Cid Gomes sobre o Centrão no governo: ‘querem se apropriar das verbas para fazer roubalheira’

Thiago Vilarins – O senador Cid Gomes (CE), líder do PDT no Senado e da base do governo na Casa, demonstra preocupação com as mudanças que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará no primeiro escalão do governo ainda nesta semana. Há quase dois meses, uma “minirreforma ministerial” é esperada para atender a demandas de parlamentares do partido Progressista (PP) e do Republicanos. Em entrevista exclusiva ao Opinião em Pauta, o pedetista mirou sua artilharia a aliança do Palácio do Planalto com o Centrão, que, segundo ele, é um grupo que está embarcando neste mandato não por convencimento ou por identidade programática, mas sim “para se apropriar das verbas do governo, para fazer politicagem, para fazer roubalheira e para fazer uma série de coisas que são nocivas”.

“O fim disso é sempre trágico. Então, eu acho que o governo tem cedido demais a um modelo de chantagem e de acharque por apoio. Esse apoio é importante, mas apoio por convencimento, por identidade programática. Até mesmo, por participação em governo, é compreensível. Eu já fui governador, já fui prefeito e sempre busquei e é sempre importante ter uma boa relação com o executivo e com o Legislativo. Mas o padrão ético e moral, ele tem que ser preservado, sob pena disso ser um grande castelo de areia que, com qualquer chuvinha mais forte, se desmorona”, disse.

Para o parlamentar, o governo Lula estaria, neste momento, conformado com este modelo de distribuição do poder em Brasília através da chantagem que tomou conta do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e  estaria cometendo o mesmo erro de não atuar para que nomes como Arthur Lira (PP-AL) tenham menos condições de pressão sobre o Executivo. “O Lula tem outra cabeça, completamente diferente do Bolsonaro, fazendo a comparação. Mas essas pessoas são as mesmas. As mesmas que se apossaram do governo do Bolsonaro, estão agora, pouco ao pouco, ocupando espaço no governo do Lula. E pode ter certeza que eles querem espaço não é para servir ao povo brasileiro. Eles querem espaço para fazerem as suas práticas de que são, enfim, rejeitadas e criticadas por qualquer brasileiro de bom senso”, avalia Gomes.

“A prática dessas figuras, tipo Arthur Lira e Eduardo Cunha, são maléficas ao país. E eles tem que ser enfrentados, didaticamente, pedagogicamente, e mostrando para as pessoas, para população, que tenho certeza, que bem informada, não vai concordar com a postura deles. (…) Eu não estou defendendo que o executivo se isole, que o executivo não tenha diálogo com o Legislativo. Eu acho fundamental, mas você tem que fazer esse diálogo em bases transparentes, em bases limpas e em bases éticas. E denunciar quando tiver sendo vítima de chantagem e de acharque, que é o que esse Arthur Lira faz. Ele coordena um grupo de pessoas. Isso é um movimento que tem aqui e que já vem de algum tempo, vem desde o Eduardo Cunha, vem desde o Severino Cavalcanti”, acrescentou.

 

“Não estou defendendo que o executivo se isole, que o executivo não tenha diálogo com o Legislativo. Mas é  fundamental fazer esse diálogo em bases transparentes, em bases limpas e em bases éticas, defende Cid Gomes. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

 

Confira a entrevista que o senador Cid Gomes à reportagem do Opinião em Pauta neste último fim de semana:

 

Como o senhor avalia essa minirreforma ministerial que o presidente Lula está fazendo para atrair o PP e o Republicanos para o governo e assim garantir os votos na Câmara dos Deputados de boa parte do “Centrão”? É uma necessidade ou o governo está cedendo a pressão deste grupo?

Olha, eu tenho ressalvas. Tem gente que é base do governo e não quer que essa base aumente. Sinceramente, não é o meu caso. Eu fico, às vezes, preocupado com o preço que se paga por uma ampliação da base. Eu acho que esse modelo que está em vigor no Brasil, já há alguns anos, que tomou conta do Governo do presidente Bolsonaro, que ocupou as áreas centrais da gestão Bolsonaro, que ocupou o governo do Michel Temer, que fez o impeachment da Dilma… esse é um modelo que tem feito mal ao Brasil. E a gente sabe que o fim disso é sempre trágico. Então, eu acho que o governo tem cedido demais a um modelo de chantagem e de acharque por apoio. Esse apoio é importante, mas é apoio por convencimento, por identidade programática. Até mesmo por participação em governo é compreensível. Eu já fui governador, já fui prefeito e sempre busquei e é sempre importante ter uma boa relação com o executivo e com o Legislativo. Mas o padrão ético e moral, ele tem que ser preservado, sob pena disso ser um grande castelo de areia que com qualquer chuvinha mais forte se desmorona.

