Lula recebe chanceler russo em Brasília

O chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, está em Brasília para discutir a ampliação da atuação geopolítica do Brics e tratar da invasão à Ucrânia. Ontem, na Ásia, Lula disse que EUA e Europa contribuem para “continuidade” do conflito

 

O ministro de Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, chegou nesta segunda-feira (17), às 10h30, no Palácio Itamaraty, para uma reunião com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira. Lavrov é o mais importante porta-voz do governo russo e homem de confiança do presidente Vladimir Putin. Sua missão aqui no Brasil não é só negociar temas de interesse da Rússia, mas, principalmente, defender a narrativa de Putin em relação à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Depois da reunião fechada com o ministro Mauro Vieira, na sede do Ministério das Relações Exteriores, Lavrov participou às 11h de uma reunião ampliada com outros membros do governo e da chancelaria. Está previsto um pronunciamento a imprensa após os compromissos de Lavrov nesta manhã.

No fim da tarde, ele se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio da Alvorada.

O encontro com Lula foi adiado para às 17h e consta na agenda do chefe do Itamaraty.

A agenda oficial do encontro entre os dois prevê uma rodada de avaliação da guerra na Ucrânia, além de assuntos de interesse bilateral, como comércio, investimentos, ciência e tecnologia, defesa, cultura e educação.

O governo russo, que já conta com o apoio limitado da China, aposta na interlocução com os demais sócios do agrupamento nas tratativas internacionais para a solução da guerra em solo europeu. Do lado brasileiro o foco na Rússia está também em firmar acordos de transferência de tecnologia bélica e da área de energia nuclear. O agronegócio brasileiro também depende fortemente da importação de fertilizantes da Rússia. Dentro da estratégia de manter uma posição de neutralidade, sem provocar o parceiro russo, o presidente Lula vetou, em janeiro, a transferência para a Alemanha de munição para blindados que poderiam ser repassados para as forças ucranianas no conflito.

Na recente viagem à China, Lula e o líder chinês, Xi Jinping, reforçaram o entendimento de que os dois países não fornecerão armas a nenhum dos dois lados em guerra, e defenderam uma solução negociada para o conflito.

Enquanto isso, a Rússia busca se aproximar dos seus parceiros do Brics, tentando sair das cordas que o isolamento internacional promovido pelos aliados ocidentais da Ucrânia tem promovido.

Nas declarações dadas durante a viagem à Ásia, o presidente brasileiro deixou clara a posição do País em apoiar negociações diplomáticas para encerrar o conflito armado, chegando até mesmo a relativizar o fato de a Rússia ter rompido convenções internacionais de não agressão e de não violação da integridade territorial dos países.

“A construção da guerra foi mais fácil do que a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse Lula, em entrevista nos Emirados Árabes Unidos, no sábado, em escala de retorno ao Brasil.

No encontro com o líder dos Emirados Árabes Unidos, xeique Mohamed bin Zayed Al Nahyan, o petista voltou a criticar os Estados Unidos e a União Europeia sobre o apoio que dão à Ucrânia, incluindo o fornecimento de armas, munições e acesso a redes de comunicação por satélites e inteligência militar.

“A paz está muito difícil. O presidente Putin não toma iniciativa de paz, o (presidente da Ucrânia, Volodimir) Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra”, acusou Lula. Apesar do tom pessimista, o líder brasileiro pretende se colocar como um dos negociadores do processo de paz entre as duas nações, com o apoio da China. (Foto: Eraldo Peres/AP Photo)

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