Bancos otimistas com pacote, mas meta fiscal preocupa

O Acredita, pacote de medidas anunciadas nesta segunda-feira pelo presidente Lula, com direito a puxão de orelhas em ministros, foi bem recebido pelos setores bancário e financeiro, mas alguns fatores nos cenários interno e externo preocupam quanto à possibilidade de haver o pretendido impulso no crédito, e, portanto, no crescimento, a partir das medidas anunciadas, como o Desenrola para pequenas e micro empresas e a criação de um mercado secundário de crédito imobiliário.

No front doméstico, a incerteza quanto à capacidade de o governo cumprir a meta fiscal, mesmo revista, e os embates políticos entre os Poderes, inclusive com a incapacidade do Executivo de fazer valer a sua agenda econômica no Congresso, são vistos como fatores negativos.

No cenário externo, a incerteza quanto ao início da queda dos juros nos Estados Unidos é o fator mais citado de ceticismo.

Já os indicadores do dia a dia da economia são considerados extremamente positivos para o governo buscar incrementar o crédito e, consequentemente, dar mais tração ao crescimento econômico: inflação na meta, Selic ainda em trajetória de queda e a inadimplência bancária também em declínio.

“Temos uma janela para ampliar o acesso ao crédito, pois estamos num contexto de inflação na meta, com um processo em curso de desinflação gradual e consistente e, ainda, com Selic, spread, taxas de juros e inadimplência em queda. Ou seja, o mercado de crédito está mais funcional. Por outro lado, aumentaram as incertezas no plano fiscal, com a mudança das metas, e com a piora no cenário internacional. Além disso, não dá pra ignorar os desencontros e o tensionamento entre o governo e o Legislativo”, diz o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Segundo ele, “mesmo com esses senões, os bancos não hesitarão em irrigar a economia com crédito para as empresas de menor porte”. “Isso significará mais recursos na atividade econômica, mais empregos e mais renda.”

Resta saber o efeito que o pacote terá no que parece ser o objetivo subjacente do governo ao lançá-lo: dinamizando o crescimento, atingir as classes média e média baixa, reverter a impressão captada em pesquisas de que a economia vai mal (apesar de os indicadores mostrarem o contrário) e, com isso, recuperar a popularidade de Lula nesses mesmos levantamentos.

O Desenrola para pessoa física, por exemplo, tido como grande trunfo para atingir um contingente superior a 35 milhões de pessoas, beneficiou 14 milhões, segundo dados oficiais. Ou seja: ficou bem aquém do potencial de fazer girar a economia, mais pessoas contraírem crédito e, sobretudo, se firmar como uma marca associada ao governo Lula — e, portanto, capaz de alavancar sua popularidade. Até o nome do programa que engloba as várias iniciativas, Acredita, parece conter em si uma mensagem de autoajuda governamental.

Outro risco é que uma série de Medidas Provisórias, como deve ser estruturado o pacotão anunciado nesta segunda, caia num Congresso desarrumado inclua benefícios para outros setores, renegociações de dívidas de setores com lobbies poderosos e outros tipos de contrabando que baguncem ainda mais as contas do governo. (Lançamento do Acredita, em que Lula cobrou ministros  (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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