Ataques a jornalistas despencam em 2023, revela pesquisa

Levantamento da Abraji mostra que mudança do cenário político foi o principal fator na redução da violência contra os profissionais de imprensa. Índice no primeiro ano de governo Lula é 40% menor que o de 2022, último da gestão Bolsonaro

 

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nesta quarta-feira (27) um levantamento que mostra uma redução dos ataques aos jornalistas em 2023. O levantamento, que traz dados e análises sobre a liberdade de imprensa no Brasil, mostrou que no país 330 jornalistas foram vítimas de ataques, número 40,7% menor do que o ano anterior, quando em 2022 foram registrados 557 casos.

Conforme avalia a entidade, os principais ataques ocorridos no ano passado tiveram relação aos episódios de 8 de janeiro, dia dos ataques aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolosnaro. Segundo explicou a pesquisadora Rafaela Sinderski, da Abraji, profissionais da imprensa foram atacados durante esses atos e também sofreram agressões físicas. “Tiveram seus equipamentos destruídos, foram perseguidos e intimidados. Isso se refletiu nos nossos dados”, exemplificou.

Por outro lado, a queda do número de violências em 2023, segundo avaliou a entidade, tem relação com a alteração do cenário político e fim do mandato do então presidente Jair Bolsonaro. Conforme a pesquisadora, o mapeamento contabilizou que 38,2% dos casos registrados foram considerados episódios de violência grave. “São agressões físicas, ameaças de morte, de perseguição, de violência física”, exemplifica a pesquisadora.

Outro tipo de violência, os discursos estigmatizantes, representou 47,2% dos casos. “São ofensas verbais e casos de campanhas de descredibilização de jornalistas, de meios de comunicação e da empresa com questões sociais e questões mais amplas”, apontou. Segundo a pesquisa 55,7% dos casos registrados em 2023 tiveram como agressores agentes estatais, que são funcionários públicos ou agentes políticos em mandato. “Isso é muito preocupante e grave. Principalmente quando são agentes políticos eleitos”.

A pesquisa trouxe também que 52,1% dos ataques tiveram origem ou repercussão na internet. “É muito forte atacar a imprensa e jornalistas, principalmente quando são mulheres. As jornalistas sofrem muita violência online com discursos estigmatizantes nas redes sociais”, disse. O Distrito Federal foi o lugar que mais houve violência contra jornalistas em 2023. “Foram registrados 82 ataques explícitos de gênero ou agressões contra mulheres jornalistas. E o que a gente entende por ataques explícitos de gênero”, afirmou a pesquisadora.

A entidade considera o número preocupante, mesmo havendo uma queda de 43,4% em relação a 2022. Esses ataques usam, por exemplo, questões ligadas à identidade de gênero, à sexualidade e à orientação sexual para atacar jornalistas. Outras tendências, segundo a Abraji, se fortaleceram no último período analisado, como o aumento dos processos judiciais civis ou penais com o intuito de silenciar jornalistas, que chegaram a 7,9% do total de agressões, e o crescimento de agressões graves registradas na categoria de “agressões e ataques”.

 

Criação de mecanismos de defesa aos jornalistas

A Abraji recomenda que os poderes públicos reforcem políticas de proteção a jornalistas e comunicadores vítimas de ataques que estão no exercício da atividade. Além disso, a organização defendeu que as plataformas de redes sociais adotem mecanismos de defesa para o enfrentamento da violência online que atinge os jornalistas.

A associação também pediu às empresas jornalísticas a adoção de medidas de formação, prevenção e formação profissional e que os jornalistas sempre denunciem as agressões sofridas no exercício da profissão.

(Foto: Reprodução/Internet)

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