Caio Bonfim faz história e fatura medalha de prata na marcha atlética: ‘venci o preconceito e a rejeição’

Na quarta edição de Jogos Olímpicos, atleta de Sobradinho, no Distrito Federal, é recompensado com pódio inédito após anos de resiliência. Após conquista, atleta falou do legado, preconceito e de sua mãe e treinadora

 

O Brasil acordou na madrugada desta quinta-feira (1º), com o brasileiro Caio Bonfim conquistando a medalha de prata na marcha atlética de 20 km dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. A prova serviu para inaugurar o atletismo nesta edição dos jogos.

Esta é a primeira medalha olímpica de Caio Bonfim. Ele havia ganhado o bronze duas vezes em Campeonatos Mundiais, a primeira em Londres 2017 e a segunda em Budapeste 2023. Nesta quinta-feira ele cobriu o trajeto em 1h19min09 (seu melhor tempo em Jogos Olímpicos), ficando atrás apenas do equatoriano Brian Daniel Pintado, campeão com 1min18s55. O espanhol Alvaro Martin completou o pódio (1h19:11).

Caio Bonfim é a personificação da resiliência. Encarou por anos ofensas machistas enquanto treinava nas ruas de Sobradinho, no Distrito Federal. Enfrentou sol, chuva, quilômetros e quilômetros de treinos e competições mundo afora tentando levar a marcha atlética do Brasil onde ela nunca tinha estado. Hoje, o filho de Gianetti e João, também marchadores, chegou aonde sempre mereceu: no pódio olímpico.

“Essa medalha é para construir nossa bandeira na modalidade. É duro… Hoje colocamos uma sementinha na terra. E que também sirva de incentivo para que o moleque que está marchando em qualquer lugar do Brasil possa acreditar. Olha onde nós estamos”, disse Caio, que se emocionou várias vezes durante as milhares entrevistas de deu.

“A prova em si não foi difícil. Difícil mesmo foi quando eu comecei a marchar até chegar aqui. Venci o preconceito (com a prova), a rejeição (do âmbito da marcha) e ter sido desacreditado”, acrescentou.

Em outro momento, Caio reforçou as suas dificuldades diárias, suas frustrações e a resiliência até chegar no pódio olímpico. “Medalha no Brasil, na marcha atlética, não tem cor. Quando eu passei a linha de chegada no Rio, eu pensei se teria outra oportunidade de disputar os Jogos. Tive muito orgulho daquele quarto lugar. Abriu muitas portas. Na minha cidade, brinco que antes da Rio 2016 eu era xingado quando marchava. Depois de lá, mudou. As buzinas vinham seguidas de ‘vamos, campeão’. Quando meu pai me chamou para marchar pela primeira vez, eu fui muito xingado naquele dia. Era muito difícil ser marchador”, disse.

Caio Bonfim fez sua primeira participação nos Jogos em Londres 2012, na 39ª colocação. Na Rio 2016, em casa, bateu na trave, terminando em quarto lugar. Em vez de lamentar o “quase”, ajoelhou e apontou para o céu em gratidão. Em Tóquio foi o 13º colocado. Nunca deixou de lutar e teve nos Campeonatos Mundiais a confirmação de que sempre este no caminho certo. Ele foi bronze em Londres 2017 e Budapeste 2023.

“Eu não sei dizer para vocês o que significa isso tudo. Não estou acostumado a ser chamado de medalhista olímpico. Sempre foi um sonho. Eu sou de Brasília. Eu cresci com Joaquim Cruz. A nossa bolsa atleta ela começou por causa do resultado dele. E hoje eu tenho uma medalha igual a ele. É um momento especial que representa todos esses anos. Olimpíada não representa apenas um ciclo olímpico. É toda uma vida”, completou Caio, emocionado.

 

Caio Bonfim puxou o pelotão durante o maior tempo de prova. (Foto: Alexandre Loureiro/COB)

 

Caio impõe ritmo fortíssimo

O brasileiro disparou na primeira das 20 voltas no circuito construído no Trocadéro e chegou a abrir sete segundos de margem para os adversários. O pelotão dos líderes encostou depois, mas Caio não deixou o grupo em momento algum e se manteve firme entre os cinco primeiros. Brian Pintado disparou em determinado momento rumo à vitória.

Para Caio, não importava. Concentrado na própria prova, seguiu marchando rumo à linha de chegada para um resultado histórico coroar toda a sua trajetória, todo o suor que deixou no asfalto da pequena Sobradinho ao longo de anos de treinos e dedicação. O filho de Gianetti e João hoje, aos 33 anos, pode contar para os próprios filhos: quem espera e – trabalha duro por isso – sempre alcança.

 

Lula celebra medalha de prata inédita conquistada Caio Bonfim

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parabenizou o atleta brasiliense Caio Bonfim pela conquista da medalha de prata inédita na marcha atlética nas Olimpíadas de Paris, nesta quinta-feira.

Aos 33 anos, o atleta nascido em Sobradinho, no Distrito Federal, ganhou a primeira medalha do Brasil na história da modalidade olímpica nos 20km, com tempo de 1h19m09s.O corredor é beneficiado pelo Programa Bolsa Atleta.

“Parabéns ao Caio Bonfim, bolsista do Bolsa Atleta, pela prata na Marcha Atlética, a primeira da história do nosso país na modalidade”, disse Lula. O presidente também parabenizou o atleta pela perseverança e esforço, e por ter superado as adversidades dentro e fora do esporte.

Caio Bonfim celebrou o lugar no pódio nos Jogos Olímpicos de Paris. “Chegamos aqui para o trabalho de uma vida. Não sei dizer o que significa isso tudo. Não estou acostumado a ouvir ‘medalhista olímpico’. Sempre foi um sonho. Sou de Brasília, cresci com Joaquim Cruz. Hoje, tenho uma medalha igual a dele para levar para casa — Cruz foi segundo dos 800m em Seul-1988 e ouro em Los Angeles-1984. É um momento muito especial, que representa todos esses anos, não só o ciclo olímpico”, afirmou o atleta.

(Foto: Alexandre Loureiro/COB)

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