Bolsonaro tenta chantagear STF para esvaziar ato de 7 setembro

Enquanto articula um novo golpe nos bastidores para tentar reverter sua inelegibilidade, Jair Bolsonaro (PL) estaria colocando aliados de sua confiança para tentar chantagear o Supremo Tribunal Federal (STF) com o ato convocado por Silas Malafaia e a cúpula neofascista para pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, marcado para o próximo dia 7 de Setembro.

Segundo a coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, “aliados de Bolsonaro passaram a defender, junto a membros do STF, que convençam Moraes a fazer um gesto ao ex-presidente, como o arquivamento de uma das ações que miram Bolsonaro”.

Em troca, a cúpula neofascista agiria para desmobilizar a horda extremista e, assim, esvaziar o ato pelo impeachment de Moraes.

A reportagem diz que a chantagem está sendo feita por “interlocutores de Jair Bolsonaro que atuam como bombeiros entre o ex-presidente e o STF”.

“A leitura é que, casos apontados pelos próprios ministros como menos graves envolvendo o capitão reformado, como a investigação sobre falsificação do certificado de vacinas ou das joias da Arábia Saudita, poderiam ter esse caminho”, diz o texto, sinalizando que o pedido é para arquivar a investigação sobre furto e contrabando de presentes recebidos pelo governo brasileiro para serem vendidos nos EUA.

 

Interlocutores?

Ainda segundo a reportagem, na negociata, esses “interlocutores” teriam dado aval para que a investigação sobre a tentativa de golpe seguiria avançando, com potencial de colocar Bolsonaro atrás das grades.

“A avaliação deles é que esse inquérito, que tem chance de culminar em uma ordem de prisão de Bolsonaro depois do trânsito em julgado, é ‘intocável e inegociável’”, diz a jornalista d’O Globo.

Essa não é a primeira vez que Moraes sofre pressão para abrandar os inquéritos relacionados ao ex-presidente.

No mesmo jornal O Globo, em 18 de maio deste ano, Malu Gaspar fala de um encontro para pressionar Moraes a recuar nas investigações.

A reunião para pressionar Moraes teria sido articulada pelo advogado Eduardo Kuntz, que mais recentemente adotou a defesa de Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) e dono do celular de onde teriam vazado as conversas usadas pela Folha e Glenn Greenwald sobre a “atuação fora do rito” do ministro do STF.

Ligado a Michel Temer (MDB), Eduardo Kuntz tem trânsito no meio militar e faz a defesa, entre outros, de dois ex-assessores alvos de inquéritos envolvendo Jair Bolsonaro (PL): o coronel do Exército Marcelo Câmara, membro da organização criminosa descrita no inquérito dos atos golpistas; e o  capitão de corveta Marcela da Silva Vieira, que foi preso nas investigações sobre o furto de joias da Presidência.

Chefe de gabinete adjunto de Documentação Histórica da Presidência – responsável, entre outros, pelas joias e presentes – durante o mandato de Bolsonaro, Marcelo Vieira foi nomeado para a função por Michel Temer (MDB) em 2017.

Kuntz também atuou na defesa de outros bolsonaristas acusados de atuar na Organização Criminosa de Bolsonaro, como Tércio Arnaud, que comandou o Gabinete do Ódio, e Fabio Wajngarten, que se afastou do corpo de advogados do ex-presidente ao ser indiciado na quadrilha de furto de joias.

Segundo Malu Gaspar, a decisão de Moraes de soltar Câmara – braço direito do tenente-coronel Mauro Cid – se deu após Tarcísio, Temer e o comandante do Exército, Tomás Paiva, procurarem o ministro dizendo que ele “precisava começar a ‘calibrar’ suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita”.

“Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3 [de abril de 2024]”, diz a jornalista d’O Globo.

Ainda segundo Malu Gaspar, “a soltura de Câmara também entrou no ‘pacote’ que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no TSE.

“Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a Procuradoria-Geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro”, segue a jornalista, em referência à nomeação de Paulo Sergio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do MP-SP, para a Procuradoria-Geral do Estado. Terceiro na lista tríplice, o novo PGE teria forte ligação e foi indicado a Tarcísio por Moraes. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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