Brasil concentra metade da sua riqueza na mão de 1% da população, diz pesquisa

Relatório revela que enquanto o mundo viu a quantidade de milionários reduzir 6% de 2021 para 2022, no Brasil, essa taxa aumentou 40%. A Reforma Tributária pode frear tendência

 

O Brasil é o país com a maior concentração de riqueza do mundo. De acordo com o relatório Global Wealth Report 2023, lançado recentemente pelo banco suíço UBS, quase metade de toda a riqueza no Brasil está concentrada na mão do 1% da população. A análise do levantamento mostra que, em 2022, 48,4% da riqueza brasileira estava nas mãos dos super-ricos. O índice é o maior entre os países analisados.

A pesquisa analisou o patrimônio familiar de 5,4 bilhões de pessoas em todo o planeta. O estudo revela que a desigualdade no mundo teve leve queda em 2022. No ano analisado, a riqueza do 1% mais rico recuou para 44,5%, ante 45,6% em 2021. Apesar do Brasil ter acompanhado a tendência de queda, o país segue com uma taxa vergonhosa: quase metade da riqueza do país (48,4%) está nas mãos de apenas 1% da população (em 2021, o 1% detinha 49,3%). Ou seja, enquanto em todo o mundo o número de milionários teve queda de aproximadamente 6%, (eram 59,4 milhões em 2021 e 55,9 milhões em 2022), no Brasil, o número cresceu 41% (eram 293 mil em 2021 e 413 mil em 2022).

Encabeçando a lista de perdas de riqueza em 2022 estão os Estados Unidos, seguidos pelo Japão, China, Canadá e Austrália. Já os maiores aumentos de riqueza foram registrados na Rússia, México, Índia e Brasil. Junto com a diminuição da riqueza agregada, a desigualdade global de riqueza também caiu em 2022, com a participação da riqueza do 1% mais rico global caindo para 44,5%.

O número de milionários no mundo caiu 3,5 milhões em 2022, para 59,4 milhões. Esse número, no entanto, não leva em conta 4,4 milhões de “milionários da inflação”, que não se qualificariam caso o limite milionário fosse corrigido pela inflação do ano passado. Ainda de acordo com a análise do UBS, o crescimento nos países de renda média será o principal motor das tendências globais nos próximos anos.

Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), traçando dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a PNAD contínua, mostrou que, para os 1% mais ricos brasileiros, o patrimônio é de R$ 4,6 milhões por pessoa, considerando pessoas maiores de 18 anos. Já para o 0,1%, esse valor aumenta para R$ 26,2 milhões por pessoa.

Metade do patrimônio dos 1% mais ricos do País é constituído por imóveis, que representam o principal ativo das pessoas abastadas, seguido por ações de empresas e automóveis. O título de país com a maior concentração de renda do mundo deveria convencer a sociedade brasileira de que a segunda fase da Reforma Tributária precisa avançar na taxação das grandes riquezas.

Em setembro, na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta sobre a fome e a desigualdade no mundo. “Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio”, disse Lula.

Foi nesse intuito que no primeiro semestre o governo federal se empenhou em propor a Reforma Tributária, que teve sua primeira fase aprovada na Câmara dos Deputados, em julho deste ano. O projeto, que tramita agora no Senado, reformula a tributação sobre o consumo no país, simplificando e unificando os três impostos federais (PIS, Cofins e IPI), que serão substituídos pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e os impostos estaduais e municipais (ICMS e ISS), que serão unificados pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

Se aprovado pelos senadores, o novo modelo de tributação dos impostos sobre o consumo pode garantir a sustentação para o crescimento econômico do país. No entanto, a mudança só corrigiria uma distorção que há muito tempo já deveria ter sido feita e que os legisladores postergaram por décadas. A mudança mais urgente é a segunda fase da reforma tributária, que pode reverter a regressividade do imposto no Brasil. No Brasil, os pobres pagam, proporcionalmente à sua renda e ao seu patrimônio, muito mais impostos do que os ricos. Quanto menor o salário, proporcionalmente, maior é a carga tributária.

Com essa política tributária, apesar de indivíduos com rendas diferentes pagarem a mesma taxa embutida nos produtos consumidos, o peso no bolso de cada um deles é muito diferente. A segunda fase da reforma tributária, por tanto, modificaria o imposto sobre a renda dos cidadãos, passando a taxar de forma mais significativa a distribuição dos lucros e dividendos.

Parcela da riqueza detida pelos 1% mais ricos:

  1. Brasil: 48,4%;
  2. Índia: 41%;
  3. Estados Unidos: 34,3%;
  4. China: 31,1%;
  5. Alemanha: 30%;
  6. Coreia do Sul: 23,1%;
  7. Itália: 23,1%;
  8. Austrália: 21,7%;
  9. França: 21,2%;
  10. Reino Unido: 20,7%;
  11. Japão: 18,8%.

(Foto: Reprodução)

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