Cármen Lúcia assume presidência do TSE com discurso contra ‘mentira digital’ e ‘algoritmo do ódio’

Magistrada criticou a difusão de desinformação pelas redes sociais e disse que o foco deve ser no compartilhamento da verdade

 

A ministra Cármen Lúcia, que tomou posse na noite desta segunda-feira (3) como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que durante a gestão dela o foco será combater “a mentira digital” e o “algoritmo do ódio “contra as eleições, algo que “corroe a democracia”. “O algoritmo do ódio, visível e presente, apresenta-se à mesa de todos”, declarou a ministra que ficará à frente da corte por dois anos e será responsável pela condução das eleições municipais deste ano.

A cerimônia de posse de Cármen Lúcia foi prestigiada pelos presidentes de todos os Poderes. Estiveram presentes: os presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.

Um dos principais desafios da magistrada será o de lidar com a popularização de ferramentas de inteligência artificial (IA) para espalhar desinformação eleitoral. Em uma fala cheia de críticas ao que chamou de mau uso das plataformas, a magistrada, que assume o posto de Alexandre de Moraes na Corte, defendeu o exercício “responsável” das liberdades para fortalecer a democracia.

“O que distingue esse momento da história de todos os outros é o ódio e a violência agora usados como instrumentos por antidemocratas para garrotear a liberdade, contaminar escolhas e aproveitar-se do medo como vírus e adoecer pela desconfiança cidadãs e cidadãos”, afirmou, no final da cerimônia de posse

Cármen Lúcia disse que as “mentiras que nas redes sociais se maquinam” atuam “enricando seus donos” e “dificultando as ações responsáveis das pessoas”. “A mentira espalhada pelos poderosos ecossistemas das plataformas é um desaforo tirânico contra a integridade das democracias. Um instrumento de covardes e egoístas”, disse.

Conforme a presidente do TSE, “se não rompermos o cativeiro digital, chegará o dia em que as próprias mentiras nos matarão”. “E é pelas liberdades como antídoto, contra medos, mentiras e a falsidade que fomenta ódio e produzem diferenças que a democracia há de ser buscada”, afirmou.

Para ela, “a mentira adoece a humanidade porque planta o medo para colher a ditadura, individual ou politica”. “Máquinas e telas são apenas coisas – poderosas, algumas. É preciso que sejam usadas para o bem das pessoas, e podem ser usadas, o que não se pode é aceitar o mau uso, o abuso das máquinas falseadores que nos tornaram cativos do medo com suas mensagens falsas, porque se não rompermos o cativeiro digital, chegará o dia em que as próprias mentiras nos matarão”.

Sob a relatoria da ministra, o TSE aprovou uma inédita regulamentação do uso da IA e aumentou a responsabilidade das chamadas big techs. “Estamos todos mais vulneráveis hoje do que em outros momentos da história, mas dispomos de muito mais meios de ação”, declarou. “O medo não tem assento em casa de Justiça”, finalizou.

(Foto: Igor Estrela)

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