A imprensa local estadunidense e internacional teceu duras criticas ao presidente Joe Biden quando ele, em 18.12.22, assinou que o governo dos EUA concedia imunidade soberana ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, e governante de fato do país, Mohammed bin Salman, conhecido internacionalmente pela sigla MBS.
MBS é tido como o mandante do assassinato do jornalista do The Washington Post, Jamal Khashoggi, responsável por uma coluna no jornal americano, onde criticava acidamente as políticas sauditas, reportando-se diretamente a MBS.
O requinte de crueldade do assassinato, ocorrido no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 2018, teve repercussão mundial: Khashoggi foi morto e desmembrado por agentes sauditas em uma operação que a CIA concluiu ter sido ordenada por MBS.
Com a imunidade, MBS, que poderia ser preso caso ingressasse em solo estadunidense, passou a poder visitar livremente o país.
Os interesses comerciais dos EUA com a Arábia Saudita, o maior país árabe da Ásia e da Peninsula Arábica, o mais importante do Oriente Médio e o segundo maior país árabe do mundo, pesaram na decisão de Biden ao conceder imunidade a MBS, depois que esse foi nomeado pelo seu pai, o rei Salman bin Abdul, primeiro-ministro, adquirindo status de chefe de estado.
Na última terça-feira, 14.03.23, todavia, a agencia Bloomberg noticiou um dos valores específicos das razões do Departamento de Governo dos EUA ter concedido a imunidade a MBS, e que os analistas estão apontando como tendo sido uma das exigências do governo Saudita para realizar um negócio bilionário com uma das maiores empresas norte-americanas.
Revelou a Bloomberg que a Arábia Saudita entrará na aviação comercial internacional, com pegada suficiente para fazer frente às gigantes aéreas dos Emirados Árabes Unidos (Emirates, Qatar e Etihad). Para tal, MBS fechou a compra de até 72 jatos 787 Dreamliners da norte-americana Boeing, com os quais, até 2030, equipará a recém criada Ryiadh Air, para voar a mais de 100 destinos internacionais.
Além dos 72 Dreamliners encomendados pela Ryiadh Air, MBS determinou que a atual aérea local da Arábia Saudita, a Saudia, compre da Boeing mais 39 jatos.
A operação comercial com a Boeing foi anunciada pela Casa Branca como a quinta maior encomenda de toda a história da companhia. Calculado em US$ 37 bilhões, o negócio, segundo a Casa Branca, vai garantir cerca de 1 milhão de empregos nos EUA, ao longo de toda a cadeia de fornecedores.
Embora fechado com a Arábia Saudita, o negócio pode ser chamado segundo o jargão nacional que carimba as grandes operações, como um “negócio da China”, tirando a Boeing da crise financeira causada pelos prejuízos advindos do lançamento da aeronave 737 MAX, já resolvida tecnicamente e agora mitigada financeiramente pela encomenda Saudita.