BC aperta freio e reduz Selic para 10,50% ao ano

Redução ficou em 0,25 ponto percentual

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou na noite desta quarta-feira (8), uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, de 10,75% ao ano para 10,50%. Este é o sétimo corte seguido na taxa básica de juros desde agosto de 2023, quando o índice estava em 13,75% ao ano.

É, porém, o primeiro corte de 0,25% neste ciclo, marcando uma mudança de ritmo. Até então, a cada reunião o comitê vinha reduzindo a Selic em 0,5 ponto percentual. Ainda assim, a taxa em 10,75% está no menor nível desde fevereiro de 2022, quando registrou 9,25% ao ano.

A decisão foi dividida entre os nove membros do comitê, colocando em lados opostos os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira) e os componentes que estavam na gestão Jair Bolsonaro, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Além de pisar no freio, o comitê também não deu nenhuma indicação sobre o futuro da taxa básica de juros. Essa é a primeira vez desde agosto, quando começou o ciclo de queda, que o BC não sinaliza o que pretende fazer na reunião seguinte. No comunicado da decisão, o Copom citou que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela.

Apesar de contrariar a indicação dada pelo Copom na reunião anterior, em março, de mais uma queda da Selic de 0,50 ponto porcentual, a redução mais modesta já era esperada pela maior parte do mercado financeiro desde meados de abril.

Em meados de abril, em evento do FMI, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reagiu a notícias negativas sobre a situação fiscal no Brasil e à inflação dos Estados Unidos, que levaram a um salto no dólar, e indicou que o BC deveria optar por uma marcha mais lenta se não houvesse diminuição da incerteza. Caso houvesse alívio, Campos Neto havia apontado que o comitê poderia seguir o plano traçado de ao menos mais um recuo de 0,50 ponto.

A declaração ocorreu na semana em que o governo brasileiro alterou as metas fiscais de 2025 em diante, prevendo alvos menos ambiciosos, o que segundo Campos Neto aumentou o cenário de incerteza sobre o controle fiscal no Brasil. Desde lá, porém, o mercado acalmou, o dólar recuou e novos dados de inflação local foram mais favoráveis, o que mantinha a redução de 0,50 ponto em jogo.

Por outro lado, desde o Copom de março, houve aumento nas expectativas de inflação para 2025, ano em que o BC está focado para trazer a inflação para a meta. No Boletim Focus, a projeção para o IPCA – índice oficial de inflação – passou de 3,52% para 3,64%, contra o centro da meta de 3,0%. Além disso, os dados de mercado de trabalho continuaram fortes, mantendo o receio sobre os impactos nos preços de serviços, outra preocupação da instituição. A inflação este ano ainda deve sofrer com as consequências provocadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

As projeções oficiais de inflação do BC subiram desde março. Para este ano, houve um salto de 3,5% para 3,8%, enquanto, para 2025, o aumento foi de 3,2% para 3,3%. Em relação à atividade econômica, o Copom avaliou que os dados estão mais dinâmicos do que o esperado, o que, na prática, pode gerar mais pressão inflacionária. No exterior, o BC considerou que o cenário está mais adverso em função da incerteza com a política monetária nos EUA e com a velocidade da queda da inflação no mundo.

No comunicado de hoje, o BC ainda disse que acompanhou com “atenção” os eventos recentes da política fiscal e os impactos sobre a política monetária. E fez um alerta: “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”

 

Confira a íntegra do comunicado do Copom:

 

“O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização de política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,7% e 3,6%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,8% em 2024 e 3,3% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,8% em 2024 e 4,0% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.

O Comitê acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,50% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,15/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)

 

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