Bisneto de Nelson Mandela diz que transformação social é inclusão produtiva

Nelson Mandela, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993 e presidente da África do Sul de 1994 a 1999, tem seu legado reforçado por apoiadores e admiradores das lutas que promoveu.

Depois de vinte anos preso, Mandela foi um dos nomes mais emblemáticos na luta contra o Apartheid, a segregação de raças praticadas por colonos no país africano.

Hoje, seu bisneto, Siyabulela Mandela, de 31 anos, dá continuidade ao trabalho de defesa dos direitos humanos e da liberdade.

Em visita ao Brasil, o ativista e doutor em filosofia e políticas internacionais apresentou suas ideias em debates sobre a inclusão.

Em São Paulo, após  participação em um dos painéis do MaturiFest, evento de empreendedorismo e trabalho focado em pessoas com 50 anos ou mais, Siyabulela  falou à imprensa dizendo que são ações “são focadas em avançar uma agenda para a paz, para os cumprimento dos direitos humanos e a promoção da justiça social. Estudei filosofia e política para saber profundamente sobre as injustiças do sistema colonial, da escravidão e do regime do Apartheid. Isto me coloca numa posição de entender os sacrifícios de meu bisavô e de todos aqueles da sua geração. Há um ditado em minha cultura que diz: ‘a estrada só é conhecida por quem andou por ela’. Nós, como jovens, precisamos aprender com gerações anteriores, entender os desafios da época e aplicar ideias inovadoras para resolver o que não deu certo”.

Para ele, as gerações atuais têm a responsabilidade de garantir que as injustiças sociais sejam combatidas.

“Nossos antepassados lutaram para que tivéssemos condições melhores. E, devemos fazer o mesmo. Homens e mulheres morreram e foram presos para que nós aproveitássemos a liberdade de hoje”, diz.

Ainda sobre a influência do bisavô, ele reconhece que é preciso entender os melhores métodos da época para as conquistas de direitos. “Nelson era um líder pragmático que sabia da necessidade de implementar táticas efetivas”.

O desafio, contudo, ainda é garantir o poder econômico para toda a população, e o fim das mazelas que o racismo provoca. “A África do Sul ainda está sob o poder de gente que deixa a maioria das pessoas em situação de pobreza. A maior parte da população não tem acesso aos serviços básicos e à terra”.

 

As similaridades entre a África do Sul e o Brasil

Essa é a segunda vez que Siyabulela visita o Brasil. Nas visitas ele tem conhecido projetos de impacto social e empreendedorismo, e tem percebido as semelhanças e diferenças entre o Brasil e a África do Sul. Nos desafios, o que lhe chama a atenção é o desemprego dos jovens e a falta de oportunidade econômica.

“As favelas de São Paulo, como Paraisópolis, são bastante parecidas com as townships, como chamamos as favelas do meu país. E os problemas são similares, como as altas taxas de desemprego. Há também uma questão de racismo estrutural e sistêmico que torna a população negra mais afetada”.

Para ele, isto significa oportunidade para que os países trabalhem conjuntamente. “Agora mesmo o presidente Lula está no meu país, e vamos aguardar a possibilidade que possamos fazer parte dos Brics para trabalharmos em conjunto”. Mas, apenas o trabalho do governo não basta, como reforça Siyabulela. “Quando falamos de transformação social, estamos falando de inclusão produtiva, que não acontece apenas com ações do governo. Precisamos de colocaboração do setor privado para resolver os desafios das comunidades”.

Para Siyabulela, exemplo disto é de um projeto que viu no Brasil para a digitalização de pequenos empreendedores moradores de favelas. “Isto gera independência financeira e beneficia famílias inteiras, que passa a consumir mais e não depender apenas dos auxílios do governo. Ao fim do dia, esta inclusão é boa para toda a população”.  (Foto: Andrew Caballero Reynolds/AFP/Getty Images)

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