 

Quando questiona essa aliança pelos aspectos ético e moral, o senhor está se referindo também aos nomes que estão envolvidos nestas negociações?

Eu não quero, sinceramente, fulanizar. Eu estou dizendo do estilo. O de estilo assim: ‘eu crio uma dificuldade para o governo e apresento a fatura para dar facilidade’.

 

Que é o que já está acontecendo, não é isso?

Sim, é o que vem acontecendo. Mas é a prática dessas figuras, tipo Arthur Lira, tipo aquele do Rio de Janeiro, o Eduardo Cunha. Então, essas figuras são maléficas ao país. E eles tem que ser enfrentados, didaticamente, pedagogicamente, e mostrando para as pessoas, para população, que tenho certeza, que bem informada, não vai concordar com a postura deles. E falo isso porque é possível. Isso já aconteceu em outros lugares, no Ceará, por exemplo. Há trinta anos atrás, nós resolvemos enfrentar esse estilo do acharque e da chantagem. Até no primeiro governo do Tarso (Jereissati), ele ficou com uma base de apoio ínfima, mas as eleições deram a ele, renovaram já com o candidato dele, um respaldo do executivo, eleito o candidato dele, que foi o Ciro (Gomes), e eleito uma base de deputados que mudou a história do Ceará. O Estado do Ceará tem hoje outra relação do executivo com o legislativo. Isso é didático, isso é pedagógica e, aqui no Brasil, está faltando quem enfrente isso.

 

A matemática do governo é simples: se atrair estes partidos para a sua base, ele terá os votos que precisa para aprovar as propostas do seu interesse. Mas, na sua avaliação, a distribuição de ministérios para o PP e o Republicanos vai garantir o apoio de 100% destes deputados nas pautas governistas? O exemplo do União Brasil não mostra que essa adesão não é tão simples?

Compreenda bem, eu não estou defendendo que o executivo se isole, que o executivo não tenha diálogo com o Legislativo. Eu acho fundamental, mas você tem que fazer esse diálogo em bases transparentes, em bases limpas e em bases éticas. E denunciar quando tiver sendo vítima de chantagem e de acharque, que é o que esse Arthur Lira faz. Ele coordena um grupo de pessoas. Isso é um movimento que tem aqui e que já vem de algum tempo, vem desde o Eduardo Cunha, vem desde o Severino Cavalcanti. No caso do Severino é porque ele não tinha competência que esses dois têm. Esse Eduardo Cunha, era inteligente e esse Arthur Lira é inteligente, também. Então, inteligência para o mal é um problema. E isso tem que ser denunciado, sob pena de, repito, esse castelo de areia de areia vai se desmoronar. Vai se desmoronar.

 

O senhor disse que não ia “fulanizar”, mas citou o preço do governo ceder à chantagem do Arthur Lira.

Eu falei o nome dos dois pela expressão, porque são presidentes da Câmara. Eu não quero, não vou falar aqui do fulano que vai ser ministro, do beltrano, que vai ser ministro, são todos agentes de um movimento, que é um movimento que não tem espírito público, que não pensa no país, que não tem um projeto nem para o Ministério do Desenvolvimento Social, nem para o Ministério da Educação, nem para o Ministério da Saúde… O projeto dele é se apropriar do governo, de parcela do governo, das verbas do governo para fazer politicagem, para fazer roubalheira, para fazer uma série de coisas que são nocivas e que no final das contas vão respingar para o governo.

 

O Lula á gato escaldado, sofreu um ‘golpe’ da base no caso do mensalão e depois viu os partidos que apoiavam o governo virar as costas para a Dilma na época do impeachment. Fora isso, ele acompanhou o Bolsonaro ser eleito com um discurso atacando o Centrão e depois, para ter governabilidade, teve que entregar o seu governo a este grupo, de porteira fechada. Pelo o que o senhor está dizendo, essa minirreforma ministerial está repetindo os erros do passado e, assim como na última gestão, está dando superpoderes ao Arthur Lira?

É exatamente isso que me preocupa mais. Claro que sim, são superpoderes assim como no último governo. O Lula tem outra cabeça, completamente diferente do Bolsonaro, fazendo a comparação. Mas essas pessoas são as mesmas. As mesmas que se apossaram do governo do Bolsonaro, estão agora, pouco ao pouco, ocupando espaço no governo do Lula. E pode ter certeza que eles querem espaço não é para servir ao povo brasileiro. Eles querem espaço para fazerem as suas práticas de que são, enfim, rejeitadas e criticadas por qualquer brasileiro de bom senso.

 

(Foto: Patricia Stavis/Folhapress)

 

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