Argentina: “Criptogate” agrava situação de Milei

Por Henrique Acker  – Apesar de tentar desmentir seu envolvimento direto com o programa $Libra, que promoveu uma pirâmide em forma de criptomoeda sob o pretexto de financiar pequenas e médias empresas, o presidente argentino Javier Milei jogou o país em nova crise, ao promover a ideia na Rede X, gerando perdas de cerca de 90 milhões de dólares a investidores.

A situação de Milei se agravou ainda mais depois que um vídeo bruto e não editado de sua entrevista ao Canal Todo Notícias (Grupo Clarín), que foi ao ar no dia 17 de fevereiro, vazou nas redes sociais. As ações de empresas argentinas tiveram perdas e o dólar subiu ainda mais em relação ao peso.

A juíza federal María Servini intimou os acusadores de Javier Milei a ratificar as apresentações feitas após o ocorrido com a criptomoeda $LIBRA, antes de notificar o Ministério Público para que determine se é conveniente prosseguir com a investigação contra o presidente.

 

Entrevista combinada

No vídeo que vazou com a entrevista sem cortes ao Canal TN, fica evidente que Milei combinou perguntas e falas com o entrevistador, com o objetivo de se isentar de responsabilidade no caso Criptogate.

Em diálogo com o entrevistador, o presidente afirma: “É bom que você tenha dito isso na minha qualidade de cidadão, não de presidente”. A entrevista é repentinamente interrompida. “Sim, sim, sim… para o julgamento, claro, sim, obviamente”, continua o presidente. “É claro que você pode ter problemas legais”, diz o entrevistador Jonatan Viale Jr., diz a Milei.

Viale também foi denunciado por seguir as diretrizes do Governo no diálogo. “Onde eu continuo?”, ele pergunta ao presidente. “Pergunte-me novamente sobre $LIBRA”, responde Milei.

 

Ovo podre

As oposições já se movimentam para cobrar esclarecimentos do presidente e até propor um pedido de impeachment de Milei. Blocos de parlamentares de diversos partidos se articulam para pedir a abertura de uma Comissão Investigativa no Congresso Nacional.

A ex-presidente Cristina Kirchner acusou Milei de golpista de criptomoedas e entrevistas. Cristina criticou duramente a entrevista concedida por Milei ao Canal TN, que segundo ela, foi conduzida pelos entrevistadores para evitar que o presidente pudesse ser implicado judicialmente no escândalo que ajudou a promover.

“Seu post no X não era para ajudar as pequenas e médias empresas argentinas? Ou era, na verdade, para atrair especuladores a apostarem no cassino montado por você, sua irmã e seis parceiros?”, questionou a ex-presidente.

Durante entrevista na Rádio 10, o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, disse que o tweet em que o presidente promoveu a criptomoeda “foi um esquema do qual ele faz parte” e que “já havia sido acordado há meses”.

“Eles concordaram que ele divulgaria isso em um tweet. Milei o lança, ele o inaugura”, e quando o faz “não o lança como uma criptomoeda, mas como um projeto privado para financiar” pequenas e médias empresas e investimentos na Argentina. “Primeiro ele joga o ovo podre e depois vai embora”, concluiu Kicillof.

 

Empresários pedem impedimento

Associação de Empresários e Empresárias Nacionais para o Desenvolvimento Argentino (ENAC) publicou nota exigindo o impeachment de Milei.

A organização empresarial considera que o ocorrido vai além do mau desempenho no exercício da Presidência: “Milei utilizou a institucionalidade do Estado argentino como tela para validar uma operação fraudulenta, apelando ao discurso do investimento produtivo para capturar o interesse de cidadãos desavisados”.

“Caso seja confirmado que o presidente utilizou seu cargo para promover um esquema fraudulento, estaríamos diante de um caso de mau desempenho no exercício de suas funções, o que pode levar à sua demissão”, concluiu a instituição.

Na imagem destacada, o cenário da entrevista de Milei ao Canal Todo Notícias, do grupo Clarín. (Foto: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

 

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