Chefe de Hospital de Gaza denuncia tortura e mortes nas cadeias de Israel 

Henrique Acker (correspondente internacional) –Tortura e mortes de prisioneiros palestinos. Foi o que denunciou à imprensa Mohammad Abu-Salmiya, o chefe do Hospital Al-Shifa, da Cidade de Gaza, sobre o que viveu nos últimos sete meses em centros de detenção de Israel. Ele contou que foi submetido a “grave tortura” e que havia sofrido cortes e sangramentos na cabeça, por conta de espancamento, além de uma fratura no polegar.

O doutor Salmiya foi libertado em 1 de julho, com cerca de 50 prisioneiros palestinos que se encontravam detidos na unidade prisional de Sde Teiman. O médico, preso no final de novembro de 2023, disse que havia sido capturado “sem acusação”. 

O chefe do Hospital Al-Shifa recém-libertado e antes da prisão

 

 

Pão e água

“A conduta nas prisões e centros de detenção prova que tudo foi uma medida vingativa contra os prisioneiros, incluindo a equipe médica do Al-Shifa, alguns dos quais pagaram com suas vidas, como o Dr. Iyad Arantisi e o Dr. Adnan Albarush”, disse Abu-Salmiya.

pós sua liberação, Abu-Salmiya afirmou que “Israel prende todos, incluindo equipes médicas. Há prisioneiros que morreram de tortura, e há médicos e membros de equipes médicas que continuam detidos e precisam de tratamento.”

“Os prisioneiros palestinos são submetidos a todos os tipos de tortura”, acusou ele numa coletiva de imprensa no Hospital Nasser, em Khan Yunis. Muitos prisioneiros morreram em centros de interrogatório e foram privados de alimentos e medicamentos. Ele contou que “durante dois meses, os prisioneiros comeram apenas um pedaço de pão por dia”, acrescentando que foram “submetidos a humilhações físicas e psicológicas”. 

Hospital antes e depois de bombardeado

 

Espancamentos e amputações

As declarações do diretor do Hospital Al-Shifa coincidem com as denúncias da Sociedade dos Prisioneiros Palestinos (PPS), de que alguns detidos da Faixa de Gaza, mantidos em prisões de ocupação israelense, tiveram membros amputados sem anestesia, devido a ferimentos sofridos por algemas durante a detenção.

O PPS destacou que a ocupação mantém os detentos algemados e vendados por 24 horas. Os presos são submetidos a espancamentos, incluindo ataques com cassetetes e cães policiais. Em alguns depoimentos os presos relataram terem sido submetidos a violência sexual e estupro.

O número total de detenções após 7 de outubro aumentou para 9.490, incluindo os detidos em casa e em postos de controle militares, e os que foram forçados a se entregar sob pressão. 

 

Superlotação

A libertação dos 50 prisioneiros abriu nova crise no gabinete do governo israelense. A agência de segurança interna de Israel, Shin Beth, disse em um comunicado à imprensa que havia sido encarregada, juntamente com o exército, de “libertar dezenas de prisioneiros a fim de recuperar lugares nos centros de detenção”.

Já o Gabinete do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu informou que a decisão de libertar Abu-Salmiya foi tomada sem o conhecimento do governo, descrevendo a medida como “um problema sério e uma falha moral”.

O Ministro Benny Gantz postou na rede X que “quem tomou essa decisão deveria ser demitido hoje.” “Um governo que libera aqueles que cooperaram com os assassinatos cometidos em Al-Shifa em outubro, que ajudaram a esconder nossos reféns, cometeu um erro operacional e moral”, acrescentou Gantz.

As condições do centro de detenção, estabelecido imediatamente após o início da guerra em Gaza para manter prisioneiros do Hamas, foram chamadas de “desumanas” pela Associação pelos Direitos Civis em Israel.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

 

Agência Palestina de Notícias Waf

 

Jornal Haaretz (Israel)

Rfi – Rádio França Internacional

 

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