João Salame – Nos dois primeiros mandatos de Lula despontavam como elaboradores da política petista nomes como José Dirceu, Gilberto Carvalho, Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Guido Mantega e José Genoíno. Todos homens. Com exceção de Gushiken, já falecido, quase todos hoje estão em plano secundário ou foram defenestrados, como Palocci.
Um vácuo foi aberto entre os formuladores da política petista junto ao presidente Lula.
Ex-governadores do partido e advogados aproximam-se do presidente. Mas, no Lula 3, o tom da militância está sendo dado por duas mulheres: Gleisi Hoffman, instalada na presidência do PT, e Janja da Silva, companheira do presidente.
Enquanto Fernando Haddad, Rui Costa, Wellington Dias, Aloísio Mercadante e outros próceres petistas buscam o terreno da governabilidade para se destacar na gestão e consequentemente no partido, Gleisi e Janja vocalizam as pautas que animam a militância. Ainda que não seja um jogo com cartas já definidas é assim que o baralho do poder se move.
Enquanto Haddad defendeu a oneração dos combustíveis, Gleisi foi para o ataque. Enquanto setores temerosos de agressões defendiam uma posse cautelosa, Janja apostou numa grande festa popular e num evento emblemático, com forte participação dos setores mais marginalizados da sociedade.
Não por acaso o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, saiu em defesa de Haddad e criticou a postura de Gleisi. São as cartas se movendo. Janja deu de ombros para a crítica sutil de que estaria interferindo na nomeação de ministros. O fez como militante, para qualificar o governo com representação clara entre negros e mulheres alinhados com as ideias petistas.
Como bom enxadrista que é Lula dá gestos em direção a governabilidade, mas não desautoriza as contundentes manifestações de Gleisi em favor de políticas de enfrentamento da soberba do chamado “mercado”, de aliados pusilânimes e de militares coniventes com o bolsonarismo.
Janja, na véspera do Dia Internacional da Mulher, lançou a campanha por trabalho igual e salários iguais para homens e mulheres, bandeira cara aos movimentos sociais. Não se acanha de participar de debates em programas de televisão de grande audiência popular deixando claro seu perfil militante e sua crítica ao primeiro-damismo.
Ainda é cedo para tirar conclusões. Talvez essas forças ainda não estejam de forma consciente construindo blocos de poder. Mas a pressão dos diversos segmentos da sociedade e seus interesses está fazendo as lideranças petistas assumirem sua posição no tabuleiro de xadrez. No Dia Internacional da Mulher, dentro do PT, o partido que dá as cartas no governo, é mais que justo reconhecer o protagonismo de Gleisi e Janja.