Aquecimento global e ganância facilitam os incêndios florestais

 

Henrique Acker (correspondente internacional) –  Nos últimos 23 anos a área de florestas consumida por fogo aumentou em cerca de 5,4% ao ano. É o que comprovam estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Maryland (EUA), a partir de imagens do satélite Landsat.

As mudanças climáticas são um dos principais impulsionadores do aumento da atividade dos incêndios. Ondas de calor extremo já são cinco vezes mais prováveis hoje do que há 150 anos e devem se tornar ainda mais frequentes à medida que o planeta continua a aquecer. Temperaturas mais altas secam a paisagem e ajudam a criar o ambiente perfeito para queimadas maiores e mais frequentes.

À medida que as queimadas se tornam maiores e mais frequentes, elas emitem mais carbono, acelerando as mudanças climáticas e contribuindo para mais incêndios como parte de um “ciclo de feedback incêndio-clima”.

Queimadas recordes estão se tornando uma tendência, sendo que 2020, 2021 e 2023 foram os piores anos para incêndios florestais globais. Cerca de 12 milhões de hectares de florestas, uma área aproximadamente do tamanho da Nicarágua, queimaram só em 2023.

 

 

Graves riscos na Zona Tropical

Nos últimos 23 anos, a perda de cobertura arbórea devido a incêndios nos trópicos aumentou a uma taxa de cerca de 9% (41.500 hectares) por ano, e foi responsável por cerca de 15% do aumento global total na perda de cobertura arbórea devido a incêndios entre 2001 e 2023.

Além das mudanças climáticas e no uso da terra, o risco de incêndios florestais na Zona Tropical é alimentado pelos eventos do El Niño. São ciclos climáticos naturais que reaparecem a cada 2 a 7 anos, causando altas temperaturas e chuvas abaixo da média em certas partes do mundo.

O desmatamento e a degradação florestal associadas à expansão agrícola provocam temperaturas mais elevadas e secam a vegetação, criando mais combustível e permitindo que os incêndios se espalhem mais rapidamente.

 

Agronegócio e Mineração

Embora os incêndios sejam responsáveis por menos de 10% de toda a perda de cobertura arbórea nos trópicos, fatores mais comuns como o desmatamento impulsionado por atividades como o cultivo de commodities (soja, carne de gado, etc), mineração predatória e a agricultura itinerante tornam as florestas tropicais menos resilientes e mais suscetíveis a incêndios.

Quase todos os incêndios que ocorrem nos trópicos são iniciados por pessoas e não por fontes de ignição natural, como relâmpagos. As condições mais quentes e secas da região,  fazem com que os incêndios fiquem fora de controle.

O aumento da perda de cobertura de árvores, devido aos incêndios nos trópicos, está causando maiores emissões de carbono. As queimadas foram responsáveis por mais da metade de todas as emissões de carbono na Amazônia brasileira nos últimos anos. Isto sugere que a Bacia Amazônica pode estar próxima ou já se encontra num ponto crítico para se transformar em uma fonte líquida de carbono.

 

 

Europa e América do Norte

A ocorrência de grandes incêndios não se restringe à África e América do Sul. Em 2021, a Rússia registrou uma perda de cobertura arbórea por incêndios de 5,4 milhões de hectares, a maior registrada no país nos últimos 23 anos. Em 2023, incêndios florestais recordes no Canadá queimaram quase 7,8 milhões de hectares de cobertura arbórea, seis vezes a média anual do país entre 2001 a 2022.

Essas mudanças na dinâmica florestal poderão transformar as florestas boreais de um sumidouro de carbono (uma área que absorve mais carbono do que emite) em uma fonte de emissões de carbono.

As ondas de calor e as secas de verão desempenham uma função dominante na atividade dos incêndios na bacia do Mar Mediterrâneo, no Sul da Europa e Norte da África. Grécia e Itália são os países europeus com maiores incidências de grandes incêndios nos últimos anos. Em 2022, o calor e a seca recordes na Espanha resultaram na queima de mais de 70.000 hectares de cobertura arbórea, a maior quantidade desde 2001.

Incêndios florestais nos EUA queimaram quase um milhão de hectares de cobertura arbórea e causaram aproximadamente US$ 3,3 bilhões em danos, em 2022. Nos EUA, as terras naturais estão sendo rapidamente convertidas em “interfaces selvagens-urbanas”, ou locais onde as casas e outras estruturas artificiais se misturam com árvores e vegetação. Isso aumenta o risco de ignição por incêndio.

 

Efeitos para a saúde

As queimadas liberam substâncias tóxicas que irritam as narinas, olhos e garganta, além de atravessarem as células pulmonares e entrarem na circulação sanguínea. Dessa forma, causam inflamações nos vasos sanguíneos, aumentando o risco de pressão alta, arritmias e até infarto agudo do miocárdio, especialmente em pessoas com problemas de saúde preexistentes.

A fumaça contém materiais tóxicos, como dioxinas e metais pesados, além de partículas finas que podem ser inaladas. Gases tóxicos, como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, também são liberados. Tudo isso causa problemas respiratórios graves, principalmente para quem já tem enfermidades pré-existentes, como doenças pulmonares e cardiovasculares.

Mas quem não tem doenças subjacentes também pode sofrer os efeitos, que incluem olhos vermelhos e irritação nos olhos, nariz e garganta.

Os especialistas aconselham evitar a exposição desnecessária à fumaça, ficando em ambiente fechado quando possível, e ao sair na rua, usar máscara (especialmente o modelo N95, que se tornou popular durante a pandemia de covid, por sua capacidade de filtrar partículas finas). Janelas e portas das casas devem permanecer fechadas. Recomenda-se o uso de umidificador, ou bacias de água e panos molhados pela casa.

 

Prevenção é determinante

Não há solução para reduzir a atividade dos incêndios sem a redução drástica das emissões de gases com efeito de estufa, visando quebrar o ciclo vicioso de incêndio-clima. Para prevenir incêndios, é preciso melhorar a resiliência florestal, acabando com o desmatamento e a degradação florestal.

É preciso avançar com a limitação das queimadas nas proximidades das florestas, sobretudo em períodos de seca. Além disso, exigir e fiscalizar a limpeza permanente e a proibição de armazenamento de combustíveis em terrenos rurais.

O acompanhamento dos dados de monitoramento pode ajudar no rastreamento dos incêndios, tanto a longo prazo quanto em tempo real, para identificar tendências e oferecer respostas mais rápidas.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

World Resources Institute

WRI Brasil

European Space Agency (ESA)

BBC Brasil

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