Cada ponto percentual da Selic custa R$ 38 bilhões da dívida pública, avalia governo

Segundo o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, cada ponto percentual da taxa básica de juros significa “dezenas de bilhões de reais” da divida publica brasileira. Vice-presidente, Geraldo Alckimin, estima impacto total com a manutenção da Selic em 13,75% de R$ 190 milhões. 

 

Integrantes da equipe econômica do governo têm se manifestado sobre o impacto da alta taxa de juros na Dívida Púbica brasileira. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmou nesta sexta-feira (23) que cada ponto percentual da Selic custa dezenas de bilhões de reais da dívida. “Se em vez de 13,75% fosse 10% a Selic atualmente, haveria quase um Bolsa Família por ano economizados em termos de juros que estão sendo pagos na dívida pública”, disse Ceron, em entrevista ao canal Exame, para ilustrar o quanto a parte da dívida atrelada aos juros é afetada pela elevação da Selic.

Embora tenha dito que prefere evitar comentar as decisões do Banco Central, a política monetária afeta as decisões de política fiscal. Ceron afirmou que existe uma “relação simbiótica” entre as políticas monetária e fiscal. De um lado a política fiscal ancora expectativas e ajuda a autoridade monetária a ter um com patamar de juros menor e uma atuação menos restritiva do ponto de vista monetário. Por outro lado, os momentos de aperto monetário têm um impacto significativo sobre o custo da dívida pública numa parte da dívida que está atrelada a taxa de juros atrelada ao Banco Central.

Na noite de quinta-feira (22), o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, estimou que 1% da taxa Selic, que o secretário do Tesouro disse custar “dezenas de bilhões de reais da dívida pública”, tem o valor estimado de R$ 38 bilhões. Segundo Alckmin, além de causar danos à atividade econômica, inibindo investimentos e prejudicando o comércio e a indústria, esse patamar de juros tem impacto forte na situação fiscal do país, já que grande parte da dívida está indexada à taxa Selic.

“Quase metade da dívida pública brasileira é selicada [indexada à Selic]. Então, cada 1% da taxa Selic custa R$ 38 bilhões [de pagamento do serviço da dívida pública]. Não há nada pior para a questão fiscal do que uma Selic desnecessariamente elevada. Então, R$ 38 bilhões a cada 1%, se você tem uma taxa 5% acima do que deveria estar, isso custa praticamente 190 bilhões”, criticou.

“Você fica fazendo economia de um bilhão, meio bilhão, e acaba gastando aí quase R$ 200 bilhões em razão de ter uma taxa Selic nessa altura”, acrescentou. O vice-presidente ainda avaliou ser “difícil entender” a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diante do cenário de inflação em queda e juros internacionais negativos.

“O mundo hoje tem juros negativos, a inflação está em queda, há uma deflação no IGP [Índice Geral de Preços], em 12 meses, de mais de 6%. Os juros futuros em queda e essa taxa Selic acaba tendo um impacto fiscal. Se a preocupação é dívida, não há nada pior do que isso”, acrescentou.

Governo e Banco Central estão em queda de braço por causa do atual patamar dos juros. No entender do governo a economia brasileira já reúne as condições necessárias para dar início à redução da taxa. O BC ainda se mantem cauteloso, conforme comunicado divulgado na última quarta-feira (21), após reunião do Copom que manteve a Selic em 13,75% ao ano.

 

Emissão de títulos sustentáveis

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse ainda que o governo federal está trabalhando para lançar títulos sustentáveis no mercado externo a partir de setembro. Segundo ele a emissão dos títulos deve marcar um “passo concreto do Brasil” dentro da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). Ceron participou na quinta-feira (22) da primeira reunião do Comitê de Finanças Sustentáveis Soberanas. O colegiado, presidido pelo secretário, será responsável por elaborar o arcabouço das emissões e posteriormente pelo processo de prestação de contas dos compromissos firmados nas emissões.

“Desde o início de janeiro estamos trabalhando nessa agenda, buscando no segundo semestre, materializar a presença do Brasil no mercado mundial de bonds sustentáveis”, afirmou Ceron.”Há um apetite e um interesse muito grande de investidores externos e o momento exato do lançamento do papel no mercado internacional vai depender da melhor janela de oportunidade até o final do ano. A data adequada entre setembro, outubro e novembro vai depender da janela de mercado, é um posicionamento estratégico do Tesouro para encontrar a melhor janela de oportunidade para realizar as emissões”, completou. (Foto: Wilton Junior/Estadão)

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