Munduruku seguem firmes no 14º dia de mobilização contra o Marco Temporal e entregam carta aos caminhoneiros na BR-163
Itaituba (PA) – Nesta segunda-feira (7), indígenas Munduruku seguem bloqueando a BR-163, em Itaituba (PA), em protesto contra a Lei 14.701, que oficializa a tese do Marco Temporal — um retrocesso que tenta negar o direito dos povos originários às suas terras, limitando a demarcação apenas aos territórios ocupados até 1988.
Na última sexta-feira (5), os Munduruku entregaram uma carta aos caminhoneiros que trafegam pela rodovia, buscando diálogo com a sociedade e deixando claro os motivos da mobilização. Intitulado “Carta às comunidades e a todos que querem entender a nossa luta”, o documento denuncia as violações sofridas em seus territórios.
“Vivemos em nossos territórios e testemunhamos a contaminação ilegal do garimpo, a degradação de nossas roças, a mudança do clima, a seca de nossos poços e rios. Estamos vendo a fome chegar aos nossos mais velhos e às nossas crianças”, diz um trecho da carta.
O bloqueio começou em 25 de março, um dia antes da retomada da audiência de conciliação no STF sobre uma proposta alternativa ao Marco Temporal — proposta esta que foi rejeitada pelos povos indígenas por não garantir a proteção efetiva de seus direitos.
De lá pra cá, o acampamento cresceu: de cerca de 90 pessoas no início, agora são quase 200 indígenas organizados em barracas e turnos, garantindo a resistência dia e noite. O tráfego de ambulâncias, veículos com doentes e carros de passeio continua liberado. À noite, o bloqueio é suspenso temporariamente para evitar maiores tensões.
A luta dos Munduruku é também a luta por justiça ambiental, por autodeterminação e contra o avanço da destruição promovida por garimpeiros ilegais e grandes interesses econômicos.
A Terra Indígena Munduruku é a segunda mais afetada pelo garimpo ilegal no Brasil, ficando atrás apenas da Terra Yanomami, que enfrenta uma grave crise humanitária causada pela atividade criminosa.” Os povos indígenas não vão recuar. O Brasil precisa nos ouvir” , afirmou o líder. (Foto: Arquivo / Indígenas)