Cessar-fogo no Líbano deixa tropas de Netanyahu à vontade

Por Henrique Acker   –   O primeiro-ministro de Israel foi a público em 26 de novembro anunciar o cessar-fogo de 60 dias, acertado pelo governo Biden com o governo do Líbano e o Hezbollah. No entanto, o anúncio de Benjamin Netanyahu mais pareceu uma ameaça ao país vizinho e ao grupo xiita libanês.

Netanyahu avisou que o exército israelense manterá “total liberdade de movimentos” na região, acrescentando que “se o Hezbollah violar o acordo e tentar armar-se, nós atacaremos; se ele tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, nós atacaremos”.

Longe de servir para pôr fim ao conflito, o governo israelense encara o cessar-fogo no Líbano apenas como uma pausa. De acordo com o próprio Benjamin Netanyahu, além de isolar o Hamas, são três os fatores que exigirão maior concentração da campanha militar de seu governo durante o cessar-fogo:

1) Concentrar-se no Irã como alvo principal; 2) Reabastecer os estoques de armas e munições; 3) Desvincular as frentes norte e sul em Gaza, para melhor enfrentar o que resta do Hamas.

 

Criança libanesa vítima de bombardeio (Foto: Reprodução)

 

EUA e França formam força-tarefa

O cessar-fogo prevê o recuo das forças do Hezbollah para o norte do Líbano e das tropas israelenses para o seu país. A região sul do Líbano será patrulhada pelo exército regular libanês, com a participação de uma força-tarefa internacional, formada por tropas dos EUA e da França, com a tarefa de supervisionar o cumprimento do acordo.

O acordo foi alcançado com a participação de países europeus, com destaque para a França, que mantém interesses no Líbano desde os tempos coloniais. O presidente dos EUA, Joe Biden, também anunciou o cessar-fogo.

Ao lado de Emmanuel Macron, Biden garantiu que o cessar-fogo “protegerá Israel da ameaça representada pelo Hezbollah e outras organizações terroristas que operam a partir do Líbano”.

 

Bombardeio israelense em Beirute (Reprodução)

Escombros no sul do Líbano

As populações das áreas de fronteira, tanto ao norte de Israel quanto ao sul do Líbano, serão autorizadas a retornar às suas comunidades. No entanto, a destruição das cidades libanesas foi tão grande que boa parte dos antigos moradores não terá sequer condições de retomar suas vidas na região.

Nos bastidores, o que se comenta é que a decisão do Hezbollah de aceitar o acordo teve a influência direta do governo do Irã. A postura cautelosa do regime iraniano está vinculada ao receio de que o conflito generalizado na região seja de interesse do governo israelense, sobretudo depois da vitória de Donald Trump, aliado incondicional de Netanyahu.

Desde 7 de outubro de 2023, Israel desalojou 1,2 milhão de pessoas no Líbano (um quarto da população do país), matou 3.768 e feriu cerca de 16 mil pessoas, a maioria nos últimos dois meses e meio de bombardeios. O governo israelense calcula em cerca de 60 mil o total de civis que tiveram que abandonar casas e cidades no norte do país, devido aos bombardeios do Hezbollah.

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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