BC volta a subir juros após mais de 2 anos, e Selic vai a 10,75%

Esse é o primeiro acréscimo na taxa no governo Lula, o que não ocorria desde agosto de 2022. Alta ocorre em meio à preocupação com alta da inflação, com previsão de pressão nos preços em ambiente de estiagem, queimadas e crescimento da economia acima do esperado

 

Depois de dois anos, o juro básico do país voltou a subir. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu retomar o ciclo de alta da taxa Selic nesta quarta-feira (18), elevando os juros básicos em 0,25 ponto percentual, de 10,50% para 10,75% ao ano.

Esse é o primeiro aumento da Selic do terceiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – último acréscimo no juro foi em agosto de 2022 – e vai na contramão dos Estados Unidos, que deram o pontapé inicial no processo de corte de juros após quatro anos nesta quarta.

A decisão foi tomada por unanimidade no colegiado, que atualmente é liderado pelo presidente Roberto Campos Neto. O movimento de aperto da Selic ainda coincide com a primeira reunião após a indicação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, à presidência do órgão no ano que vem. Em relação aos passos futuros, o BC não fez nenhuma sinalização firme sobre o ritmo e o tamanho do ciclo de aperto monetário.

Galípolo foi indicado por Lula para assumir o comando do BC a partir do ano que vem, em substituição a Roberto Campos Neto. A taxa básica de juros tem sido um foco de duros embates entre Lula e o Banco Central, especialmente na figura de Campos Neto.

Desde 2021, quando o Congresso Nacional aprovou a autonomia do BC, o mandato do presidente da autoridade monetária não coincide com o do presidente da República. Campos Neto foi indicado ao cargo por Bolsonaro, e Lula não pode destituí-lo por vontade própria até o fim do mandato, em dezembro deste ano. Com a nova decisão do Copom, o Brasil fecha esta quarta-feira com a segunda maior taxa real de juros do mundo.

Em primeiro lugar no ranking da taxa real, que desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses, está a Rússia, com 9,05%. Com o aumento de 0,25 ponto na Selic, o Brasil chegou a 7,33%, ante 5,47% da Turquia, a terceira colocada. O monitoramento é da consultoria MoneYou.

Completam a lista dos 10 primeiros México (5,45%), Indonésia (4,37%), Índia (3,08%), África do Sul (2,96%), Colômbia (2,37%), Tailândia (2,03%) e Hungria (1,91%). O Brasil seria o segundo colocado no ranking da taxa geral ainda que o Copom optasse por manter a Selic em 10,5% ao ano – neste caso, o País registraria um índice real de 7,08%.

O aumento já era esperado pela maior parte do mercado. Crescimento da economia acima das expectativas, previsão de inflação elevada e necessidade de reforçar credibilidade na política monetária são alguns dos motivos que explicam esse viés de alta, segundo especialistas.

Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que o BC analisa dois movimentos distintos. Em uma ponta, juros caindo nos Estados Unidos e deflação recente criam ambiente para manutenção do juro no nível atual. No entanto, na outra extremidade, fatores como estiagem e impacto nos custos de energia pesam mais no lado pela elevação da Selic, segundo Ribeiro:

“A tendência é de que aumente a energia por conta da estiagem. Tem também  a questão das queimadas, que vai reduzir a área plantada e isso pressiona preços. Então, isso vai fazer com que a inflação para frente seja maior. Temos outro fator recente, que foi o PIB vindo mais forte do que estava imaginado. Se a economia cresce mais, significa dizer que a demanda cresce e a oferta menor vai pressionar preços”, avaliou.

 

Confira os resultados das reuniões do Copom desde o início do ciclo de reduções na Selic:

  • agosto de 2023: de 13,75% para 13,25%;
  • setembro: de 13,25% para 12,75%;
  • novembro: de 12,75% para 12,25%;
  • dezembro: de 12,25% para 11,75%;
  • janeiro de 2024: de 11,75% para 11,25%;
  • março: de 11,25% para 10,75%;
  • maio: de 10,75% para 10,50%;
  • junho: manutenção em 10,50%;
  • julho: manutenção em 10,50%.

(Foto: Felipe Menezes/Metropoles)

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