Por Henrique Acker – O resultado das urnas na Alemanha indica que o próximo governo terá dificuldades em reunir consensos e comandar o país. Os 28,6% da coligação de direita CDU/CSU são insuficientes para a formação de um governo sólido, sendo necessária uma aliança com partidos de campos políticos diferentes.
Para a direita tradicional e os sociais-democratas (SPD), uma coalizão não é novidade. Será a quinta edição da chamada “Grande Coligação”, que governou o país durante metade dos anos deste século. O que mudou foi a realidade internacional e a própria situação do país, acirrando as diferenças e complicando as alianças.
SPD e CDU/CSU não têm acordo sobre a política para os imigrantes, a taxação de impostos e o salário-mínimo. Como já declarou que não vai governar com a extrema-direita (AfD), a direita terá que firmar acordos com o SPD para obter maioria.
Pressa para formar governo
Se depender do futuro primeiro-ministro Friedrich Merz (foto) a formação do novo governo não deve demorar. “Minha prioridade absoluta será fortalecer a Europa o mais rápido possível para que, passo a passo, possamos realmente alcançar a independência dos EUA”, afirmou em debate na TV após a confirmação de sua vitória.
“Eu nunca teria pensado que teria que dizer algo assim em um programa de TV, mas, depois dos comentários de Donald Trump na semana passada… está claro que o seu governo não se importa muito com o destino da Europa”, disse Merz.
O futuro primeiro-ministro sabe que os planos da União Europeia, que incluem a defesa e a recuperação econômica de seu país e da França – maiores economias da UE – não deverão contar com qualquer auxílio dos EUA e sua política de taxar produtos estrangeiros.
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Crise exige mudanças
Além dos problemas que atingem diretamente a população alemã, como o desemprego em massa, a alta do custo de vida e a divisão da sociedade sobre a questão dos imigrantes, Merz sabe que a Alemanha depende do futuro da União Europeia, abandonada pelos EUA.
A crise econômica, que arrastou o país para dois anos seguidos de déficit de seu PIB, exige um novo programa de investimentos em infraestruturas. Além disso, a OTAN pressiona por um aumento dos gastos militares de seus países membros.
O problema é que isso exigiria uma flexibilização da regra constitucional que limita o déficit estrutural da Alemanha a 0,35% do PIB. E para alterar a Constituição são necessários dois terços dos votos no Parlamento.
Pressão dos dois lados
Assim como olha para a Rússia com desconfiança e não conta com Donald Trump como aliado, o futuro primeiro-ministro alemão sabe que deverá enfrentar pressões à direita e à esquerda em seu país. Com a segunda maior bancada de deputados no parlamento, a AfD (partido de extrema-direita) quer reduzir o apoio à Ucrânia e conta com a simpatia e apoio do governo dos EUA.
Já o partido Die Linke (esquerda), que deve confirmar cerca de 9% dos votos, teve votações expressivas no Leste do país, como na capital Berlim (onde venceu), Potsdam e Leipzig, além de outras grandes cidades onde rivalizou com a AfD e obteve mais de 10% dos votos, sobretudo entre o eleitorado jovem.
Merz deve realizar suas primeiras visitas oficiais à França e à Polônia. Esta semana, tanto o presidente francês Emmanuel Macron quanto o primeiro-ministro britânico Keir Starmer terão audiências em Washington com Donald Trump.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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