Nascida em Portugal, ela veio para o Brasil fugindo da ditadura de António Salazar e adotou a cidadania brasileira em 1957
Morreu neste sábado (8), aos 94 anos, em Nova Friburgo (RJ), a economista portuguesa radicada no Brasil Maria da Conceição Tavares.
A família não divulgou a causa da morte. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon e o bisneto Théo.
Tavares é considerada um dos nomes mais importante da economia no Brasil. Com longos anos de relevante atuação no cenário político nacional, ela também era matemática, professora (FGV, Unicamp e UFRJ) e escritora.
Sempre com opiniões lúcidas e sendo uma debatedora contundente, Maria da Conceição nasceu em Anadia, Aveiro, Portugal, e foi criada em Lisboa. Inicialmente, estudou matemática na universidade da capital portuguesa e se casou durante o curso. Grávida de sua filha Laura (depois teria Bruno), se radicou no Brasil em 1954, fugindo da ditadura de António Salazar, em Portugal. Em 1957, adotou a cidadania brasileira.
Em um meio eminentemente dominado por homens, Maria da Conceição enfrentou sem medo o preconceito para ganhar cada vez mais notoriedade, inclusive com muitas aparições nos meios de comunicação.
Seu trabalho sofreu influências de outros três economistas brasileiros: Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel, todos ligados ao campo progressista, cada um à sua maneira.
Em 1974, foi presa durante a ditadura. Passou alguns dias no DOI-CODI até ser solta por intervenção do próprio general Ernesto Geisel, a pedido de Mário Henrique Simonsen, então ministro da Fazenda do governo militar.
Maria da Conceição Tavares foi filiada ao MDB, de 1980 a 1989, e ao PT, a partir de 1994 até os dias atuais (chegou a colaborar com o governo anterior de Lula PT). Foi deputada federal pelo Rio de Janeiro, de 1995 a 1999.
“A economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação”, disse
Ela sempre acreditou que a economia é indissociável do fator social, ao contrário dos tecnocratas que são adeptos apenas da frieza dos números em suas análises.
Em uma entrevista postada pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), para celebrar o aniversário da economista, ela já deixava isso muito claro.
“Economia é uma ciência social e o seu nome originário tem que ser restabelecido: economia política. Então, tem que voltar a essa ideia. Tem que aprender história. Se não aprender história, não é capaz de juntar, estatística etc. Agora, modelo matemático, realmente, pode esquecer que não serve pra nada”, afirmou.
“Isso é a primeira coisa. A segunda coisa é que não é apenas economia política. Não vale a pena ser economista se você não achar que tem que levar alguma contribuição da tua profissão, com a tua dignidade, como teu esforço, com o teu talento, para o desenvolvimento desse país”, ressaltou Maria da Conceição.
“Se você não se preocupar com o povo brasileiro, realmente, meu bem, o melhor, então, vai ser engenheiro de obra. Não aborrece, tá claro? Vai ser engenheiro, porque pra que vai ser economista? Ser economista trata de problemas sociais e políticos. A economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação, para integrá-la, para torná-la, finalmente, o sonho do Furtado (Celso)”, acrescentou a economista. (Foto: Reprodução)