do ex-presidente e aumentar a polarização política no Brasil. Agora, o grupo que venceu a disputa interna precisa se organizar para assumir o comando do partido e definir seus próximos passos. Enquanto isso, Freire e seus aliados prometem lutar para manter o controle da legenda e evitar sua aproximação com o PT.

Durante o vídeo, Roberto Freire chegou a dizer para Regis Cavalcante que ele pedisse sua destituição do cargo naquele momento e também mandou que ele calasse a boca e parasse de tentar conduzir a reunião. Freire defendeu que as eleições para reestruturar a executiva nacional deveriam contar com todos os membros do partido e não apenas o diretório.

“Para resolver [a crise] o partido tem que ser todo chamado, e não apenas uma facção que tomou conta do partido e que acha que manda no partido. Quer mandar até no que eu penso, porque a grande reclamação não é de que o partido não cumpre o que decide, é porque eu tenho uma posição divergente de alguns que viraram lulo-petistas e que são adesistas e que eu não posso continuar sendo um crítico do governo”, disse Freire em dado momento da reunião.

Nonato Bandeira, dirigente do Cidadania na Paraíba, disse que Roberto Freire perdeu a condição de liderar o partido: “Tenha compostura”, advertiu. “O Cidadania era um dos maiores partidos do Brasil e você conseguiu a façanha de destruir não só com uma intervenção absurda como colocando no comando da federação alguém que tinha sido expulso por corrupção do PSDB. Não transfira suas responsabilidades. Ninguém aguenta você provocar um por um todo mundo que tem um mínimo de discordância. Tenha compostura de presidente. Você perdeu a compostura e quem perde a compostura não tem condições de liderar”, advertiu Nonato durante a reunião.

O ex-deputado Daniel Coelho saiu em defesa do presidente Roberto Freire e começou a discutir com o também ex-deputado Regis Cavalcante. “Picareta e cínico”, disse Coelho. Ao que Cavalcante respondeu: “Picareta é você, seu cachorro”. E ambos passaram a trocar ofensas como “vagabundo” e “m**da”. “Vocês estão querendo dar um golpe em Roberto”, acusou Coelho.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o presidente do Cidadania disse que o “episódio totalmente estranho à história do partido, é a demonstração cabal de que a superação do impasse a que chegamos só se dará a partir de um Congresso Extraordinário, com a radicalização do processo democrático no Cidadania. Chamando todos os militantes a renovar o corpo dirigente e decidir os rumos do partido”.

“A questão não é apoiar ou não o governo Lula, mas aderir de forma acrítica a valores que não são os nossos em nome de verbas e cargos. Nada disso condiz com nossa história como PCB, PPS e Cidadania. Nunca optamos pelo caminho mais fácil”, acrescentou Freire.

 

Confira o bate-boca durante a reunião do Cidadania:

 

(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado/arquivo)

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