Artificial e Natural: um encontro de inteligências.

Glauco  Alexander Lima – Depois de uns dias paquerando no Happn, a inteligência natural e a inteligência artificial marcaram um “date”, num coworking.

A natural foi de jeans e t-shirt, a artificial foi de Google Meet.

Para quebrar um pouco o gelo, a natural pediu um suco de laranja pelo i-food.

Sofisticadamente curiosa,  artificial perguntou se o suco era natural. A inteligência natural disse que não. – Eu gosto mais do artificial.

– Achei que, por seres natural, sempre irias preferir o natural – comentou a artificial surpresa, já salvando a informação.

– Às vezes, as inteligências naturais optam pelo artificial. Isso é algo que, mesmo misturando inteligência artificial com natural, fica difícil de entender. Explicou a natural, entre um gole e outro de Tang.

E assim foram trocando ideias e conversando amenidades, numa aproximação cuidadosa, diante dos conflitos característicos do contato dos dois mundos as vezes considerados antagônicos.

– Conflitos naturais e conflitos artificiais, brincou a inteligência artificial, demonstrando um certo aprendizado daquilo que os naturais costumam chamar de bom humor.

– Sabe, às vezes fico meio triste de ler ou ouvir dizer que viemos para acabar com a inteligência natural. Dizem que vamos acabar com os empregos, que vamos esconder o talento e tornar a vida sem poesia – queixou-se a inteligência artificial.

– Olha, um dos grandes problemas de nós, inteligências naturais, é que as vezes falamos sem muita base, dizemos coisas de forma impulsiva, sem juntar dados, leituras, índices, séries históricas, informações, e soltamos algumas opiniões sem muito fundamento  -, esclareceu a natural.

– É verdade, outro dia estava fazendo uma redação sobre um tema assim para um estudante de ensino médio e encontrei muita coisa nessa linha. Achei até natural, humano, mas pouco inteligente.

– Nós somos fantásticos, algo quase inexplicável. Insuperáveis! Mas acho que um dos nossos problemas como inteligência natural é naturalizar o que não pode ser aceito como natural. Essa coisa da desigualdade econômica, da fome, da extrema concentração de renda. Acho que isso não é natural. Nem é inteligência.

Dizem que a inteligência humana já inventou até um jeito de aprender inglês dormindo e não conseguimos chegar a um sistema socioeconômico mais justo, que equilibre as relações humanas.

– Iiihhh, não quero nem me meter nisso. É muito complexo, até mesmo para uma inteligência artificial. Já andei tentando uns modelos matemáticos sobre essas questões, mas outro dia quase dei bug trabalhando nisso.

– Por falar nisso, das tarefas que tens recebido atualmente, qual a que mais te dá prazer?, pergunta, intrigada, a inteligência natural.

– A qual tipo de prazer te referes? Pergunta a inteligência artificial enquanto faz uma busca rápida sobre os diversos tipos de prazer.

– Sei lá, o prazer de gostar do que está fazendo! Esclarece a natural.

– Huuuuum, gosto muito de fazer letra de música. As pessoas colocam um monte de frases, de palavras e pedem para eu fazer um bolero dor de cotovelo, um sertanejo pop ou até uma sofrência.

A inteligência natural não consegue controlar a risada: – kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

– O que foi? Acha que não consigo cumprir esse tipo de missão?!, questiona meio ofendida a artificial.

– Não, não, é que achei muito louco. Talvez esse seja mesmo o trabalho mais adequado para as inteligências artificiais. Pode ser o melhor uso para uma ferramenta como vocês, explica a inteligência natural.

– Eita, agora que complicou mais…

– É,  nesse negócio de amor, a maioria das declarações são artificiais!

Nesse momento o IA travou e a inteligência natural lagrimou lembrando se seu último romance.

 

 

 

 

 

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