Há 25 anos, Mercosul e União Europeia (UE) buscam fechar um acordo de livre comércio, que pode ter seu desfecho entre esta quinta (5) e sexta-feira (6), durante a Cúpula de Chefes de Estado do bloco sul-americano, em Montevidéu.
Os sinais do entendimento entre os dois lados ganhou força nesta quarta-feira (4), com a confirmação da ida da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, ao Uruguai.
O diplomata eslovaco Maros Sefcovic, que assumiu há dias como comissário de Comércio da UE, também faz parte da comitiva a caminho de Montevidéu.
Nesse tempo, muita coisa aconteceu e, recentemente, a França passou a pressionar contra o tratado entre os blocos.
As tratativas começaram oficialmente em junho de 1999, durante uma cimeira no Rio de Janeiro, mas suas origens remontam a um cenário geopolítico ainda mais antigo.
O professor e diplomata aposentado Paulo Roberto de Almeida aponta que a ideia de um acordo entre os dois blocos surgiu quando os europeus perceberam a iniciativa dos Estados Unidos de criar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em 1994, sob o governo do democrata Bill Clinton.
Frente a essa proposta, a UE buscou reforçar suas relações comerciais com a América Latina, visando consolidar sua presença no continente.
No entanto, o processo sofreu interrupções após o fracasso da Alca, em 2005.
Almeida também destaca que a oposição de líderes sul-americanos, como o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que estava em seu primeiro mandato —, o argentino Néstor Kirchner e o venezuelano Hugo Chávez, que rejeitaram o projeto da Alca, contribuiu para o desinteresse europeu naquele momento.
Além disso, pressões protecionistas, especialmente de países como a França, dificultaram o avanço das negociações, que permaneceram estagnadas até 2010.
A retomada significativa das conversas ocorreu após 2016, quando o cenário internacional mudou com a ascensão de Donald Trump nos EUA.
O republicano adotou uma postura protecionista e fragilizou o sistema multilateral de comércio, impondo tarifas contra diversos parceiros, incluindo a UE.
“Os europeus, pressionados entre o martelo americano e a bigorna chinesa, resolveram relançar o acordo com o Mercosul: [um tratado de associação] foi concluído rapidamente em 2019, por haver [os ex-presidentes] Jair Bolsonaro, no Brasil, e Mauricio Macri, na Argentina; mas não foi ratificado, justamente por pressões dos mesmos protecionistas europeus”, pontuou Almeida.
Lula viaja para Montevidéu
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca, nesta quinta-feira (5), para Montevidéu, no Uruguai, para participar da Cúpula do Mercosul.
Assim que pousar na capital uruguaia, Lula deve visitar o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica no sítio onde ele mora, em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu.
O encontro ocorre dias após a vitória do herdeiro político de Mujica, Yamandú Orsi. O presidente eleito do Uruguai esteve em Brasília dias após a vitória e foi recebido por Lula no Palácio do Planalto.
Além de Mujica, reuniões bilaterais também devem ocorrer, em paralelo à Cúpula do Mercosul. Lula pretende conversar, por exemplo, com o presidente da Bolívia, Luis Arce. Ele participa pela primeira vez do encontro, após a Bolívia ser oficializada como integrante pleno do bloco, em agosto deste ano.
No Uruguai, a expectativa do governo é finalizar as discussões para finalmente assinar o acordo de livre comércio entre Mercosul e a União Europeia (UE) . (Foto: Reuters)