Um ministro bolsonarista do Tribunal de Contas da União (TCU), defensor de golpe de Estado, é quem vai relatar o caso das joias das arábias enviadas ao governo brasileiro.
Trata-se de Augusto Nardes, cujo nome foi sorteado pra cuidar da relatoria da ação.
Em dezembro de 2022, Nardes foi flagrado compartilhando áudio dele enviado a representantes do setor do agronegócio, citando uma suposta conversa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) na qual ele diz que “em questão de horas, dias, no máximo, uma semana, duas, talvez menos do que isso haverá um desenlace bastante forte na nação, imprevisíveis, imprevisíveis”.
Na gravação, o ministro diz, ainda, que tem “muitas informações” sobre um “movimento forte nas casernas”, insinuando que as Forças Armadas estariam prontas para um golpe.
A investigação do TCU atende pedido do Ministério Público Federal que pretende saber se Bolsonaro cometeu improbidade administrativa.
O pedido foi enviado pelo subprocurador, Lucas Rocha Furtado, ao presidente do TCU, Bruno Dantas.
Em seu despacho, o subprocurador destaca que “o suposto presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tentou descumprir tanto as regras de ingresso das joias no país, quanto a separação do que seja bem público e do que seja bem pessoal no acervo presidencial”, escreve. Furtado.
“Causa-me bastante estranheza que joias dessa magnitude tentem ser recebidas pelo ex-presidente e pela ex-primeira-dama em subterfúgio à diferenciação do que seja ou não bem público”, fulmina o MPF.
Receita Federal acionada
Na última segunda-feira, 6, o Ministério Público Federal já havia solicitado à Receita Federal encaminhamento de todas as informações disponíveis sobre a entrada de joias que foram supostamente presenteadas pela Arábia Saudita ao governo brasileiro.
Em outubro de 2021, os itens foram apreendidos pela Receita Federal ao chegarem ao país pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), transportados na bagagem de um assessor do Ministério de Minas e Energia (MME).
A Receita Federal apresentou denúncia ao MPF apenas com um relato simples, na última sexta-feira (3), após reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O MPF vai analisar e decidir o encaminhamento do caso após a Receita apresentar todas as informações possíveis. Segundo o Ministério Público, o procedimento segue sob sigilo para evitar prejuízos à apuração.
Na sequência dos fatos, a Polícia Federal foi acionada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para as suspeitas de tentativa de ingresso das joias ilegalmente no país. No ofício ao diretor-geral da PF, o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, o ministro afirma que, “da forma como se apresentam”, os fatos divulgados pela imprensa “podem configurar crimes contra a administração Pública”. (Reprodução/ TCU)