Brasil avalia reduzir tarifa de importação do etanol para negociar com os EUA

Diante da possibilidade de tarifas recíprocas anunciadas por Donald Trump durante sua campanha nos EUA, a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está considerando diminuir a taxa de importação do etanol, atualmente fixada em 18%. Essa ação pode abrir espaço para a entrada do etanol americano, derivado do milho, no mercado brasileiro e funcionar como uma vantagem nas discussões comerciais com Washington.

Conforme informou a CNN Brasil, a ideia de zerar a tarifa ou estabelecê-la em um patamar quase nulo está sendo debatida entre os membros do governo como uma estratégia para alcançar duas metas ao mesmo tempo. “Resolver dois problemas com uma única ação”, disse um funcionário do governo que falou com os repórteres.

Por um lado, a alteração pode ser utilizada como uma barganha com os Estados Unidos, ao invés de ser uma cedência sem contrapartida. Por outro lado, o aumento da disponibilidade de etanol proveniente do milho poderia impactar os preços no mercado interno, afetando até mesmo a gasolina, em um período em que o governo Lula enfrenta uma queda de apoio popular devido ao aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos.

Entretanto, a proposta encontra oposição política, sobretudo entre os proprietários de usinas. A conversa se em um cenário de transformações significativas no setor. No período do governo de Jair Bolsonaro (PL), a taxa de importação foi suspensa temporariamente na tentativa de controlar a inflação dos combustíveis durante as eleições de 2022. O índice foi restabelecido em 18% no começo de 2023, já sob a administração de Lula.

Atualmente, a análise no governo é de que o setor sucroenergético está mais apto a enfrentar a concorrência. Na região Nordeste, que apresenta custos de produção mais altos, houve um expressivo aumento no surgimento de novos negócios nos últimos anos. No Piauí, por exemplo, importantes iniciativas destinadas à produção de etanol a partir de grãos, como milho e sorgo, foram concretizadas.

O Brasil está avaliando a possibilidade de aumentar a proporção de etanol na gasolina de 27% para 30%. Essa alteração foi permitida pela Lei do Combustível do Futuro, que foi sancionada em 2024, e atualmente está sendo testada pelas fabricantes de automóveis, que devem divulgar os resultados em breve. Caso não sejam observados efeitos adversos nos motores, a mudança poderá ser implementada ainda no primeiro semestre. O aumento na mistura geraria uma demanda extra de 1,2 a 1,4 bilhão de litros de etanol anidro anualmente, contribuindo para suavizar os efeitos da abertura do mercado para o produto dos Estados Unidos.

A potencial diminuição do preço do etanol acontece em um contexto em que os Estados Unidos estabelecem novas restrições comerciais ao Brasil. A administração Trump declarou a implementação de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, o que impacta diretamente as exportações brasileiras, que totalizam cerca de US$ 3 bilhões por ano.

Com o intuito de abordar a situação, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, agendou uma reunião para esta quinta-feira (6) com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. O MDIC a diminuição da tarifa sobre o etanol como uma chance de negociação para atenuar as limitações impostas ao aço e ao alumínio brasileiros.

No Ministério da Agricultura, uma esperança de que a redução da taxa para o biocombustível dos Estados Unidos possa resultar em benefícios para o setor agrícola. Entre as principais solicitações do Brasil estão a expansão do acesso do açúcar brasileiro ao mercado norte-americano — atualmente restringido por cotas severas — e a reabertura do mercado para limões, que está fechado há mais de 20 anos. (Foto: Rick Wilking/Reuters)

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