Em uma matéria divulgada neste sábado, o jornal norte-americano The Wall Street Journal cita o Brasil como um exemplo negativo que ilustra como o protecionismo pode prejudicar uma economia e restringir a competitividade do setor industrial. A reportagem estabelece uma comparação entre as escolhas econômicas do Brasil e as metas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca alcançar.
“O Brasil apresenta uma perspectiva de um sistema econômico que se assemelha ao defendido por Donald Trump, que sugeriu implementar as maiores tarifas em décadas sobre quase todas as nações”, destaca a passagem.
A publicação utiliza a situação do Brasil como exemplo para demonstrar os impactos negativos de altas tarifas de importação, restrições cambiais e obstáculos administrativos. Apesar de ter mantido postos de trabalho em determinados segmentos, o WSJ destaca que essa abordagem aumentou os preços para os consumidores, inibiu a inovação e ajudou a reduzir a produtividade da economia brasileira.
A matéria destaca que um iPhone fabricado no Brasil, por exemplo, tem um preço quase duas vezes maior em comparação ao disponível nos Estados Unidos, enquanto uma caixa de chá inglês pode chegar a mais de US$ 50.
O texto destaca que, na década de 1980, a indústria contribuía com 36% do PIB do Brasil. Atualmente, essa participação caiu para apenas 14%. Segundo o WSJ, essa redução pode ser atribuída à política protecionista adotada nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista, o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, afirmou que, no período pós-Guerra, existia a crença de que a implementação de tarifas protecionistas beneficiaria a indústria local e impulsionaria um crescimento duradouro, uma avaliação que, segundo ele, não se concretizou.
Ao implementar políticas parecidas, os economistas alertam que os Estados Unidos poderiam reproduzir o modelo brasileiro, enfrentando uma diminuição na eficiência, queda na produtividade e efeitos adversos para os consumidores. O artigo ressalta que, com um crescimento médio de pouco mais de 2% ao ano nas últimas vinte anos, o Brasil se afastou de se consolidar como a potência econômica que se esperava há algumas décadas.
Embora existam semelhanças entre Brasil e EUA, a matéria destaca que, de maneira geral, as empresas americanas beneficiam-se de uma infraestrutura superior, menos entraves burocráticos e um sistema fiscal mais descomplicado. No entanto, conclui que a adoção do modelo brasileiro poderia impactar negativamente os ganhos a longo prazo.
Após a queda do mercado de ações, Trump realizou alguns recuos, como a suspensão de 90 dias na imposição de determinadas tarifas e a isenção para itens de tecnologia, anunciada na sexta-feira.
A matéria chega à conclusão de que, apesar de o protecionismo ter atuado como uma barreira durante períodos de crise, ele também provocou distorções estruturais e ajudou a agravar o que é conhecido como “Custo Brasil” — um termo que se refere aos obstáculos que aumentam os custos e dificultam o ambiente de negócios no país.
“O Brasil se apoiou no consumo interno durante períodos de crises econômicas globais, desde os choques petrolíferos na década de 1970 até a crise financeira de 2008-2009. No entanto, também desenvolveu uma mentalidade de conforto e proteção em tempos prósperos, o que resultou em um aumento nos preços dos produtos para os consumidores”, ressalta o documento. (Reprodução)