Bolívia prende 17 pessoas ligadas à tentativa fracassada de golpe de Estado

Além de Zúñiga, também foi detido e destituído o ex-vice-almirante da Marinha Juan Arnez, considerado como um dos principais responsáveis pela tentativa fracassada de golpe. Pelo menos, 12 pessoas ficaram feridas durante o ataque em La Paz

 

Autoridades da Bolívia prenderam nesta quinta-feira (27)  17 pessoas envolvidas na tentativa de golpe militar liderada pelo general Juan José Zúñiga, que falhou após algumas horas. Segundo o ministro de Governo da Bolívia, Eduardo del Castillo, os detidos agiram sob a ordem de Zúñiga, que foi destituído na quarta-feira (26) e preso horas depois que sua tentativa de golpe falhou por falta de apoio amplo das Forças Armadas boliviana, segundo o ministro da Defesa, Edmundo Novillo, disse hoje em coletiva de imprensa.

“Efetuamos a apreensão de um total de 17 pessoas por tentarem consumar um golpe de Estado”, declarou em coletiva de imprensa o ministro de Governo (Interior), Eduardo del Castillo.

Haviam sido presos até quarta-feira (26) o general Juan José Zúñiga e o vice-almirante Juan Arnez, ex-comandantes do Exército e da Marinha, respectivamente, acusados de liderar a tentativa de golpe. Nesta quinta, o governo apresentou os outros 15 capturados, que estavam algemados, vestiam coletes à prova de balas e eram vigiados por efetivos policiais.

“Isso [tentativa de golpe] estaria planejado desde maio”, disse o ministro, informando que outros três suspeitos estão sendo procurados. Segundo del Castillo, o plano para derrubar Arce “foi liderado” por Zúñiga e Arnez.

Ambos os oficiais foram acusados de insurreição armada e terrorismo, crimes pelos quais podem ser condenados a penas de até 20 anos, segundo o Ministério Público. “Temos informações suficientes (…) graças ao trabalho que está sendo realizado pelo Ministério Público e pela polícia para desmantelar essa ‘rede antidemocrática’, que foi formada por um pequeno grupo de soldados que tiveram a audácia de tentar tomar o poder, que reside no povo, pela força com metralhadoras e veículos”, disse o ministro.

 

Como foi a tentativa de golpe

O ex-comandante do Exército boliviano Juan José Zúñiga, principal liderança da tentativa de golpe contra o presidente da Bolívia, Luís Arce, foi preso na noite de quarta-feira (26) na capital do país. Na quarta, Zúñiga mobilizou um grupo de soldados encapuzados e tomou a Plaza Murillo, o centro do poder político da Bolívia, onde funcionam os órgãos Executivo e Legislativo, com tanques e soldados com armas de grosso calibre. Como resultado disso, pelo menos 12 pessoas foram feridas, por balas de borracha e munição letal, como parte da violência exercida pelos militares.

A quartelada teve início na manhã desta quarta quando Zúñiga se apresentou para o posto de comandante do Exército apesar de ter sido destituído por Arce na noite de terça-feira (25). A decisão do presidente aconteceu após o militar de alta patente se opor publicamente à candidatura do ex-presidente Evo Morales para disputar as eleições do ano que vem. Em declarações nesta semana ele chegou a dizer que Morales “não pode mais ser presidente deste país” e afirmou que estaria disposto a oferecer a vida “pela defesa e unidade da pátria”.

Por volta das 14h, Zúñiga se dirigiu à Praça Murillo, em La Paz, onde liderou uma tentativa de golpe em um tanque do Exército acompanhado de outros militares e 12 tanques. Os golpistas tentaram invadir a Casa Grande del Pueblo, uma das sedes do governo boliviano, quando houve um enfrentamento verbal com o presidente Arce, que ordenou o recuo do general. No momento em que população boliviana se dirigia à Praça Murillo em defesa da democracia, o soldado entrou em seu veículo blindado e deixou o local.

O presidente boliviano prestou então o juramento de posse do novo alto comando militar. Após a partida de Zúñiga, a praça se tornou palco de comemorações populares e um discurso de Arce junto de seu gabinete. O presidente agradeceu às organizações e disse que os responsáveis devem responder judicialmente pelo golpe frustrado o mais rápido possível.

(Foto: Daniel Miranda/AFP)

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