Depoimento está previsto para 31 de agosto na apuração parcialmente arquivada por Moraes
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi intimado novamente pela Polícia Federal (PF) a prestar depoimento. Desta vez, ele deverá se explicar no caso de empresários bolsonaristas que discutiram a possibilidade de um golpe de Estado caso Lula (PT) ganhasse as eleições de 2022 através do WhatsApp. A oitiva deve ocorrer na próxima quinta-feira (31). Bolsonaro já foi ouvido pela PF em outras quatro investigações desde que deixou a Presidência. Ele já compareceu à sede da PF para explicar o caso das joias sauditas recebeu de presente, sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, sobre fraudes nos cartões de vacinas e sobre um suposto plano de golpe de Estado.
Aliados de Bolsonaro defendem que a defesa do ex-presidente tente adiar o depoimento até que os advogados recebam mais informações sobre o inquérito. O caso é relatado por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e foi parcialmente arquivado. Resta ainda a apuração contra os empresários Meyer Nigri, da Tecnisa, e Luciano Hang, da Havan. O depoimento de Bolsonaro está previsto para o dia 31 de agosto.
As conversas entre os empresários em grupo de WhatsApp foram reveladas na época pelo site Metrópoles. Após a divulgação das mensagens, participantes negaram intenção golpista. A revelação da troca de mensagens resultou em mandados de busca e apreensão da PF contra os empresários após autorização de Moraes, em agosto de 2022. A decisão tinha como base somente a reportagem sobre conversas de teor golpista – nenhuma outra diligência preliminar havia sido realizada.
A intimação de Bolsonaro tem relação com conversas encontradas no celular de Meyer Nigri e com a relação do ex-presidente com Hang. Em uma conversa com Nigri, Bolsonaro pede para que ele repasse “ao máximo” uma mensagem que sugeria, sem provas, uma fraude do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “A análise das mensagens do aplicativo WhatsApp contidas no telefone celular apreendido identificou que as três mensagens investigadas foram encaminhadas originariamente pelo contato registrado como 556182919606@s.whatsapp.net Pr Bolsonaro 8”, diz o relatório.
A PF diz que o contato que seria de Bolsonaro enviou a Nigri “as mensagens com conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake news), atacando integrantes de instituições públicas”.
A transcrição de uma das mensagens consta do documento: “O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o veto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERENCIA”.
“Todo esse desserviço à Democracia dos 3 ministros do TSE STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O Datafolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral REPASSE AO MÁXIMO”, diz ainda o texto.
Ao arquivar o caso contra os outros empresários, Moraes citou a conversa encontrada pela PF nos celulares apreendidos nas buscas. Segundo os investigadores, a relação do empresário Meyer Nigri com o ex-presidente teria a “finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à democracia e ao Estado democrático de Direito, utilizando-se do mesmo modo de agir da associação especializada investigada no Inq. 4874/DF”.
O inquérito 4874/DF é o das milícias digitais e também relatado por Moraes. Ele manteve as investigações sobre Nigri sob o argumento de que há necessidade de continuidade das diligências da PF, porque o relatório da corporação encontrou existência de vínculo entre ele e Bolsonaro, sobretudo em disseminação de notícias falsas. O ministro, no entanto, determinou o arquivamento das apurações em relação aos empresários José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Sierra), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Bandeira (Coco Bambu).
(FOTO: REUTERS/MARCO BELLO)